Com a naturalidade que sempre demonstra na televisão, a atriz e humorista, em conversa via Zoom, diz que a atração que mistura stand-up, bate-papo com convidados e esquetes, comandada com a ajuda do ator Pedroca Monteiro desde março deste ano, é o projeto “dos sonhos”, pensando há anos, desde quando ela deixou a MTV, em 2012.
A cada programa, eles recebem uma dupla de convidados – nesta temporada, há nomes como Juliette Freire, Fabiana Karla, Paulo Vieira, Rafael Portugal, Jojo Todynho, Fernanda Paes Leme e João Vicente de Castro – para debater temas como idade, fofoca, apego, alma gêmea, culpa e sexo, ilustrados com cenas e quadros de comédia.
Com direção artística de Lilian Amarante, a mesma de Lady Night, talk show de Tatá Werneck, e do extinto Furo MTV, programa que Calabresa comandou ao lado de Bento Ribeiro na MTV, Dani-se tem como proposta dar mais leveza a questões do cotidiano – tudo com bom humor e muito improviso, duas especialidades da humorista e apresentadora.
Como será a segunda temporada do Dani-se?
A primeira temporada foi muito boa, nos divertimos muito e recebemos convidados maravilhosos. Agora, na segunda, vamos pisar em um chão mais familiar. Voltamos com saudade e um ritmo mais acelerado. E os convidados, gente? Ainda estamos em um momento delicado da pandemia. Na primeira temporada, não deu para trazer muita gente. Nesta, conseguimos avançar nessa questão. Temos o Luís Miranda, que eu sonhava em trazer, a Marisa Orth – os dois são meus ídolos na comédia – tem a Juliette, a Jojo Todynho…
O Dani-se estreou já na pandemia. E vai ter a segunda temporada ainda na pandemia. Isso, de alguma maneira, alterou algum quadro ou formato do programa?
O roteiro criativo não sofreu grandes ajustes. A produção mudou. Todo mundo faz teste um dia antes, repete no dia da gravação. Todo mundo fica de máscara, isolado. Tem divisórias de acrílico no estúdio. Só tiramos a máscara na hora de gravar. Assistindo, eu fico muito feliz com o resultado porque conseguimos, mesmo com o distanciamento e os protocolos, transmitir alegria, carinho. O (ator) Kiko Mascarenhas estava isolado desde o começo da pandemia. Ele não aceitou nenhum trabalho, não foi aos Estúdios Globo nenhuma vez nesse período. Ele só topou ir ao meu programa agora. Choramos de emoção. Foi muito especial.
Você gosta de improviso e o programa recebe convidados craques do humor, com quem você e o Pedroca podem bater uma bola. Como é feito o equilíbrio entre roteiro e improvisação?
Há o roteiro com o tema do programa. Em cima disso, criamos esquetes, ilustrações, vemos o que combina com cada convidado. Já há uma sugestão de cena. Mas, na hora, fica esse clima de colocar a peruca com um amigo e fazer algo. Começamos gravando a mesa (bate-papo), com um guia de perguntas. Essa mesa, porém, tem vida própria. Você ouve uma resposta e ela é tão boa que você pega o gancho e vai para outra pergunta. Eu mesmo penso: como eu não botei isso no roteiro antes? O convidado também dá abertura, fala de sexo, de uma cirurgia que fez. Quando vejo, estou perguntando se ele tem tatuagem no cóccix, se chorou, se traiu. Depois, pegamos um tobogã e voltamos para o roteiro. Os esquetes são assim também. Há muito espaço para o improviso. Ensaiamos na hora, mudamos o começo, decidimos terminar a cena cantando, assumimos erros de gravação, ataques de riso…
E, nessa brincadeira, os convidados revelam fatos que talvez não contassem em uma entrevista normal. Teve algo que te surpreendeu?
Nós chamamos a Jojo Todynho para falar sobre alma gêmea. Ela revelou que tem 6 peguetes ao mesmo tempo. Ela fala isso com naturalidade e bom humor. A Jojo tem um lugar tão forte de mulher, de mostrar que ela pode estar com quantas pessoas quiser. Ela se ama, põe a roupa que quer, toma a cachaça dela. Eu e o Pedroca também nos expomos muito. Mas é algo com carinho, empatia e confiança. Não estamos lá para julgar os outros, e sim reconhecer que também cometemos erros. E as pessoas vão se abrindo. Nós não ficamos cavoucando nada. A intenção do programa não é ser polêmico. Nós nos divertimos de verdade e o público percebe isso e se diverte junto.
A Juliette foi ao programa nesta segunda temporada. E será uma de suas imitações?
