Educar ou ensinar para a vida?

Dirceu Antonio Ruaro

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No texto da semana passada, falei sobre a questão de “ensinar para a vida”. Pois bem, recebi de um leitor amigo, a quem agradeço, a questão que dá título ao texto de hoje.

De fato, insisti bastante no sentindo de “ensinar para a vida”, porém com a intenção de educar para a vida. No entanto, concordo com o leitor. O ensino é uma coisa mais “formal”, mais programada, mais objetiva, ou se quiserem: mais planejada.

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Já a educação é considerada, por muitos especialistas, como um processo contínuo, centrado, muito mais na família e nos valores.

Entendo que, na atualidade, correntes de pensadores dizem que o conceito de ensinar mudou do de “transmitir conhecimentos” para o ato de “criar condições básicas para que os seres humanos aprendam a desenvolver as relações pessoais e interpessoais, além da necessária competência e habilidade de dominar diversas linguagens, de analisar situações, de estabelecer reflexões e relações”.  Condições consideradas essenciais para que a pessoa possa tomar decisões, fazer escolhas e resolver situações problemas.

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Se o conceito de “ensinar” sofreu mudanças, tanto mais o conceito de “educar”. E esse conceito “novo” de educar para a vida, tem como agente principal a família, sobre a qual se deposita todas as expectativas da educação integral do ser humano, incluindo sentimentos, valores e formação moral.

Então se pode entender porque a Constituição Brasileira diz que a educação é de responsabilidade da família e do estado.

Até por volta dos anos 50 do século vinte, os pais exerciam sim o papel de educar para a vida, mas num sistema ainda muito patriarcal, no qual, o pai, chefe da família, era quem decidia como tudo deveria ser e como a educação poderia ser realizada na família.

Isso também mudou. Hoje pensa-se que a família é autoeducadora, que todos os membros participam da formação do caráter de seus membros. A responsabilidade de educar não é apenas do pai, até porque o modelo patriarcal, deixa ser o único, inclusive no Brasil.

Assim , a educação para a vida, que também precisa ser reforçada na escola, é de atribuição da família, cujos membros precisam convergir para um papel educativo da família, preocupado com a formação moral, com a vida em grupo, com os limites, com o respeito ao outro, com a compaixão, com a empatia e com outros valores necessários para que  de fato, se tenha uma educação que se possa chamar de “educação integral” e que se estenda para toda a vida.

Dessa forma, pode-se entender sim, que ensinar é um processo mais escolar, intencional do que a educação para a vida.

Para “educar para a vida” os pais e demais membros da família, não necessitam de uma formação específica, como também não há receitas para se educar filhos para a vida. Até porque, não há pai ou mãe perfeitos. Todos os seres humanos são imperfeitos, todos, em algum ponto precisam de aperfeiçoamento. Com isso não estou descartando a necessidade de aprender sobre temas de educação e valores da vida. Não é isso. Penso mesmo que seja necessário, de alguma forma estudar um pouco de comportamento humano para ajudar e ajudar-nos na educação de nossos filhos.

Não estou pregando que se deva buscar fórmulas de como educar os filhos. Isso não existe. O que pode dar certo para um, pode não dar certo para o outro. Vejam os exemplos em suas próprias famílias. Os pais educam dois ou três filhos da mesma maneira, porém os resultados nem sempre, ou, na maioria das vezes não são iguais.

Entendo que a preocupação dos pais é com a felicidade de cada um dos filhos. Com a possibilidade de que “se deem bem na vida”. Mas isso não é fácil. Sabemos que cada um é um mundo, cada um tem seu ritmo de desenvolvimento e compreensão das coisas.

É interessante observar e analisar o vocábulo “Educar”,  que segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, é  “ formar a inteligência, o coração e o espírito. O indivíduo educado, além de estar instruído, ensinado, é identificado como alguém delicado e cortês. Portanto, receber o ensino e o conhecimento pode dar a uma pessoa a capacidade de desenvolver e até absorver diversas atividades, conduzindo-a a realização profissional e também pessoal, porém o caráter pessoal associado à ética, a moral e aos bons costumes demonstrar-se-á através das ações se recebido e praticado a boa educação. Na interpretação do professor Rubem Alves, “educar não é ensinar respostas, educar é ensinar a pensar.”

Esse parece ser o grande desafio da família na atualidade, “ensinar a pensar”: pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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