Escola tem papel no Cyberbullying

Flori Tasca

Embora a agressão virtual, ou cyberbullying, possa ocorrer fora do colégio, geralmente ela envolve estudantes. A tendência é que tanto o agressor quanto a vítima da violência por meios eletrônicos sejam os mesmos personagens da violência presencial. Em razão disso, um estudo publicado em 2013 pela “Revista Integra Educativa” busca reconhecer a importância da escola como agente protetor ou de risco para o cyberbullying escolar.

De autoria de Alejandro Castro Santander, o estudo “Formar para la ciberconvivencia – Internet y prevención del ciberbullying”, de caráter global, ressalta que a maior parte dos episódios de cyberbullying ocorre entre amigos, ex-amigos e colegas de classe, não sendo habitual que ocorra entre desconhecidos. É por uma relação de amizade anterior que se tem o conhecimento de como fazer dano à vítima. Pesquisas indicam que em mais da metade dos casos se trata de um bullying presencial que se estende para o ambiente virtual. E os próprios professores podem ser vítimas desse tipo de agressão, normalmente como uma consequência de algum incidente que tenha ocorrido com o aluno agressor na escola.

O autor entende que seria importante que também o cyberbullying pudesse ser visto como um subtipo de violência próprio e da responsabilidade da comunidade escolar. E o combate a esse tipo de agressão deveria ser acrescentado às normas da instituição. A escola deveria deixar claro que não tolera situações de abuso, maltrato e humilhações, tanto nas aulas como em qualquer outro espaço, real ou virtual, de interação dos alunos. As testemunhas do bullying virtual também poderiam ser educadas no sentido de não incentivar as agressões, mas, pelo contrário, denunciar os abusos que observarem.

Mesmo tendo isso em mente, não se pode ultrapassar a linha que protege a privacidade do aluno. A internet se transformou em um grande desafio educativo e o autor procurou também analisar as condutas adequadas em ambiente virtual. As famílias desempenham papel fundamental no processo, sendo que na origem tanto das condutas excessivas como dos “vícios” em internet costumam estar famílias que não assumiram as suas responsabilidades. O autor lembra que simplesmente proibir o acesso aos meios eletrônicos não é a solução, mas defendeu uma maior assistência por parte dos pais.

Isso se torna importante porque, do contrário, criaremos gerações subdesenvolvidas na área socioafetiva, com poucas habilidades de interação, além de portadoras de uma série de condutas patológicas relacionadas ao uso excessivo ou inadequado da internet. As consequências disso poderão ser sentidas também na escola. O cyberbullying também é associado ao suicídio, embora raramente seja o único fator envolvido. Trata-se, de toda forma, de um problema grave que demanda a atenção de todos os envolvidos. O autor se dedicou a criar uma lista de orientações para quem for vítima de cyberbullying.

A primeira é pedir ajuda aos pais ou a uma pessoa adulta de confiança. Outra orientação é nunca responder às provocações. Também se deve manter uma margem de dúvida, pois talvez nem as circunstâncias e nem as pessoas envolvidas sejam o que parecem ser. Deve-se ainda evitar as situações em que se é hostilizado, até para que a situação fique mais clara. Se a agressão for por meio de rede social, não acessá-la. Se for pelo celular, considerar trocar o número. O autor citou ainda uma série de medidas para que a vítima possa preservar as suas informações, pois assim ficaria menos vulnerável às agressões.

Isso vai desde trocar as senhas até reconfigurar as opções de privacidade das suas redes sociais. Também pareceu importante ao autor guardar as provas da agressão, seja qual tenha sido a forma utilizada. Pode-se ainda fazer com que os agressores fiquem cientes de que aquilo que estão fazendo é contra a lei. E se, mesmo assim, a agressão continuar, pode-se demonstrar que se está disposto a apresentar uma denúncia, e fazê-la de fato.

Também foi destacado que existem elementos da convivência escolar que devem ser priorizados, como as relações interpessoais de qualidade, o processo educativo, a gestão da disciplina e da convivência e a prevenção da violência. As ações de prevenção ao cyberbullying devem fazer parte de um programa escolar de intervenção mais amplo. Mas, como as formas mais eficazes de prevenção à violência devem ser iniciadas ainda na primeira infância, deve-se pensar em estratégias voltadas para os pais, capacitando-os sobre o funcionamento do espaço virtual, visto pelas crianças com mais naturalidade.

São aspectos que o autor considera necessários para exercer uma cidadania digital responsável.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná. [email protected]

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