O novo ritmo de reabertura da economia que vem sendo observado desde março ainda é insuficiente para a retomada das pequenas empresas. De fevereiro a maio deste ano, manteve-se em 79% a proporção de micro e pequenos negócios que estão sofrendo redução no faturamento, com queda média de 43% na receita em relação a antes da pandemia. É o que mostra a 11ª edição da pesquisa O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A situação é ruim mesmo diante de alguns indícios melhores. Entre a pesquisa anterior e a atual, aumentou de 37% para 63% as empresas que atuam em locais sem restrição de circulação de pessoas. Nesse período, manteve-se também a proporção de 80% das empresas que estão funcionando. Embora alguns segmentos tenham apresentado melhora, a maior parte segue tendência de queda na pandemia do coronavírus.
Segundo o levantamento, o lockdown – total ou parcial – interfere, mas não é determinante no faturamento das empresas, uma vez que muitas delas migraram para o digital. E ainda que 68% delas estejam em processo de reabertura ou abertas, a queda na receita é significativa. “Em alguns setores, como de cabeleireiro, academia, restaurante, bares, esse fechamento foi bem mortal. Alguns setores como de alimentação que tinha um acesso a digital, esse negócio do Instagram, isso nos levou para o digital. O digital mascarou o lockdown”, disse Carlos Melles, presidente do Sebrae, durante encontro com jornalistas.
Kennyston Lago, economista e analista de gestão estratégica da entidade, explica que, na pesquisa, o lockdown refere-se a restrições parciais e totais. “No início havia uma proporção grande de empresas sem funcionar, depois funcionando de forma diferente e vimos crescer a digitalização. As empresas se adaptaram às restrições de circulação”, comentou. “Já estava num movimento, em 2019, de que a digitalização era o caminho e a pandemia acelerou. Hoje, não faz muita diferença (o lockdown) porque está no digital.”
Para Melles, tornar a vacinação mais ágil e criar novas políticas de amparo aos donos de negócios é imprescindível para que eles recuperem a plenitude das atividades. “O BEm (benefício emergencial) e o Pronampe fizeram bom suporte no ano passado”, disse ele. “A gente tem percebido que, com o aumento do PIB e a perspectiva de agosto para frente, com todos de 40 anos para cima vacinados, é um alento melhor. Cada vez que as pessoas são mais vacinadas, a retomada fica relativamente proporcional ao nível de vacinação.”
Uma análise feita pelo Sebrae a partir de dados da Fiocruz e do Ministério da Saúde indica que até 9,5 milhões de pequenos negócios poderão ter retomado o nível de atividade equivalente ao registrado antes da pandemia até 1º de setembro. Embora otimista, esse prazo foi estendido em relação à previsão da primeira edição do estudo, que apontava a mesma meta para 18 de agosto.
Esse cenário ainda de incertezas faz com que os empreendedores prevejam uma normalidade tardia, apenas em outubro de 2022. A maioria deles (56%) está aflita em relação ao futuro enquanto 44% estão animados, conformados ou aliviados. Embora o próximo ano seja de incertezas por causa das eleições, e geralmente turbulento para os negócios, Melles afirma que confiança de melhora é menos pelo pleito e mais por outros indicadores, como a pequena retração do dólar. “A tendência é que a partir de agosto a economia possa retomar a nível superior a 5% de crescimento, cenário melhorado, dólar caindo um pouco, inflação dentro dos limites. De um modo geral, o ambiente futuro, nessas análises, é positivo.”
Marco Aurélio Bedê, economista e analista de gestão estratégica do Sebrae, explica que, nos últimos dois meses, a confiança das microempresas subiu 11 pontos, o que indica tendência de melhora, que deve seguir ao longo de 2021.” Em 2022, por ser ano de eleições, as incertezas aumentam um pouco, mas depende muito das ações que o governo realizar no próprio ano”, diz.
O economista Rafael Moreira, assessor da Diretoria Técnica do Sebrae, reforça que essa perspectiva é do ponto de vista dos empresários. “Teve piora no faturamento na maior parte do setores. No início, eles achavam que ia demorar 3 meses (para normalidade), mas à medida que foram vendo melhora revertida, a expectativa também foi postergada. São empresários ressaltando que a normalidade só volta em 2022.”
Crédito, dívidas e inadimplência
Ao longo da pandemia, aumentou o número de pequenas empresas que conseguiram empréstimo, houve uma leve redução do endividamento, mas a inadimplência se mantém em alta. Entre abril de 2020 e maio de 2021, passou de 11% para 52% os negócios que tiveram acesso a crédito, enquanto de novembro a maio, subiu de 31% para 36% aqueles que não conseguiram pagar as dívidas.
