Agricultura do Sudoeste: demandas e produtividade

A agricultura do Sudoeste movimenta cifras expressivas em todos os 42 municípios, sendo para boa parcela, o setor é principal gerador econômico, o que faz com que costumeiramente se escute no campo, “se a agricultura vai bem, o resto também vai.”

Tornar o trabalho nas propriedades rurais eficientes e cada vez mais competitivos, é sim, um desafio diário, assim como a rotina que se apresenta nas mais variadas cadeias deste setor.

Para se ter uma ideia, segundo os dados do Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná apresentava uma área de 14,7 milhões de hectares destinados a agricultura, que estavam distribuídos em 305 mil estabelecimentos agropecuários.

Em se tratando de número de unidades rurais por município, o Censo Agro revelou que, a maioria dos municípios do Sudoeste possuem e 1.001 a 3.000 propriedades rurais, o que pode ser analisado pela existência de um elevando quantitativo de pequenas propriedades, muitas vezes tocado como um negócio familiar.

Fato que é confirmado pelos mais recentes dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima), disponibilizados pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Inclusive, o cadastro mostra haver, 59.114 propriedades rurais no Sudoeste.

Pelos dados do CAR, Barracão, Bela Vista da Caroba, Boa Esperança do Iguaçu, Bom Jesus do Sul, Bom Sucesso do Sul, Coronel Domingos Soares, Cruzeiro do Iguaçu, Honório Serpa, Manfrinópolis, Mariópolis, Palmas, Pinhal de São Bento, Pranchita, Salgado Filho, Saudade do Iguaçu, Sulina e Vitorino, compõem a lista dos municípios com menos de 1000 propriedades rurais.

Em contrapartida, Francisco Beltrão é o município com maior número de propriedades, 4.070. Ainda integram a lista com mais de 2 mil localidades, Dois Vizinhos, Capanema, Coronel Vivida, Chopinzinho, Planalto e Pato Branco, em ordem decrescente.

Produtividade

Já com relação a produção local, os dados do Censo Agro de 2017, revelam que a região possuiu três municípios no ranking de maiores produtores de feijão de cor do estado; Pato Branco (7.375 t); Bom Sucesso do Sul (5.035 t) e Renascença (4.807 t).

Mesmo com um grande desempenho agrícola, quando da realização do levantamento por parte do IBGE, nenhum município do Sudoeste figurava entre os 10 maiores produtores de milho, soja e trigo, que são considerados carros-chefes da produção de grãos da região.

Em uma classificação a parte, e só levando em conta somente municípios sudoestinos, no que se refere a cultura do milho, Pato Branco ocupava na época do levantamento o primeiro lugar (72.852 t), seguido de Clevelândia (63.519 t) e Mangueirinha (62.542 t).

No caso da soja, Mangueirinha segue sendo o maior produtor da cultura na região (119.569 t), seguida de Clevelândia (102.260 t), Palmas (101.719 t), Coronel Vivida (86.346 t) e Chopinzinho (80.235 t).

Com relação ao trigo, a maior produtividade fica distribuída em Pranchita (13.298 t), Coronel Vivida (11.813 t), Dois Vizinhos (10.563 t), Realeza (10.493 t) e Planalto (10.154 t).

Por sua vez, na produção de uvas viníferas, na lista dos 10 mais do estado, aparecem Mariópolis (620 t); Francisco Beltrão (166 t); Enéas Marques (158 t) e Salgado Filho (141 t). Ainda Mariópolis figura no estado na produção de uva de mesa, com 294 toneladas. Enquanto isso, Palmas segue liderando na produção e maçã, com 11.215 toneladas, na época do levantamento.

A produção pecuária também foi avaliada, aqui com a ressalva de que os resultados definitivos do Censo Agro, não apontam números por município no que se refere a produção de galinhas, que na região possuem um grande impacto.

Também não há a produtividade da bacia leiteira, que nos últimos 30 anos, deu ao Sudoeste a referência de maior bacia leiteira do Paraná, passando em 2020, segundo dados da Secretaria Estadual de Agricultura (Seab), a produção de 1 bilhão de litros no ano.

No entanto, são possíveis dados como o da bovinocultura, que no momento da coleta de dados apontou Chopinzinho com o maior rebanho da região, 54.837 cabeças; seguindo de Francisco Beltrão, 50.594 cabeças e Coronel Domingos Soares, 41.150 animais.

A suinocultura por sua vez se mostrou com maior presença em Francisco Beltrão, 53.920 animais; Capanema, 48.033 cabeças; Dois Vizinhos, 40.419 animais e Itapejara D’Oeste, 32.874.

Os desafios de manter o crescimento do setor agrícola do Sudoeste

Por si só, os municípios do Sudoeste buscam medidas para estimular ainda mais o crescimento do setor agrícola. E na união de esforços, consórcios intermunicipais são realizados para situações pontuais, no entanto, quando o assunto é política pública regionalizada, a Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop) tem papel importante neste debate.

Com novas gestões municipais, ainda no fim de março, o prefeito de Vitorino, Marciano Vottri, que por formação é Engenheiro Agrônomo, foi eleito o presidente da Comissão da Agricultura e Meio Ambiente da Amsop.

