Resistências, relutâncias, desafios da volta às aulas presenciais

Dirceu Antonio Ruaro

Nas últimas semanas dediquei esse espaço para uma reflexão sobre o chamado “Homeschooling”, ou se quiserem, “ensino doméstico”. Evidentemente pelo contexto de espaço o tema não foi esgotado. Respeito as opiniões contrárias as minhas, no entanto, repito:  o Brasil não está em condições de implantar uma modalidade de ensino que, pedagógica e socialmente falando, é uma modalidade que exclui, muito mais, do que inclui alunos, no sistema de educação do país.

Na semana passada, inclusive, recebi comunicações de pais de alunos de redes públicas de ensino, aqui do sudoeste do Paraná, indagando sobre questões de retorno às aulas presenciais.

Muitos pais aflitos, porque em alguns municípios, o retorno às aulas presenciais dos alunos da rede privada já está em andamento desde março de 2021.

Uma consulta de um grupo de pais me perguntava se havia “relutância, resistência, ou desafios que a rede pública, tanto do estado quanto de municípios, não conseguiam um retorno, na modalidade que fosse, parcial, grupos alternados, enfim, que as famílias pudessem sentir que os filhos estão indo para a escola e aprendendo alguma coisa.

Essa situação leva-me a pensar que, muitíssimos pais entendem que os filhos não aprenderam quase nada no ano de 2020 e temem pela continuidade de uma forma que, ao mesmo tempo que não ensina, desestimula o aluno para a vida escolar.

Esse contexto permite-me afirmar que, esses pais, pensam como eu penso: os pais (a grande maioria) não tem condições de ensinar os conhecimentos das diversas áreas para seus filhos, até porque, dominar todas as áreas do conhecimento, para ser professor, é uma tarefa inglória.

Estou me referindo, é claro, ao segundo segmento dos anos inicias da educação básica (6º ao9º ano), porque os profissionais que atuam nos anos iniciais, de alguma forma, precisam dominar os conhecimentos básicos das diversas áreas para poder ensinar do 1º ao 5º ano.

Se esse grupo de pais está com tantas dúvidas, é porque, certamente, a tarefa de ensinar a ler e escrever, talvez seja uma das ações mais difíceis para quem não tem a formação para isso. Pior, quando os pais sentem que seus filhos não aprenderam quase nada, passam o atestado de ineficiência ao sistema de ensino.

Não estou condenando ninguém, mas sabemos muito bem, como foi o ano letivo de 2020 dado ao contexto da pandemia. Sei, e como sei, que muitas escolas fizeram das “tripas coração” para manter algum aprendizado. Mas sei, também, que muitas redes, se conformaram com a situação e deixaram o barco à deriva.

Já manifestei nesse espaço minha opinião sobre o “direito à educação”, assim como o “direito à vida”. Um não exclui o outro. A saúde e a educação são direitos fundamentais, e não são concorrentes, são concomitantes e é justamente por aí que deveria ser pensado um “plano de retorno” que, de fato, trouxesse as crianças e adolescentes para a escola.

Ora, é evidente que há resistências, medos, inseguranças, tanto dos gestores quanto dos professores e de muitas famílias. Penso que quando a resistência leva em conta a questão da saúde, precisa ser considerada, mas quando é uma resistência sistemática, que não apresenta um plano alternativo, precisa ser combatida e denunciada.

Ainda, é óbvio que há relutância no sentido de hesitar, vacilar, postergar. Ou se quiserem: deixar para depois. E esse é um sentimento que os pais identificam quando a rede não se explica, quando não vem a público, quando não chama os pais para o debate.

Entendo que, quando a estrutura física não permite o retorno da turma toda, pode-se pensar em formas alternativas, de acordo com o previsto tanto nas resoluções da Secretaria Estadual de Saúde, quanto nos decretos estaduais e municipais.

Por isso, penso que não há justificativa aceitável para o não cumprimento de um direito legal, pior ainda quando esse direito está sendo “permitido” a um grupo social e não ao outro, entendem?

E é certo que há desafios. Desafios de muitas ordens: não apenas da estrutura física, como do transporte, da alimentação, do distanciamento social, do uso de máscaras, do uso dos banheiros, dos espaços escolares em geral, dos trabalhadores em educação de maneira geral. Entendo isso tudo, mas penso que já tivemos mais de um ano para que todas as redes, sejam privadas ou públicas pudessem pensar, refletir e se organizar para dar continuidade a um processo educativo que não é apenas direito das crianças e adolescentes, mas é, em última análise uma questão de saúde mental, emocional e, por que não, de desenvolvimento humano? Pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei

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