Melles diz que é preciso ligar o sinal de alerta principalmente para os microempreendedores individuais (MEI) que, “apesar de estarem menos endividados, estão mais inadimplentes do que as micro e pequenas empresas”. Nos últimos 12 meses, para os empreendedores que têm o negócio como principal fonte de renda familiar, os ganhos não foram suficientes para cobrir os gastos familiares. A porcentagem é maior entre os MEIs: 7 em cada 10 não tiveram renda suficiente para suprir as despesas. Com isso, o presidente do Sebrae reforça a necessidade de ampliar o acesso ao crédito e reduzir o custo desses empréstimos de forma rápida.
“Nada vai chegar ao nível pré-pandemia. Na pandemia, o setor de serviços, até doméstico, foi muito afetado e o MEI, nesse sentido, Masi ainda. Nada voltou ao normal, mas coisas complementares, porque o digital aumentou muito e o delivery ajudou, mas não para todo mundo”, diz Melles.
Cenário do empreendedorismo no Brasil
O Sebrae também apresentou dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) que mostra que a taxa de empreendedorismo no País caiu entre 2019 e 2020, passando de 38,7% para 31,6%. Com isso, o Brasil foi da quarta para a sétima posição no ranking mundial. Um dado que chama a atenção é que o número de empreendedores que iniciam seus negócios motivados por necessidade subiu de 37,5% para 50,4%. A maioria deles são MEI, que atualmente somam 12,6 milhões, e são classificados como “filhos da pandemia”.
Ao mesmo tempo, esse grupo empreendedor apresenta a maior taxa de mortalidade em até cinco anos, de 29%, número superior ao das microempresas (21,6%) e das de pequeno porte (17%). Isso leva a uma preocupação e reforça como a educação continuada e o apoio a esse setor é fundamental para manter os negócios de pé.
Melles reforçou o compromisso do Sebrae de atuar junto ao governo federal para que mais medidas sejam adotadas em prol dos pequenos negócios. “Estamos tendo muitas discussões sobre como vamos buscar fundo garantidor para melhor acessibilidade ao crédito”, disse. “Crédito torna-se ferramenta mais importante tanto quanto educação empreendedora e crédito assistido. É um momento muito forte nosso de buscar aperfeiçoamento do sistema de crédito. Temos de voltar ao governo porque tem coisa como Refis, sobrevivência e moratória nesse prazo de pagamento.”
A situação é ruim mesmo diante de alguns indícios melhores. Entre a pesquisa anterior e a atual, aumentou de 37% para 63% as empresas que atuam em locais sem restrição de circulação de pessoas. Nesse período, manteve-se também a proporção de 80% das empresas que estão funcionando. Embora alguns segmentos tenham apresentado melhora, a maior parte segue tendência de queda na pandemia do coronavírus.
Segundo o levantamento, o lockdown – total ou parcial – interfere, mas não é determinante no faturamento das empresas, uma vez que muitas delas migraram para o digital. E ainda que 68% delas estejam em processo de reabertura ou abertas, a queda na receita é significativa. “Em alguns setores, como de cabeleireiro, academia, restaurante, bares, esse fechamento foi bem mortal. Alguns setores como de alimentação que tinha um acesso a digital, esse negócio do Instagram, isso nos levou para o digital. O digital mascarou o lockdown”, disse Carlos Melles, presidente do Sebrae, durante encontro com jornalistas.
Kennyston Lago, economista e analista de gestão estratégica da entidade, explica que, na pesquisa, o lockdown refere-se a restrições parciais e totais. “No início havia uma proporção grande de empresas sem funcionar, depois funcionando de forma diferente e vimos crescer a digitalização. As empresas se adaptaram às restrições de circulação”, comentou. “Já estava num movimento, em 2019, de que a digitalização era o caminho e a pandemia acelerou. Hoje, não faz muita diferença (o lockdown) porque está no digital.”
Para Melles, tornar a vacinação mais ágil e criar novas políticas de amparo aos donos de negócios é imprescindível para que eles recuperem a plenitude das atividades. “O BEm (benefício emergencial) e o Pronampe fizeram bom suporte no ano passado”, disse ele. “A gente tem percebido que, com o aumento do PIB e a perspectiva de agosto para frente, com todos de 40 anos para cima vacinados, é um alento melhor. Cada vez que as pessoas são mais vacinadas, a retomada fica relativamente proporcional ao nível de vacinação.”
