Thammy Marcato e Eduardo Tomazelli
O mercado imobiliário já migrou para o ambiente virtual há algum tempo. Mas, diferentemente da realização de operações de compra e venda de imóveis físicos feitas pela internet, atualmente esse setor ganhou uma nova camada de oportunidades com o advento do metaverso. Nesse ambiente, as propriedades digitais podem ser negociadas de uma maneira muito parecida que uma casa ou um terreno físico é comercializado hoje. Dessa forma, você pode adquirir ou desenvolver um terreno digital, monetizando-o e, eventualmente, vendendo-o com lucro.
Temos observado uma movimentação crescente de empresas comprando terrenos em plataformas de mundos virtuais por meio de operações que usam certificados digitais de propriedade (conhecidos pela sigla NFT) e criptomoedas. Essas movimentações, segundo o DappRadar — site que rastreia NFT e vendas de terrenos virtuais –, registraram um volume de negociação de 330 milhões de dólares no quarto trimestre do ano passado. E, com certeza, o anúncio feito pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, da mudança de nome desta empresa para Meta, junto com a intenção dele de tornar-se dono de uma companhia dentro do metaverso, foi significante para intensificar esse movimento. Desde então, diversos setores — especialmente o imobiliário e o varejo — parecem ter entrado em um vórtice em torno dos potenciais desdobramentos deste conceito do qual ainda sabemos pouco.
Um estudo da CoinMarketcap, por exemplo, estima que o metaverso pode chegar a um trilhão de dólares em valor de mercado em até três anos, considerando a indústria de modo amplo. Em comparação, o mundo dos jogos eletrônicos, que engloba a maior parte das aplicações de metaverso atuais, está projetada para alcançar 400 bilhões de dólares no mesmo período.
Se, para os nativos digitais, a compra desses espaços é algo perfeitamente compreensível, outros ainda se perguntam qual é o sentido de comprar um espaço digital onde não se pode morar. Para começar a compreender como funciona o mercado imobiliário no metaverso, devemos saber como esses imóveis são transformados em NFTs e como o proprietário passa a ter uma espécie de “escritura” criptografada. Ou seja, o valor de um imóvel no metaverso está na autenticidade digitalmente reconhecida através deste certificado digital, somado aos fatores como popularidade e raridade do ativo.
Se, por um lado, uma casa é feita de tijolos e argamassa, no contexto virtual, é realizada a compra de um código registrado em um token. Assim, a diferença está na interface de negociação e na experiência do comprador. Um exemplo para ilustrar esta nova experiência é analisar o retrato de Adele Bloch-Bauer I, do pintor austríaco Gustav Klimt, avaliado em 135 milhões de dólares e exposto permanentemente na Neue Galerie, em Nova Iorque. O empresário estadunidense Ronald Lauder comprou a pintura, no entanto, ele não pode retirar o quadro da galeria ou admirá-lo de forma privada em casa. Embora a obra comprada não possa ser manuseada, trata-se de um investimento pela exclusividade de possuí-la.
No que diz respeito ao metaverso, existem diversas plataformas onde se pode interagir e que colocam imóveis digitais à venda em uma espécie de shopping virtual (marketplace). Na prática, a maioria delas agrega informações sobre localização no mapa do metaverso e os preços dos ativos. Além de atribuições de valor, plataformas como The Sandbox, Decentraland e SuperWorld saíram na frente nesse novo horizonte de venda de imóveis e estão negociando espaços virtuais por milhares de dólares, sendo as mais procuradas por marcas para fincarem bandeiras no metaverso.
Como as cifras impressionam, esse tema está em evidência. E onde isso vai dar, afinal? Ninguém sabe ainda. No futuro, tudo pode resultar em um novo estouro de uma bolha de expectativas exageradas ou numa nova sociedade paralela a nossa, totalmente digital. Por isso, muitos defendem que o valor desses imóveis virtuais, na verdade, está no potencial publicitário que esses espaços têm.
É importante destacar, também, que sob a perspectiva de tecnologia, ainda há muito a evoluir para se chegar no estado da arte do metaverso. Hoje, estão nascendo os blocos que fundamentarão o desenvolvimento deste novo universo. Vamos continuar construindo.
Thammy Marcato é sócia-diretora de inovação e transformação da KPMG no Brasil e cofundadora da Leap e Eduardo Tomazelli é sócio-líder de auditoria para o mercado imobiliário da KPMG no Brasil