Mães acolhedoras – Amor de mãe para filhos temporários

Ser mãe acolhedora é cuidar, temporariamente, de crianças ou adolescentes que passam por momentos de vulnerabilidades e precisam encontrar vínculos afetivos em outras famílias.

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No sentido figurativo da palavra, mãe é quem oferece cuidado, proteção, carinho ou assistência a quem precisa. Há diversos formatos de relacionamentos entre mães e filhos que vão além do tradicional laço biológico. O amor de mãe está presente nas adoções, nas criações de avós que, por algum motivo, assumiram o papel, e também nas mães acolhedoras, que disponibilizam suas casas e garantem proteção e acolhimento para crianças ou adolescentes que passam por momentos de vulnerabilidade e estão sob proteção do Estado.

Ser uma mãe acolhedora é possível através Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, disponível em diversos municípios, onde o principal objetivo é manter o convívio familiar e comunitário de crianças ou adolescentes que passam por situações de risco e que estão sob guarda do Estado provisoriamente, ou seja, o acolhimento familiar é uma forma de receber sob guarda uma criança ou adolescente baseada na transitoriedade, na corresponsabilidade, confiança e afeto.

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Com isso, a mãe acolhedora passa a exercer o importante papel provisoriamente, até que a situação se regularize e a criança possa retornar para sua família de origem ou, em caso de decisão judicial, seja encaminhada para adoção.

De acordo com a psicóloga e responsável técnica pela implantação do serviço de acolhimento em família acolhedora de Pato Branco, Sarah Cristina Kusma da Luz (mãe de Rebecca, 5 anos e Benjamin, 3 anos), para ser uma mãe acolhedora é preciso ter predisposição e compromisso em acolher alguém, criança ou adolescente e estabilidade emocional para lidar com a despedida no fim desse período, “porque quando falamos de provisoriedade, falamos em receber alguém por período determinado, cuidar, amar e depois se despedir dessa pessoa”.                                   

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A psicóloga cita que é necessário muita flexibilidade e vontade de aprender por parte da mulher e também dos outros integrantes da família, pois há uma tendência a estruturação de rotinas e regras de convívio por todas as partes. “Acima de tudo, ser mãe acolhedora é dar oportunidade de convivência familiar e comunitária para uma criança ou adolescente com os vínculos rompidos, que precisou ser retirado da família de origem. Por isso, a mãe acolhedora deve fornecer amor, doando-se e ajudando a construir um futuro melhor para esse ser humano, através da convivência em sua família”, destaca, referindo aos benefícios fornecidos pela mãe acolhedora para a criança envolvida.

Outro benefício citado pela responsável técnica é sobre a necessidade humana em viver dentro do convívio familiar, “pois somos seres criados para viver em comunidade e os vínculos rompidos geram consequências intensas para o ser humano”.

“A mãe acolhedora, quando aceita receber uma criança ou adolescente dentro de sua casa, possibilita que a pessoa crie vínculos, cooperando com o seu desenvolvimento integral, porém, essa convivência é provisória e a família precisa entender que o compromisso tem data para acabar, sendo necessário cuidar e proteger durante o período definido pela justiça e deixar a criança seguir seu futuro ao final do prazo”, explica.

Sarah destaca que a necessidade de estar emocionalmente estável para fazer parte do programa acolhedora é um item extremamente necessário, para que a mãe possa criar o vínculo de apego com essa criança ou adolescente e no momento oportuno possa desapegar-se para que a criança siga com sua vida. A profissional também afirma que não é permitido o cadastro no programa por parte de famílias que tem intenção de adotar. “São procedimentos diferentes, quando falamos em adoção, um processo judicial é realizado e o filho se torna daquela pessoa, é irrevogável. Não se pode confundir as duas coisas, pois nunca uma família acolhedora vai poder adotar a criança acolhida que, ao final do período, poderá retomar para sua família de origem”.

Desafios da mãe acolhedora na criação de vínculo

O desafio de receber uma pessoa até então desconhecida em casa é muito grande, já que se faz necessário um processo de adaptação no ambiente familiar para que essa criança se sinta acolhida e a vontade. “É importante ter disponibilidade emocional e bastante tempo para resolver as situações geradas pela entrada do novo integrante na família”, fala Sarah, ao apontar que situações novas e desconhecidas causam desconforto ao ser humano.

A mãe acolhedora precisa lidar com o lado emocional da situação de todos os envolvidos, precisando se preocupar com a criação do vínculo familiar. “Muitas pessoas questionam, pois tem medo de criar o vínculo e depois desvincular. É preciso entender que o vínculo emocional não é um problema, ele é uma solução para essa criança ou adolescente que foi retirada de sua família, está fragilizada pela situação e precisa de alguém para suprir essa demanda. Uma criança saudável vai estabelecer vínculo onde quer que esteja, o problema é quando isso não se estabelece”.

A necessidade de estabelecer essa conexão emocional é válida principalmente para a criança ou adolescente que acabou de chegar e a mãe acolhedora é uma das figuras essenciais para que se desenvolva o sentimento de carinho, afeto e muita clareza para viver as experiências do período, cita a psicóloga, afirmando também que “a vida da criança está acontecendo e o que vemos são crianças privadas de viver experiências saudáveis, de afeto, aprendizagem, crescimento e a mãe acolhedora, junto com sua família, vem suprir essas necessidades”.

Trabalho social com crianças e famílias

A mulher que se disponibiliza a se tornar uma mãe acolhedora está prestando um serviço social e se doando para auxiliar a criança ou adolescente, ajudando a sociedade através do cuidado e proteção de alguém que necessita se desenvolver de maneira saudável, “então esse é um trabalho social muito bonito, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Constituição Federal, para viver em família e comunidade. Dessa forma, entende-se que a mãe acolhedora participa da construção de um ser humano e cidadão”, comenta Sarah.

A responsável técnica do programa aponta que marcas importantes são deixadas tanto na mãe acolhedora quanto na criança e em ambas as famílias. “Não há como medir o impacto da oportunidade, proteção e experiências positivas”.

Despedida

O momento de despedir-se da criança após a convivência familiar e todos os vínculos estabelecidos pode ser desafiador para todas as partes envolvidas. A psicóloga afirma ser melhor “não criar expectativas e entender que o acolhimento tem um começo, meio e fim, da mesma forma que outras situações e vínculos”.

Para auxiliar nesse momento, Sarah afirma ser essencial vivenciar experiências durante a estadia para que, ao final, todos possam se lembrar dos momentos bons, “é nesse sentido de saber que tem um fim e aproveitar o durante, sabendo que sentirá muita saudade no final”.

Ela lembra que a experiência de oportunizar um desenvolvimento saudável é o principal motivo para que a mãe acolhedora se sinta bem sobre o assunto e ainda ressalta que, no caso de acolhimento familiar, o adeus não precisa ser definitivo. “Os vínculos afetivos são benéficos e a despedida vai causar desconforto, porém, é preciso pensar que essa criança vai para uma situação melhor, seja com sua família ou através da adoção, tendo a mãe acolhedora feito sua parte e podendo se tornar amiga daquela criança, criando oportunidades de convivência ao longo da vida”, finaliza.

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