Estudo promove reflexão sobre cyberbullying

Flori Antonio Tasca

O fenômeno do cyberbullying, ou seja, as agressões feitas em espaços “virtuais”, mediante aparelhos eletrônicos, ainda é recente, de maneira que as pesquisas sobre o tema se encontram em uma etapa preliminar. Em uma edição de 2014 da revista “Temas em Psicologia”, foi publicado o artigo “Compreendendo o fenômeno do cyberbullying”, de Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, que faz uma revisão da literatura científica a respeito dessa temática. Essa reflexão se mostra importante porque facilita a compreensão e a elaboração de estratégias mais eficazes para combater o problema.

O cyberbullying é um tipo de bullying que ocorre, sobretudo, por meio de celulares e da internet. As agressões podem ir desde piadas e comportamentos de humilhação até o furto de senhas e dados pessoais. Como no bullying comum, há a figura do agressor e da vítima (que pode também agredir, em resposta), além dos espectadores, o que inclui as pessoas que se divertem ou compartilham as agressões – esses são os “apoiadores”.

Esse tipo de agressão é favorecido pela noção de que o ambiente virtual é impessoal, um espaço no qual ideias podem ser livremente expostas, ditas e compartilhadas. O agressor tende a achar que nunca será surpreendido e por vezes se vale do anonimato. Na vida “virtual”, há uma dificuldade maior de conter impulsos do que no espaço real. Assim como no bullying face a face, há desequilíbrio de poder, a intenção de causar dano e a repetição das agressões. A vítima não tem para onde fugir, já que pode ser atingida por meio do seu celular, ou em sua rede social, a qualquer momento e por qualquer motivo.

Os pesquisadores observaram que não há um padrão entre os estudos a respeito da prevalência do cyberbullying. Eles ressaltaram que é necessário e urgente que sejam desenvolvidos instrumentos de medição mais afeitos à realidade brasileira. Impactos, fatores de risco e de proteção citados nos estudos também foram revisados por eles.

Uma característica interessante apontada em pesquisas trata dos motivos para que a vítima de cyberbullying não conte o que está passando aos pais. Ela pode ter medo de perder certos privilégios, como o uso do celular ou da internet. As vítimas parecem não acreditar também que os adultos sejam capazes de fazer algo. Esse distanciamento entre pais e filhos pode ser uma das consequências do desconhecimento que os adultos em geral possuem, se comparados às gerações mais jovens, do uso de tecnologias.

Entre os fatores protetivos à criança e ao adolescente está um adequado controle por parte dos pais, mas desde que não sejam adotadas posturas “intrusivas”. Pesquisadores costumam defender que a postura dos pais seja assertiva, envolvendo diálogo e negociação. Recomendar um site ao filho ou navegar com ele são ações que podem fazer com que ele gaste mais tempo com outros conteúdos na internet e assim esteja menos propenso a ser vítima de cyberbullying. O desenvolvimento de hábitos seguros em relação à tecnologia deve ser estimulado desde muito cedo. Também caberia aos pais o fornecimento de instruções precisas sobre como agir em caso de cyberbullying.

Como os pesquisadores lembraram, ainda se desconhece todas as características que o cyberbullying pode apresentar, até porque a tecnologia está sempre em movimento. Mas já se sabe que pode acarretar sérios prejuízos sociais, emocionais e cognitivos aos que nele estão envolvidos. Eles defendem que os governos e as próprias empresas do ramo da tecnologia sejam capazes de prover ações que garantam uma maior segurança ao uso por parte de populações mais vulneráveis, como as crianças e os adolescentes.

Eles também destacaram a importância para a Psicologia Clínica de se compreender os fatores de risco e proteção, bem como comportamentos relacionados ao cyberbullying. As pesquisas devem questionar e investigar os contextos de interação que os jovens vêm optando para si. À medida que a sociedade em geral adquira uma adequada consciência dos aspectos positivos e negativos da tecnologia, atitudes preventivas e intervenções mais eficazes podem ser propostas.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, [email protected]

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