O ensino formal entre duas fronteiras: presencial e remoto

Dirceu Antonio Ruaro

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Amigos leitores, tentei, no texto da semana passada dar uma possível resposta ao questionamento de um grupo de pais sobre o porquê do não retorno às aulas presenciais, em especial nas redes públicas. Entendo que, como disse semana passada, houve e há certas resistências, algumas relutâncias e, muitos desafios que precisam ser superados.

Como não poderia deixar de ser, venho acompanhando os diversos “palcos” do ensino brasileiro, desde o Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, Conselhos Estaduais, Municipais e as redes de ensino.

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Confesso que há um emaranhado de resoluções, portarias, pareceres, entre outros, que na maior parte das vezes pouco ou nada esclarecem ou direcionam as ações a serem desenvolvidas nas escolas.

Por outro lado, penso que há também, e reconheço isso com imenso pesar, “um conformismo” quase dramático por parte das escolas, desde os gestores, passando pelos professores e pedagógicos, alunos e pais.

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Já vivi períodos de total desatenção e desvalorização da educação brasileira, mas, como o que estamos passando é inédito. Mesmo que a pandemia seja esse terrível e dramático acontecimento, ainda assim, a educação deveria ter merecido muito mais atenção por parte dos diversos órgãos que a organizam no país.

Há um imenso vácuo entre o final do ano letivo de 2019 até o presente momento. Um vácuo que as autoridades tentam justificar como sendo de responsabilidade da pandemia. É claro que no ponto da infectologia, a responsabilidade pode ser da pandemia, mas no que se refere às políticas de educação e à garantia do acesso, permanência e aprendizagem, a responsabilidade é dos gestores do processo educacional em todos os níveis e modalidades.

E, posso afirmar que, na verdade o grande vácuo é de aprendizagem. Por mais que professores e alunos tentassem aprender ou fazer aprendizagem, sobre uma imensa perda. Perda essa que precisará ser, de alguma forma, recuperada ou pelo menos, minimizada.

Estamos já no início do mês de julho e, normalmente nessa época, as escolas já estariam se preparando para o descanso do meio do ano. No Estado do Paraná, nas redes públicas (estadual e municipal) houve muito pouco ou nenhum avanço na modalidade presencial até esse momento. Há, em curso, um processo de “avaliação diagnóstica” em muitas redes, para analisar o “quanto o aluno aprendeu”.

Mais do que constatar ou analisar o quanto “o aluno aprendeu”, é hora de se pensar nas estratégias de ensino aprendizagem para o segundo semestre. Há uma movimentação de pais, especialmente, que desejam o retorno às aulas presenciais no mais breve espaço de tempo. Como já defendi aqui, de fato a presencialidade é fator preponderante (não o único) para que a aprendizagem ocorra.

Por isso, há que se pensar em formar de retorno para evitar uma aceleração da pandemia, uma vez que, pelos noticiários, ela está em expansão e o quadro é preocupante para o retorno às aulas presenciais, apesar de já se ter grande parte dos professores vacinados.

É evidente que é recomendável o retorno gradual, por grupos, por alternância, considerando todos os aspectos sociais implicados no processo de retorno.

E isso, demanda a preparação não só da estrutura física, como também de pessoal, tanto pedagógico quanto administrativo, para um retorno seguro, além da necessidade de comunicação e informação muito profunda e ao mesmo tempo simples e exequível aos alunos, pais e responsáveis pelos alunos.

A experiência do ano letivo de 2020 e do primeiro semestre de 2021, mostrou claramente as duas fronteiras que temos: ensino remoto e presencial. E, essas fronteiras precisam ser superadas ou se quiserem, organizadas de tal forma que os alunos possam continuar a aprendizagem.

Nesse momento, é certo que não como retornar com todos os alunos, com cem por cento da clientela, mas se pode sim, pensar em formas de alternância e juntos, família e escola, traçar planos e estratégias para que as crianças, adolescentes e jovens possam superar as perdas que tiveram, e aqui não se fala só de perdas de aprendizagem, pois além de aprendizagem muitos tiveram perdas pessoais que não poderão ser recuperadas.

Que se pense em estratégias mais adequadas, que não coloquem crianças e/ou adolescentes quatro horas diante dos aparelhos de televisão ou computadores, mas que se possa fazer uma experiência de aprendizagem integrada, o que pode incluir o uso de dados da aprendizagem on-line para informar e orientar a aprendizagem offline, mas que não prescinde da orientação presencial do professor, mesmo que seja uma vez por semana, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei

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