Além de chamar a atenção no mercado de capitais, as startups de “carros voadores” estão atraindo talentos e parceiros de setores mais tradicionais da economia. Executivos e engenheiros de empresas como Airbus, Embraer, Boeing, Ford, Rolls-Royce, Jaguar, Goldman Sachs e Morgan Stanley, entre outras, estão hoje por trás das startups.
A disputa entre essas startups ganhou força mesmo no ano passado, quando começaram a surgir no setor investimentos de grande porte – sem os quais o desenvolvimento da tecnologia é inviável. Em relatório sobre o mercado de eVTOLS, o centro de inovação da Lufthansa destacou que empresas mais bem capitalizadas terão uma chance maior de chegar ao mercado primeiro. “Isso é ainda mais importante em uma indústria complexa, em que as startups necessitam de um capital mínimo de US$ 700 milhões a US$ 1 bilhão para desenvolver, certificar e comercializar com sucesso o táxi aéreo.”
A Lufthansa afirmou ainda que os investimentos de venture capital (capital de risco) feitos na americana Joby Aviation e na alemã Lilium – as duas receberam, no total, US$ 940 milhões em 2020 – as colocavam na pole position. A questão é que, nos últimos meses, o movimento de fusões entre startups de eVTOLs e Spacs embaralhou a disputa no setor e a elevou a outro patamar.
Neste ano, a Joby, a Lilium, a americana Archer e a inglesa Vertical anunciaram combinações de seus negócios com Spacs. Assim, as quatro empresas devem levantar US$ 3,9 bilhões (R$ 20 bilhões). A brasileira Embraer é outra que vem tentando uma fusão semelhante à realizada pelas concorrentes para desenvolver seu eVTOL, mas está em um estágio mais incipiente. Procurada, ela não quis falar sobre seu projeto.
Modelo de êxito
O consultor Marcus Ayres, sócio da Roland Berger que tem acompanhado o desenvolvimento de eVTOLs, diz ser difícil prever qual startup vingará, mas o modelo de negócios com mais chance é o de uma empresa que integra a cadeia de valor. Um relatório da Roland Berger aponta a Lilium e a Joby como as que estão indo melhor nessa direção.
A Joby, por exemplo, não deve ser apenas uma fabricante, mas também uma operadora – ela já pediu registro para isso. Por e-mail, a empresa afirmou que “operar um serviço de compartilhamento de caronas, em vez de vender veículos, é importante tanto para garantir a experiência ideal do cliente como para criar um modelo de negócios de receita recorrente atraente.” A Lilium, por sua vez, está planejando oferecer o que chama de “serviço de marca”.
De acordo com a Lufthansa, no entanto, haverá espaço para várias empresas vencedoras. Isso porque há diferentes projetos para demandas específicas – para voos dentro de cidades ou entre cidades, por exemplo. Além do volume de investimento que as startups receberem, a amplitude da rede e das parcerias dessas empresas – incluindo aqui governos, companhias de tecnologia, automotivas, aeroespaciais e aéreas – também será importante.
Não à toa, as startups de eVTOL têm anunciado parcerias com bastante frequência. A Eve, da Embraer, divulgou dez acordos com terceiros desde junho. A americana Archer, além de receber investimento da United Airlines, tem um acordo de cooperação com a companhia aérea para o processo de certificação com a agência que regula a aviação nos EUA e assinou contratos de até US$ 1,5 bilhão para fornecer eVTOLs à empresa.
A inglesa Vertical, por sua vez, terá a American Airlines como investidora e deve fornecer à companhia até 350 eVTOLs. Em nota, a American afirmou estar estudando como usará essas aeronaves em sua operação.
Ainda na avaliação da Lufthansa, estar entre as primeiras que colocam o “carro voador” no ar vai fazer diferença quando o mercado começar a se consolidar. Isso já foi verificado no segmento dos carros autônomos, em que os quilômetros rodados pelos veículos se tornaram o principal quesito na avaliação das empresas. O mesmo deve ocorrer com as fabricantes de eVTOLs, que também se preparam para realizar voos autônomos.
Prazo
Diante dessa preocupação e do fato de cronogramas apertados serem mais atraentes para investidores, as startups estão prometendo entregar aeronaves em 2024. Já a Embraer prevê seus primeiros eVTOLs para 2026. Na visão de Ayres, da Roland Berger, essa demora não necessariamente representa uma desvantagem – ao contrário do que afirma a Lufthansa. “Tem uma coisa que serve para a inovação em geral: nem sempre o primeiro é o vencedor. Certamente, o primeiro vai cometer erros, porque não terá com quem aprender.”
Se ainda é difícil apostar nos prováveis vencedores dessa corrida, especialistas e banqueiros destacam que é certo que veremos a tecnologia sair do papel nos próximos anos e criar um mercado de bilhões de dólares. Para a consultoria Deloitte, só nos EUA, esse mercado seria de US$ 17 bilhões em 2040. “Os participantes do ecossistema estão colaborando no desenvolvimento de uma estrutura regulatória robusta; e a tecnologia está avançando rapidamente”, diz um relatório da empresa.
O banco Morgan Stanley projeta que o setor movimentará globalmente US$ 9 trilhões em 2050, considerando não só a operação do eVTOL como táxi aéreo, mas também o uso para fins militares, logísticos e por companhias aéreas. “O nascimento do eVTOL em escala não é uma questão de ‘se’, mas sim de quando, como e o que deve ser superado no caminho”, diz documento do banco de maio.
REVOLUCIONÁRIO
Modelo
O “carro voador” não se assemelha ao usado pelos personagens do desenho Jetsons. A aeronave está mais para um helicóptero e seu uso será compartilhado – você não terá um eVTOL próprio. Mesmo assim, a tecnologia não deixa de ser revolucionária;
Combustível
Uma das principais diferenças entre eVTOL e helicópteros ou aviões é que ele será elétrico. Sem usar combustível de aviação, o impacto ambiental e o custo para operá-lo são reduzidos;
Manutenção
As aeronaves estão sendo criadas para ser menos complexas que os helicópteros e, elétricas, demandarão menos manutenção, o que as torna mais baratas. No caso dos helicópteros, a manutenção corresponde a 30% dos custos de operação. Mais acessíveis, os eVTOLS poderão ter a mesma popularidade dos aviões comerciais, dizem especialistas;
Barulho
Mais uma vantagem do motor elétrico: ele é mais silencioso. Isso fará com que um maior número de aeronaves possa operar em grandes centros urbanos sem gerar poluição sonora;
Segurança
Os projetos preveem vários sistemas redundantes nas aeronaves. Assim, caso haja algum problema com uma peça ou um software, há algo semelhante para substituí-lo. Especialistas afirmam que eVTOLs deverão ser mais seguros que helicópteros
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.