“O primeiro passo para sair do buraco é parar de cavar”, diz economista

Em um cenário econômico caótico, de pouca tração econômica, inflação alta, renda baixa e sem perspectiva de melhora a curto prazo, chegou a hora de melhorar a relação com o dinheiro

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A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou, no início do mês, que o endividamento das famílias brasileiras atingiu 77,7%, nível recorde em abril de 2022. Assim também ocorre com a inadimplência, que chegou ao patamar mais alto desde o começo da série histórica, iniciada em 2010, alcançando 28%, sendo que 11% afirmam não ter condições de sanar a dívida.

Neste contexto, o brasileiro se depara ainda com a primeira vez, desde o lançamento do Plano Real, que um governo fecha seu mandato com Salário Mínimo valendo menos do que quando assumiu. Outro dado importante é que a renda média dos trabalhadores chegou ao menor nível na série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em 2012. Em 2021, ela foi de R$ 2.447. A média anual de 2020 tinha sido R$ 2.587.

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Com isso, conforme cálculo apontado por Sergio Lamucci ao podcast O Assunto, atualmente sobram apenas R$ 74 do Salário Mínimo após a compra de uma cesta básica, e pela prévia do IPCA-15 deve sobrar ainda menos nos próximos meses.

Conforme o Dieese, o Salário Mínimo no Brasil, reajustado conforme o poder de compra, deveria ser de R$ 6.754,33, cinco vezes o valor atual, para uma família de quatro pessoas. É também o maior IPCA em 27 anos. No acumulado de 12 meses, a inflação atinge 12,13%, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só neste ano de 2022, o IPCA acumula alta de 4,29%. Para conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic de 2%, em maio de 2021, a 12,75%, em maio de 2022, aumentando também os juros.

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É essa pouca tração econômica, inflação alta e renda baixa que deixa as famílias em situação de abrir mão de parte do consumo – as que ainda conseguem consumir – para pagar as dívidas. No entanto, priorizar o pagamento de dívidas prejudica ainda mais a retomada da atividade no país.

Como saber se estou endividado?

Uma família endividada é aquela que deve um valor que precisa ser pago em algum momento futuro, como no caso de compras no crediário, parcelamento de cartão de crédito, empréstimo ou financiamento de imóvel ou veículo, algo que compromete certo valor da receita familiar por um tempo. Hoje, a maior fonte das dívidas é o cartão de crédito.

Com a inflação alta e a renda caindo, fica cada dia mais difícil de pagar as contas, inclusive os gastos básicos.

É hora de renegocias as dívidas?

Conforme o economista Roger Alexandre Rossoni, que possui mestrado em gestão e desenvolvimento regional, é especialista em investimentos certificado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e atualmente é gestor de projetos na Viasoft e sócio na Aplanar Consultores, é preciso ter uma visão clara das taxas que estão sendo praticadas nos empréstimos contratados, assim como dos indexadores e de qual a proposta do empréstimo. “O primeiro passo para saber se vale a pena renegociar é levantar todas essas informações e ir a mercado buscar as melhores propostas de crédito disponíveis”, recomenda.

Ele explica que, mesmo com aumento na taxa de juros, que tornou o crédito mais caro, dependendo das condições de contratação que foram feitas no passado vale a pena buscar alternativas de renegociação. “Um caso comum são os de pessoas que tomaram empréstimos indexados ao IPC ou IGPM, que nos últimos meses acumulados subiram expressivamente. Isso levou a um custo de operação extremamente elevado. Neste caso, migrar para um outro tipo de operação que seja prefixada ou atrelada ao CDI transfere esse risco, indexando a outro indicador”, exemplifica.

Rossoni diz que não se pode ter preguiça de conversar com gerentes e instituições para buscar as melhores condições de crédito, que variam muito de entidade para entidade e também pela questão de relacionamento. “O crédito mais acessível, como o limite do rotativo ou cartão de crédito, geralmente possuem as taxas de juros mais caras. Buscar operações com condições melhores vale a pena”, diz.

E seu eu precisar de um empréstimo?

Em termos econômicos, o único empréstimo que faz sentido é aquele que se consiga rentabilizar acima do custo do crédito, que é são os juros. Por exemplo, ao comprar um carro, se esse veículo for utilizado para trabalho, gerando uma renda e remunerando de fato os juros. O mesmo é válido para empresas que vão financiar máquinas para otimizar a produção. “De maneira geral, minha sugestão é: evite dívidas, mas, se precisar fazê-las, busque as melhores opções. Limite de conta, cartão de crédito não são boas escolhas. Elas estão muito à mão, são de muito fácil acesso, mas são opções extremamente caras. Sente com seu gerente de contas, entenda as possibilidades”, indica.

Não consigo pagar minhas despesas mensais, e agora?

“O primeiro passo para sair do buraco é parar de cavar”, diz Rossoni. Por isso, o economista indica que a primeira coisa a se fazer é colocar tudo no papel: quanto de recurso você tem, quais são as suas dívidas, o quanto custa essa dívida e o que está relacionado a essa dívida. “É preciso entender quais são suas dívidas, o que você tem de patrimônio, o seu orçamento. Se você está gastando recorrentemente acima do que você ganha, não há milagre para sair do endividamento. É preciso parar de gastar mais do que ganha”, destaca.

Assim, é essencial entender o que de fato é supérfluo e o que não é, cortar o que for possível e, o que não for possível, caso você verifique que não o que fazer em relação a cortes, priorize pagar as dívidas que são de fato mais importantes ou que tenham menor custo. Aluguel, por exemplo, é uma dívida prioritária, já que garante a moradia. “No caso de escolher entre pagar a parcela de um empréstimo ou o cartão de crédito, os juros do cartão são muito mais elevados, pode fazer sentido priorizar essa dívida que vai ficar ainda mais alta com o atraso”, alerta. “Organize o orçamento, trace metas de gastos e só então comece a pagar as dívidas, priorizando as mais importante e com juros mais altos.”

Sobrou uma graninha, qual o melhor investimento no cenário atual?

Com a Selic alta, o dinheiro acaba se tornando mais caro. “É uma elevação que atinge todas as taxas de juro, inclusive na renda fixa. Então, para quem hoje pretende começar a investir e não tem grande conhecimento na área, a renda fixa está sendo bem atrativa”, diz Rossoni. “Há rendimentos pagando mais de 1% ao mês.”

No entanto, o economista alerta que é preciso entender que o investimento é o meio e não o fim, sendo que a melhor opção vai depender de qual é objetivo desse recurso. Para Rossoni, é preciso levar em conta condições como o risco, liquidez e prazo de vencimento, por exemplo se a pessoa quiser ter esse recurso disponível para retirada a qualquer momento. “Se é um dinheiro de reserva de emergência, não faz sentido fazer um investimento no qual esse dinheiro oscile, isso não faz muito sentido. Por isso, a primeira coisa a se perguntar sobre investimento é o motivo pelo qual se está investindo. Investimento é o meio, não o fim. A partir do porquê e do nível de conhecimento do investidor é que se começa a traçá-lo”, acredita.

Relacionamento saudável com o dinheiro

Para o economista, é muito importante que as pessoas aprendam a lidar bem com dinheiro para que consigam tomar decisões certas e viver uma vida mais plena e feliz. “Cada pessoa prioriza algo diferente: experiências, conhecimento, viagens, conforto. A ideia é maximizar o bem-estar no fim do mês, usando o orçamento disponível da melhor forma possível, tanto no curto quanto no longo prazo”, finaliza.

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