Desafios no manejo de espécies infestantes: Parte 2 – análise dos sistemas de manejo

Michelangelo Muzell Trezzi

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Na primeira parte do artigo, procuramos dimensionar o impacto negativo causado pelas espécies infestantes no Brasil. Nesta segunda parte, analisaremos criticamente a evolução das tecnologias utilizadas nos últimos anos (ondas tecnológicas) para a resolução dos problemas.

O manejo de plantas daninhas acompanhou as diversas “ondas tecnológicas” pelas quais passaram os sistemas agrícolas brasileiros nas últimas décadas. Na primeira onda, nas décadas de 70 e 80, o sistema de plantio convencional era predominante nas áreas e eram utilizados para o controle de plantas daninhas, herbicidas incorporados ao solo ou pré-emergentes. Outras práticas, como as capinas tratorizada e manual eram usadas com frequência nas lavouras. A segunda onda, iniciada entre meados da década de 80 e princípio da década de 90 foi marcada pela intensificação do plantio direto e lançamento de herbicidas pós-emergentes (muitos inibidores da ALS e ACCase). Seu uso intensivo, somado ao abandono de outras práticas desencadeou, em meados dos anos 90, os primeiros casos de resistência esses herbicidas na região e no Brasil.

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No período entre 2000 e 2005 houve a introdução de cultivares de soja resistentes ao glifosato (RR), iniciando a terceira onda (biotecnológica). A tecnologia RR foi rapidamente e massivamente adotada, pela elevada eficiência sobre plantas daninhas selecionadas na década anterior, provocando simplificação do manejo e uso intensivo do glifosato. Avanços na área de biotecnologia somados a dificuldades para lançar novos herbicidas impulsionaram novas cultivares tolerantes, aos herbicidas inibidores da ALS (sistemas STS, Clearfield e Cultivance) e ao glufosinato de amônio (tecnologia LL). Em 2021 chegaram aos agricultores as cultivares Enlist e Xtend, tolerantes a vários herbicidas simultaneamente.

As cultivares tolerantes a herbicidas, em geral, oferecem maior gama de opções, pois aumentam a segurança da aplicação de herbicidas impossíveis de usar em cultivares convencionais. Porém, seu uso inadequado levou à intensificação do uso de herbicidas, desencadeando, em 2003, o primeiro registro de resistência ao glifosato no Brasil e, passadas duas décadas de uso da tecnologia RR, a resistência ao glifosato e inibidores da ALS soma o maior número de espécies resistentes no país, incluindo muitas com resistência múltipla e com dispersão em todo o Brasil.

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A adoção massiva de uma única estratégia não é garantia de sucesso no manejo de plantas daninhas, pelo contrário, tem potencial para selecioná-las. Problemas complexos devem ser resolvidos com diversificação de estratégias, produzindo maior sucesso econômico, ambiental, e prevenindo a resistência simples e múltipla. Sistemas “inteligentes” de sucessão e rotação de culturas agregadores de palha e que não deixam “brechas” de pousio, aliados ao uso de herbicidas, são considerados hoje o principal avanço no manejo de plantas daninhas, pela eficiência preventiva e curativa.  Estratégias “inteligentes” também propõem uso das novas tecnologias de forma racional. As novas cultivares Enlist e Xtend possuem tolerância a mais de um herbicida, permitindo a sua alternância, chave na prevenção da resistência, o que deve ser executado pelos agricultores.

Com o decorrer dos anos, muitos agricultores passaram a depositar todas as fichas nos herbicidas, e assim muitas ferramentas efetivas (preventivas, mecânicas, culturais) deixaram de ser utilizadas. A retomada de algumas ferramentas “abandonadas” e a intensificação das pesquisas para aperfeiçoar velhas e desenvolver novas ferramentas é fundamental para a definição das estratégias para uso de forma integrada.

 Apesar das orientações da pesquisa e extensionistas, as decisões dos agricultores continuam tendo caráter imediatista, pois muitos optam apenas por opções de custo mais baixo e mais fácil execução. Porém, tanto o número de soluções disponíveis, quanto o nível de complexidade dos problemas de plantas daninhas exige aumento do profissionalismo, incluindo controle e planejamento adequados. Portanto, focar na orientação técnica e em ações de capacitação, aumentando o fluxo de informações, é fundamental para os avanços nessa área.

Professor da UTFPR, Campus Pato Branco

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