“Dezembro vai, janeiro vem, o tempo passa veloz como um trem, no rádio a notícia, um amigo se foi, atrás dos mistérios que sempre buscou, mais uma pra estrada, mais um fim de show, ao som das guitarras do bom rock ‘n’ roll. O tempo traz suas lições, e as grava em nossos corações, contando a história, assim como foi mostrando os caminhos que irão nos levar, como se fosse o rio correndo pro mar, como se fossem pedras no rio a rolar. Assim os dias passarão, virão as novas gerações, outras perguntas, prováveis canções, outro mundo, outra gente, outras dimensões, e na hora marcada, em algum lugar, uma estrela virá pra lhe acompanhar”. Essa é daquelas canções que quando ouvimos, ela nos atinge em cheio, foi feita para cada um em particular, uma música assim só poderia mesmo ter sua origem em dois gênios seminais da música brasileira, Almir Sater e Renato Teixeira.
Dois mil e vinte e dois, é mais um daqueles anos que dificilmente esqueceremos, apesar de todo o otimismo anunciado, pairam nele muitas incertezas, verdade é que muitas das nossas crenças não são assim tão sólidas, nossos telhados são de vidro muito fino, que quando são quebrados, não demora muito para sermos sufocados por tantas coisas que julgávamos não fazerem mais parte das nossas vidas. A realidade é muito mais cruel do que imaginamos. Mal dois mil e vinte e dois começou, explodiu uma guerra maldita na Ucrânia, quase um ano depois, nada foi feito de concreto, além de mais e mais envio de armas a esse país, uma cegueira, uma mudez, um dar de ombros que nos atinge em cheio quando se toca nesse assunto; a covardia dos principais líderes mundiais em dar um basta a essa violência e outras mais é algo estarrecedor, são tão criminosos quanto o líder russo.
Dois mil e vinte dois fica também marcado na sociedade como sendo aquele tempo que estamos muito lentamente saindo da pandemia, se é que estamos de fato saindo, uma marca profunda em nossas vidas, para muitos ela ficará gravada para todo o sempre, tantas restrições, milhares de vidas inocentes perdidas, uma doença “inexplicável”, pois até agora milhões de elucubrações foram dadas, mas nada foi dito com clareza, cada um a seu modo sabe algo sobre ela, faz a sua teoria, o seu diagnóstico. O certo é que num piscar de olhos, o vírus invisível colocou o mundo de joelhos, todas as nossas certezas foram colocadas contra a parede, tudo aquilo que até então era considerado inabalável foi parar no ralo da nossa insignificância e pequenez; duramente aprendemos que nesse tsunami viral somos apenas um grão de areia; não sabemos o que virá pela frente, mas o que aí está é grave.
Dois mil e vinte e dois foi no Brasil um ano marcado por muitos tipos de intolerância, muita violência, descasos, afrontas aos direitos mais elementares de todos os cidadãos, um sem número de feminicidios, muitos deles mostrados ao vivo por diversos canais televisivos, desemprego, fome, essas e tantas outras situações que não foram resolvidas, muitas inclusive varridas para debaixo dos tapetes, o que demonstra que ainda o Brasil não é um país sério quando se trata de defender o seu povo. Um ano marcado politicamente e também pela trágica participação do futebol brasileiro na copa do Catar, deixando milhões de torcedores de queixo caído, nossas crianças chorando, pedindo explicações aos pais e esses sem entender coisa alguma; nosso querido Brasil gosta de chocar todas as esferas, sejam elas nacionais ou internacionais, aqui prometemos demais e cumprimos de menos.
Dois mil e vinte dois também será aquele ano sempre lembrado pelo desrespeito ao meio ambiente, o clima nosso de cada dia cada vez mais violentado, o improvável sempre acontecendo, pregando suas peças, por onde passa um rastro de destruição e morte sempre deixa um gosto amargo nos que aqui ficam para remontar os cacos de uma mosaico já muito desfigurado. Nosso Planeta, nossa casa comum pede socorro, lança sinais, emite gritos, brada para todos os lados, mas parece que estamos surdos, cegos, mudos, todos caminhando numa única direção que não é aquela que poderá nos salvar, cegos guiando cegos, poderemos cair no precipício se continuarmos com o atual ecocídio. Ao invés de nós usarmos nossas capacidades para reconstruirmos juntos a casa que nos abriga, delegamos essa tarefa para máquinas que estão mais preocupadas em separar e dividir, do que unir.
Bioeticamente, também o ano de dois mil e vinte e dois foi aquela única ocasião para muitas mudanças boas, quantos seres humanos repensaram seus estilos de vida, suas condutas para com as outras criaturas, para com o meio ambiente, para os relacionamentos pessoais, mudanças assim são quase sempre feitas no silêncio, descaradamente imperceptíveis aos olhos da grande mídia. Dois mil e vinte e dois produziu frutos, novas vidas chegaram para colorir ainda mais nossos ambientes, daqui uns anos essas novas vidas nascidas agora serão a geração futura, nela depositamos nossas esperanças, nossos sonhos, os nossos melhores sentimentos. Está provado que tudo que plantamos, colhemos, por outras palavras, fica claro que ódio gera ódio, vingança gera vingança, mentira gera mentira e por aí se vai; usar os outros como meio para atingir fins pessoais sempre acaba mal. Nem tudo aquilo que seguimos cegamente é infalível, muitos discursos não são perfeitos, os que chamamos de heróis também erram; mesmo assim vamos sempre confiar.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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