Em entrevista ao Diário do Sudoeste, Vottri fala dos desafios da comissão, no fortalecimento de segmentos como da produção leiteira, de aves, produção de grãos, tudo equilibrando com as questões ambientais que são urgentes para a região.

Marciano Vottri, presidente da Comissão de Agricultura e Meio Ambiente da Amsop

O sudoeste se firmou nos últimos anos como maior bacia leiteira do Estado. O que chegou a colocar a região com a marca de produção de 25% do produto no estado, ficando à frente das regiões Oeste [21%] e centro-oriental, que engloba municípios de Ponta Grossa e Castro [16%].

Fonte de renda de muitas propriedades da agricultura familiar, o leite vem perdendo espaço, por diversos fatores. Como a Amsop pensa em estimular um novo fortalecimento desta cadeia?

Acredito que o caminho é investir em capacitação de técnicos e dos produtores.

A cadeia do leite precisa baixar custo, profissionalizar o setor para mantermos a pequena propriedade ativa.

Creio que devemos estimular alguns eixos; gestão, produção (genética e de manejo). Além de cooperação e associação, uma vez que agricultores unidos são capazes de comprar melhor e vender melhor. Além disso, podem investir em equipamentos para a melhoria e controle de qualidade. Poderão, também, contratar serviços compartilhados como o caso da assistência técnica às propriedades.

De que forma os projetos deste segmento devem ser estimulados pela Associação e consequentemente pelos municípios?

Não há como aumentar a qualidade e a quantidade de leite sem que haja um projeto de transformação e comercialização dessa produção.

Agroindústrias são essenciais, desde que haja garantia de produção e entrega da produção, por um lado, e transformação e bons preços por outro lado. O produtor sabe produzir, mas, nem sempre recebe preço justo para se sustentar me continuar produzindo.

Agroindústrias, sejam privadas ou fruto de cooperativas, são fundamentais para o desenvolvimento regional, promovendo emprego, renda e qualidade de vida. Portanto, há necessidade do envolvimento das entidades locais, bem como o apoio institucional para que elas possam se solidificar e complementar a cadeia produtiva do leite.

Vale lembrar ainda que o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), que contempla a inspeção na pequena agroindústria, oferecendo condições de quem está começando no mercado, de sair da informalidade, receber uma certificação através do Governo do Estado, onde seu produto, tem um valor agregado e ganha muita força no mercado local e regional.


Com uma bacia leiteira consolidada, a redução do êxodo rural é cada vez maior

A mecanização do campo, e principalmente em propriedades que também trabalha com grãos, o que é o caso de muitas famílias da região, o envelhecimento e o êxodo rural, somado a questão dos encargos trabalhistas são apontados como fatores que desestimulam a continuidade da produção leiteira.

Como devem ser buscados incentivos para que a região não deixe de arrecadar um valor expressivo de renda no campo, se mais famílias deixarem o segmento?

Nos últimos tempos, se perdeu a característica de agricultura familiar, como produtora de leite e passamos para o momento da agroindústria do leite. De fato a sucessão familiar está muito relacionada a isso. Uma das dificuldades hoje é a mão de obra para a cadeia produtiva do leite e o jovem em alguns casos acaba saindo do interior, deixando a propriedade em busca de uma condição melhor no ambiente urbano.

Entretanto, as políticas públicas, tanto do Estado, quanto municípios, tem direcionado seus instrumentos de fomento, atuando no sentido de conter essa mobilidade. É de extrema importância principalmente os municípios formatarem políticas públicas voltadas ao jovem agricultor e sua permanência no campo. O despertar no jovem da visão que a propriedade é viável é o maior desafio.

Muito se fala da “vocação agrícola do Sudoeste”, o que é realidade de todos os 42 municípios da região.

Recentemente vimos a luta dos agricultores para ter o direito de uma segunda safra de soja no calendário agrícola. Como a entidade pretende se firmar, para que esta nova realidade não seja revertida?

A assunto é bastante polêmico, e que deve ser analisado com muita coerência. Acredito que deve haver sempre uma integração entre a questão sanitária e a economia.

Por um lado a segunda safra representa uma grande parcela da renda da propriedade, e isso tem desdobramentos positivos como movimentação da economia, geração de renda. Mas, o quadro sanitário, biológico da lavoura precisa ser respeitado.

Então, uma situação é a força política, que a instituição tem, e ela deve ser mantida, a princípio se prezando pela preservação, mas também os critérios técnicos que devem ser analisados como instituições de pesquisa e ensino.

O uso do solo para a segunda safra precisa respeitar algumas medidas de prevenção, a exemplo de manejos, de conservação de solo e água.

É extremamente importante a manutenção da segunda safra para o Sudoeste do Paraná, mas também ela deve ser pautada em critérios. A pesquisa deve caminhar junto com a força política, para que se tenha uma segunda safra segura e sanitariamente com condições de perpetuar na região.

