Idéias expressas numa total indiferença. 

Gaza: Quem tem acompanhado minimamente o noticiário não pode deixar de se espantar e ao mesmo tempo ficar horrorizado com as imagens, fala-se que oitenta e cinco por cento dessa região foi completamente destruída, e as milhares de vítimas na sua grande maioria inocentes, que nunca tiveram qualquer participação em atos terroristas. Destruição insana, mortes desnecessárias, essa é a retórica infame que alguns usam em nome da paz, da justiça e do futuro próspero que nunca chega, aliás essa uma mentira deslavada pregada aos borbotões na era crua e nua das dissimulações, engodos e demagogos em seus estados mais mirabolantes; Gaza é o retrato falado do fracasso humano em não dialogar, em não buscar acordos justos, em querer em tudo usar a força bruta; Gaza é a nossa miséria existencial, a nossa covardia, o nosso silêncio ensurdecedor, e a nossa farsa lúdica. 

Gaza: Um local onde aqueles que jamais tiveram qualquer tipo de envolvimento com o conflito, são os que mais caro pagam hoje o preço da devastação, eles não pediram a guerra, eles não se ajoelharam para que sua terra fosse dizimada, quantas infâncias foram perdidas pela loucura dos adultos? Quantas crianças não terão mais nenhum contato com seus pais ou parentes próximos. Quantas crianças estão completamente só nesse mundo deturpado pela ganância dos adultos? O mundo dos adultos envolvidos nessa ação bélica, na sua maioria é gerido pela lógica da não vida, do não existir, do não ser, uma lógica predatória que como vimos termina com a eliminação dos mais fracos, daqueles considerados descartáveis; Gaza é o modelo mais aberrante na era da dita “alta civilização”, um amontoado de cadáveres pairando sobre tudo e todos, no mais íntimo das consciências.  

Gaza: É o local esquecido de modo deliberado, apesar do noticiário não dar tréguas sobre os horrores ali praticados, um campo de testes para aqueles que pensam poder tudo fazer, “as melhores armas”, “as melhores estratégias”, “os melhores soldados”, tudo isso junto e um pouco mais serviram apenas para dizimar crianças, mulheres, idosos, hospitais, escolas e casas, esse é o resultado de um exercício perigoso levado ao pé da letra, usam a força porque suas palavras e gestos não convencem ninguém, suas poses num acordo de paz forjado sem a participação popular, é de um descaramento sem igual. Gigantes que na verdade são seres minúsculos em todos os aspectos; sabemos que a matança ocorrida em Gaza tem mãos sujas de sangue, muitas empresas de armamentos envolvidas, muitos governos que estão se deliciando com essa hora, pois a guerra é irresistível a seus olhos. 

Gaza: Ontem, Gaza hoje, qual será a Gaza de amanhã? Temos já alguns vislumbres de futuras guerras, além daquelas que já efetivamente estão ocorrendo sob o beneplácito da grande maioria de líderes, estes sempre comprometidos com os possíveis lucros que irão obter, todos filhos bastardos de um sistema onde somente a força, a agressão, a violência e o dinheiro falam mais alto, a eles pouco ou nada importa que os restos mortais das cidades, do meio ambiente e principalmente das pessoas fiquem a céu aberto, jogados à própria sorte. Nada avança, quando são usados instrumentos de antigamente, nada se resolve, quando as mentes estão cheias de ideias ultrapassadas e mesquinhas; novos líderes políticos e as suas ideias repletas de um passado sombrio, pairam sobre nossas cabeças, as consequências de uma paz que não engana ninguém logo dará as suas cartas. 

Bioeticamente: Gaza nos mostra de modo escancarado o quanto a civilização está desorientada, sem um norte claro, sem um padrão definido, começar uma guerra é tão fácil para os “senhores do mundo”, mas quando ela acaba, outra começa para aqueles que foram por ela afetados, as notícias que nos chegam falam que perto de duzentas toneladas de bombas foram lançadas em Gaza, uma violação monumental dos direitos humanos de ambos os lados, mas essa destruição física, moral e espiritual pouco lhes importa, o que conta a eles é ter Gaza sem os gazenses, um pequeno detalhe em seus planos delirantes; Gaza é o retrato da policrise, um mundo deformado por instituições que não garantem o mínimo para se viver dignamente. O pragmatismo tão exacerbado nesses dias nos mostra de modo contundente o desequilíbrio e quanto a isso não podemos jamais virar as costas. 

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com