Juliette maravilhosa (fala com sotaque). Ela arrasou! Ela veio ao programa junto com o humorista Rafael Portugal. Eles se conheceram pessoalmente no Dani-se. Ela estava no BBB, ganhou, saiu e eles nunca tinham se encontrado pessoalmente. Juliette é nossa Kardashian. Não sei se ela quer, mas ela pode ser atriz. Muito esperta, rápida, sacou a atmosfera do programa, fez o esquete. A TV vai explodir. Os cactos (como os fãs da cantora são chamados) vão derrubar tudo.
Você é fã de BBB, não?
Eu não era tanto. Assistia a pedacinhos. Na pandemia, porém, vi todos os dias. Quando acabou, falei: “Meu Deus, é isso que as pessoas sentem?”. Quando alguém era eliminado, parecia que era um amigo meu. Corria na rede social para criar vínculo com a pessoa. E, nesse último, da Juliette, assisti inteiro. Fiquei muito envolvida. Não vejo a hora de começar o próximo. Vai acabar minha vida. Não vou nem tomar banho.
O posto de apresentador está vago…
Meu Deus do céu! Já estou com o currículo aqui! (risos) Não sei se tenho emocional para apresentar o BBB. É uma Copa do Mundo, tem torcida. Minha sugestão é que o RH da Globo pegue 12 talentos e faça uma prova de líder para ver quem tem emocional para apresentar o programa. Deixa 12 horas em pé lá no jardim. Quem aguentar ficar sem fazer xixi ganha.
Você tem muita referência de televisão. Sempre assistiu muito? Isso a ajuda hoje em dia?
Ajuda muito. Gostava de assistir a tudo, de ver tipos, sotaques. Me apegava. Acordava cedo, via Pesca e Companhia, leilão de tapetes, joias. Ficava com essas coisas na cabeça para imitar. São referências maravilhosas.
Por falar em imitações, a Fátima Bernardes é uma nova que estará nesta nova temporada, não?
Sim, fiz a Fátima no programa com o tema de ranço. Fátima está gatona, né? Ela vai dizer que eu devia ter ido para academia antes de imitá-la.
A Ivete já disse que gosta da imitação que você faz dela. Você imita também a Daniela Albuquerque e a Luciana Gimenez. Elas já te disseram algo sobre isso?
Uma vez fui ao programa da Hebe, quando ela estava na Rede TV, e quando cheguei lá, eles tinham chamado a Sonia Abrão, a Íris Stefanelli, a Daniela e a Luciana (Dani imita todas) para fazer algo como um confronto das imitadas. Eu perguntei: mas elas gostam? Nunca tive problema com isso.
Atualmente, o humor está por toda a parte, e de forma muito acessível, nos stories, no TikTok, nos podcasts. Fica atenta a isso?
A internet trouxe um espaço bom, democrático. Quando eu era criança e sonhava trabalhar na TV, morava em Santo André (cidade da região metropolitana de São Paulo), não estava perto de nada. Como entregar currículo no SBT? Chegar à Globo? Eu trabalhava na C&A, fazia cartão. Tudo aconteceu devagar. Hoje, mostrar seu talento na rede social é mais fácil. Com uma câmera na sua casa, você faz conteúdo para o YouTube, Instagram, TikTok. É um currículo que fica disponível para o mundo todo. Acompanho a (humorista) Pequena Lô, que é muito engraçada. Tem uma menina no TikTok, Camila Pudim, que é cômica e maquiadora, troca de maquiagem e de personagem. Um barato.
A TV fechada tem dado muito espaço para os comediantes. Qual é o momento do humor na TV aberta?
Tenho a sensação que a pandemia pausou os projetos legais. Antes dela, estávamos com muita liberdade no Zorra, no Tá No Ar. A Escolinha do Professor Raimundo era uma delícia de fazer. Espaço tem – e liberdade também. Nomes como Maria Clara Gueiros, Ingrid Guimarães, Heloísa Périssé abriram portas. Quando eu saí da MTV (2012), a Globo já estava muito moderna, dando abertura. Tatá (Werneck) faz o Lady Night brilhantemente no Multishow e o programa foi para a Globo do jeito que é, com o linguajar dela, com o improviso. O Dani-se também pode ir para a Globo. Alô, chefes, temos esse sonho!
No último ano, você passou por um período de exposição de sua vida pessoal quando a acusação de assédio sexual e moral que você teria sofrido (por parte do humorista e seu ex-chefe Marcius Melhem) foi revelada pela imprensa. Como foi lidar com o turbilhão de questionamentos, julgamentos e manchetes que se seguiram a isso?
É muito difícil ter a vida pessoal exposta em situações delicadas como essa – ainda mais em época de redes sociais, em que tudo toma proporções imensas.
Você também foi julgada, até pela acusação vinda da outra parte, com algo do tipo “mas ela deu abertura”, que é parente do pensamento machista do “ela mereceu”. O que você tem a dizer a quem pensa dessa maneira?
Ah, nada a dizer, só lamento esse pensamento. Nada justifica o assédio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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