No campo, o desafio segue sendo o de manter a competitividade aliada as rotinas diárias

Corredor rodoviário ligando os países do Mercosul, em especial a Argentina e o Paraguai, o Sudoeste é rota de um dos descaminhos que mais cresce nos últimos anos, o de insumos e defensivos agrícolas.

Como fortalecer esta fronteira e segurança/agrícola e mostras aos consumidores finais os riscos e consequências da aquisição destes produtos?

É preciso intensificar a fiscalização e como falamos muito em sanidade, produção segura, em competitividade de marcado, e tudo isso [contrabando e descaminho], vem na contramão.

Nós não temos segurança de fazer o uso de produtos sem o registro, justamente por não termos um controle biológico de como é o comportamento desses produtos nosso ambiente.

Além de intensificar a fiscalização, precisamos coibir ao máximo através de conscientização e campanhas coordenadas pela Amsop.

O Sudoeste é notório criador de aves. Como se pode articular para garantir aos produtores deste setor a segurança produtiva, principalmente no que diz respeito a espaçamento de alojamento de aves nos aviários?

A avicultura representa um potencial gerador de renda, emprego, mas principalmente em razão em curtos espaços de tempo, ganhos efetivos em retorno tributário.

Acredito que a política de avicultura no Sudoeste, deve ser olhada com bastante atenção, e assim como qualquer cadeia de produção, a sanidade dentro da avicultura deve ser muito trabalhada.

De que forma estimular ainda mais a cadeia produtiva, que faz de Dois Vizinhos, a Capital Nacional do frango, e tem em São João e Chopinzinho um potencial agregado muito forte?

A avicultura é de grande importância para a região, pois está praticamente em todos os municípios e proporcionando renda para muitos produtores.

É uma cadeia produtiva com diversas atividades que interagem entre si e se completam. O setor tem que se desenvolver conjuntamente, produzindo todas as fases na região, evitando dependências externa.

As políticas devem atuar na solução de gargalos, como a dificuldade na entrega de ração, disponibilidade de água, trabalho com agências de fomento, possibilitando acesso ao rédito entre outras. Trabalhar com as agências de fomento, disponibilizando acesso a crédito, que são linhas de políticas pública, que são determinantes para o crescimento do setor da avicultura no sudoeste do Paraná.

Por muito tempo se falou e mais recentemente voltou a ser comentado o ICMS Ecológico. O movimento verde é cada vez mais presente e forte. Pouco são os municípios que recebem valores substanciais deste recurso, a exemplo de Mariópolis, que mantém o cinturão verde no rio que abastece Pato Branco e Mangueirinha pela área de araucárias.

Qual o desafio de estimular que mais municípios busquem este recurso?

O ICMS Ecológico é um instrumento de política pública no Paraná em 1991 e trata do repasse de recursos financeiros aos municípios que de alguma maneira detêm em seus territórios Unidades de Conservação, sejam de iniciativa pública ou privada.

O desafio é fazer com que mais municípios criem novas unidades de conservação municipais e áreas protegidas, bem como estimular proprietários privados a criarem Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN’s), além de criar mecanismos de preservação de áreas de manancial, pois os critérios utilizados para o cálculo do ICMS Ecológico recebidos por cada município levam em conta todos estes fatores.

Muitos municípios vivem uma realidade de fim de licenças para suas cascalheiras. Como deve ser este trabalho de licença ambiental?

Todos os municípios do Sudoeste são dependentes da manutenção das estradas rurais. É um grande desavio do cenário regional, a manutenção e conseguir manter em condições adequadas a trafegabilidade do meio rural, e para isso, fica dependente do revestimento primário, que é o processo de exploração de cascalheiras.

Este processo de licenciamento tem sido um pouco complexo, embora ocorreu uma portaria nova em 2020 [Resolução Sedest 02/2020], que simplifica os trâmites, não sendo mais necessário passar pelas três fazes de Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI), Licença de Operação (LO), hoje elas conseguem fazer a exploração continuada com a Licença Ambiental Simplificada (LAS). Mas a maior dificuldade hoje é o laudo geológico, o registro, junto a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Não temos profissionais na região, não temos capacidade nos municípios e acredito que uma alternativa viável, a nível de Sudoeste, seria a contratação a nível de Amsop, de um profissional, para que possa oferecer esse aporte técnico para os municípios.

Nos últimos anos se observou um elevado número de anúncios de Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs), muitas delas ainda estão em faze de licenciamento ambiental junto ao órgão estadual.

A Amsop e a Comissão de Agricultura e Meio Ambiente, podem atuar neste campo, até mesmo pensando no desenvolvimento econômico regional?

Não só pode, como deve. A produção de energias renováveis, é muito importante na nossa região. Tenho certeza que os prefeitos devem sim, lutar por esta causa em razão dos benefícios.

Temos os impactos ambientais naturalmente, mas temos muitos benefícios a nível de desenvolvimento de região e municípios. A exemplo a melhoria da qualidade de energia, no município onde se instala uma PCH, da geração de empregos, retorno de ISS [Imposto Sobre Serviços] e em um segundo momento, até mesmo a participação do ICMS Ecológico.

Portanto, a bandeira deve ser levantada para a regularização e com vistas a ampliação dessas atividades no Sudoeste.

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