Prosseguimos, neste artigo, nossas catequeses sobre os sete pedidos contidos e ensinados na Oração do Pai-Nosso. Nunca é demais dizer aos nossos leitores que é possível pela oração de Jesus criarmos um projeto de vida espiritual, isso pode ser individualmente ou no próprio seio familiar. O Catecismo da Igreja Católica, nos números 2822 a 2827, apresenta-nos os elementos bíblicos e teológicos da terceira petição: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”. Vamos aos textos.
Escreveu o Apóstolo Paulo, que é vontade do nosso Pai “que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Outra passagem, agora de Pedro: Ele “usa de paciência […], não querendo que ninguém se perca” (2Pd 3,9). O seu mandamento, que resume todos os outros e nos diz toda a sua vontade, é que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Aos Efésios, diz Paulo que “Ele manifestou-nos o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito que nele de antemão estabeleceu […]: instaurar todas as coisas em Cristo […]. Foi n’Ele também que fomos escolhidos como sua herança, predestinados de acordo com o desígnio daquele que tudo opera de acordo com a decisão da sua vontade” (Ef 1,9-11). Nós pedimos, com empenho, que este plano benevolente se realize por completo na terra, como já se cumpre no céu.
Foi em Cristo e pela sua vontade humana que a vontade do Pai se cumpriu perfeitamente e duma vez para sempre. Ao entrar neste mundo, Jesus disse: “Eu venho, […] ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7). Só Jesus pode dizer: “Faço sempre o que é do seu agrado” (Jo 8,29). Na oração da sua agonia, Ele conforma-Se totalmente com esta vontade: “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Eis por que Jesus “Se entregou pelos nossos pecados […] consoante a vontade de Deus” (Gl 1,4). “Em virtude dessa mesma vontade é que nós fomos santificados, pela oferenda do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10,10).
Jesus suplica ao Pai pela humanidade
Jesus, “apesar de ser Filho, aprendeu, por aquilo que sofreu, o que é obedecer” (Hb 5,8). Com quanto mais razão nós, criaturas e pecadores, que n’Ele nos tornamos filhos de adoção! Nós pedimos ao nosso Pai que una a nossa vontade à do seu Filho, para que se cumpra a vontade d’Ele, o seu plano de salvação para a vida do mundo. Somos radicalmente impotentes para tal, mas unidos a Jesus e com o poder do seu Espírito Santo, podemos entregar-Lhe a nossa vontade e decidir escolher o que o seu Filho sempre escolheu: fazer o que é do agrado do Pai.
Consideremos neste terceiro pedido como Jesus Cristo nos ensina a ser humildes, fazendo-nos ver que a nossa virtude não depende só do nosso trabalho, mas da graça de Deus. Aqui, Ele ordena a todo o fiel que ora a fazê-lo de modo universal, por toda a terra. Porque não diz “seja feita a vossa vontade” em mim ou em vós, mas “em toda a terra”: para que dela seja banido o erro e nela reine a verdade, o vício seja destruído e a virtude refloresça, e para que a terra deixe de ser diferente do céu.
É pela oração que podemos discernir qual é a vontade de Deus e obter perseverança para a cumprir. Jesus ensina-nos que se entra no Reino dos céus, não por palavras, mas “fazendo a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Tal é o poder da oração da Igreja feita em nome do seu Senhor, sobretudo na Eucaristia; ela é comunhão de intercessão com a santíssima Mãe de Deus e com todos os santos que foram “agradáveis” ao Senhor por não terem querido senão a sua vontade.
Ao longo desse dia ou dessa semana, repitamos com frequência essa terceira petição “seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”, tornando-a, sim, nosso projeto de fé e de vida espiritual e observando como me comporto ou minhas reações diante desta súplica.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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