Uma análise feita pelo Sebrae a partir de dados da Fiocruz e do Ministério da Saúde indica que até 9,5 milhões de pequenos negócios poderão ter retomado o nível de atividade equivalente ao registrado antes da pandemia até 1º de setembro. Embora otimista, esse prazo foi estendido em relação à previsão da primeira edição do estudo, que apontava a mesma meta para 18 de agosto.
Esse cenário ainda de incertezas faz com que os empreendedores prevejam uma normalidade tardia, apenas em outubro de 2022. A maioria deles (56%) está aflita em relação ao futuro enquanto 44% estão animados, conformados ou aliviados. Embora o próximo ano seja de incertezas por causa das eleições, e geralmente turbulento para os negócios, Melles afirma que confiança de melhora é menos pelo pleito e mais por outros indicadores, como a pequena retração do dólar. “A tendência é que a partir de agosto a economia possa retomar a nível superior a 5% de crescimento, cenário melhorado, dólar caindo um pouco, inflação dentro dos limites. De um modo geral, o ambiente futuro, nessas análises, é positivo.”
Marco Aurélio Bedê, economista e analista de gestão estratégica do Sebrae, explica que, nos últimos dois meses, a confiança das microempresas subiu 11 pontos, o que indica tendência de melhora, que deve seguir ao longo de 2021.” Em 2022, por ser ano de eleições, as incertezas aumentam um pouco, mas depende muito das ações que o governo realizar no próprio ano”, diz.
O economista Rafael Moreira, assessor da Diretoria Técnica do Sebrae, reforça que essa perspectiva é do ponto de vista dos empresários. “Teve piora no faturamento na maior parte do setores. No início, eles achavam que ia demorar 3 meses (para normalidade), mas à medida que foram vendo melhora revertida, a expectativa também foi postergada. São empresários ressaltando que a normalidade só volta em 2022.”
Crédito, dívidas e inadimplência
Ao longo da pandemia, aumentou o número de pequenas empresas que conseguiram empréstimo, houve uma leve redução do endividamento, mas a inadimplência se mantém em alta. Entre abril de 2020 e maio de 2021, passou de 11% para 52% os negócios que tiveram acesso a crédito, enquanto de novembro a maio, subiu de 31% para 36% aqueles que não conseguiram pagar as dívidas.
Melles diz que é preciso ligar o sinal de alerta principalmente para os microempreendedores individuais (MEI) que, “apesar de estarem menos endividados, estão mais inadimplentes do que as micro e pequenas empresas”. Nos últimos 12 meses, para os empreendedores que têm o negócio como principal fonte de renda familiar, os ganhos não foram suficientes para cobrir os gastos familiares. A porcentagem é maior entre os MEIs: 7 em cada 10 não tiveram renda suficiente para suprir as despesas. Com isso, o presidente do Sebrae reforça a necessidade de ampliar o acesso ao crédito e reduzir o custo desses empréstimos de forma rápida.
“Nada vai chegar ao nível pré-pandemia. Na pandemia, o setor de serviços, até doméstico, foi muito afetado e o MEI, nesse sentido, Masi ainda. Nada voltou ao normal, mas coisas complementares, porque o digital aumentou muito e o delivery ajudou, mas não para todo mundo”, diz Melles.
Cenário do empreendedorismo no Brasil
O Sebrae também apresentou dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) que mostra que a taxa de empreendedorismo no País caiu entre 2019 e 2020, passando de 38,7% para 31,6%. Com isso, o Brasil foi da quarta para a sétima posição no ranking mundial. Um dado que chama a atenção é que o número de empreendedores que iniciam seus negócios motivados por necessidade subiu de 37,5% para 50,4%. A maioria deles são MEI, que atualmente somam 12,6 milhões, e são classificados como “filhos da pandemia”.
Ao mesmo tempo, esse grupo empreendedor apresenta a maior taxa de mortalidade em até cinco anos, de 29%, número superior ao das microempresas (21,6%) e das de pequeno porte (17%). Isso leva a uma preocupação e reforça como a educação continuada e o apoio a esse setor é fundamental para manter os negócios de pé.
Melles reforçou o compromisso do Sebrae de atuar junto ao governo federal para que mais medidas sejam adotadas em prol dos pequenos negócios. “Estamos tendo muitas discussões sobre como vamos buscar fundo garantidor para melhor acessibilidade ao crédito”, disse. “Crédito torna-se ferramenta mais importante tanto quanto educação empreendedora e crédito assistido. É um momento muito forte nosso de buscar aperfeiçoamento do sistema de crédito. Temos de voltar ao governo porque tem coisa como Refis, sobrevivência e moratória nesse prazo de pagamento.”
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