O caso é uma vergonha para Orban, um nacionalista de direita cujo partido Fidesz defende sua visão dos valores tradicionais cristãos e familiares e fez campanha contra a comunidade LGBT do país. Orban disse ao jornal Magyar Nemzet que as ações de Szajer eram “indefensáveis”. “Ele tomou a única decisão apropriada quando se desculpou e renunciou ao cargo de membro do Parlamento Europeu e deixou o Fidesz”, disse Orban.
A notícia de que um aliado próximo de Orbán foi preso em uma orgia gay, em Bruxelas, cidade que passa por um confinamento por causa da pandemia da covid-19, foi usada pela oposição e pela imprensa da Hungria como exemplo da hipocrisia do governo que ataca os direitos da comunidade LGBT.
A renúncia de Szajer, que era líder do partido de extrema direita Fidesz, à cadeira do Parlamento Europeu pode enfraquecer a posição da Hungria que, com a Polônia, atrasa a aprovação do orçamento da União Europeia (UE) - os dois países se recusam a acatar a cláusula que atrela liberação de verbas do bloco para conter a crise causada pela pandemia às boas práticas democráticas e do estado de direito.
“A renúncia de Jozsef Szajer”, um grande conhecedor dos labirintos do Parlamento Europeu, onde ele ocupava uma cadeira desde 2004, “enfraquecerá a posição de Orban” na próxima cúpula da UE, considera o cientista político Zoltan Lakner, editor do semanário Jelen.
Szajer admitiu ter participado do que a imprensa belga descreveu como “orgia”, em que estavam “25 homens nus”, o que viola as normas sanitárias vigentes no país. O seu partido reagiu de forma lacônica ao dizer que “Jozsef Szajer tomou a única decisão possível”, ao se referir a sua renúncia do Parlamento Europeu.
O site independente húngaro Telex afirmou que o problema de Szajer “é a mentira, a desonestidade”. O Fidesz, lembrou o veículo de imprensa, “ataca as minorias sexuais húngaras, alegando que protege a ‘normalidade'”.
“Enquanto ele (Szajer) está se divertindo em uma Bruxelas aberta para LGBTs, ele torna a vida de seus pares LGBT na Hungria uma miséria ao alterar a Constituição”, tuitou Szabolcs Panyi, jornalista investigativo do Direkt36.
Tunde Hando, a mulher do político de 59 anos, integra o Tribunal Constitucional e chefiou o Gabinete Judicial Nacional entre 2012 e 2019.
Jurista, Szajer gosta de se apresentar como um dos arquitetos da Constituição húngara de 2011, após o retorno ao poder de Orbán. O texto inclui artigo que define “a instituição do casamento como a união entre um homem e uma mulher” - na ocasião, o partido de Szajer disse que o governo defendia os “valores cristãos”.
Posição ‘enfraquecida’
Durante a batida policial, o ex-deputado tentou fugir entrando em uma sarjeta, mas foi capturado. Em sua mochila, a Promotoria de Bruxelas diz ter encontrado ecstasy em quantidade não especificada. Szajer negou usar drogas e disse que se ofereceu para fazer um exame toxicológico no local, mas a polícia não o fez. “A polícia disse ter encontrado pílulas de ecstasy. Não eram minhas, não sei nada de quem as colocou lá ou como. Eu disse isso à polícia”, disse ele, em nota.
Para a oposição húngara, o comportamento do aliado de Orbán “zomba” dos preceitos morais defendidos pelo governo. “Enquanto os políticos do Fidesz nos ensinam sobre o cristianismo e a família, eles levam uma vida completamente diferente”, disse o ex-primeiro-ministro de esquerda Ferenc Gyurcsany nesta quarta-feira, 2. (Com agências internacionais)
