Em 70 anos, quanto Pato Branco evoluiu e quais caminhos está trilhando, rumo à educação do futuro?
Dayanne do Nascimento
Toda data importante merece ser lembrada. E neste dia 14 de dezembro de 2022, em que Pato Branco completa 70 anos de emancipação político-administrativa, há muitos motivos para comemorar. Afinal, poucos são os municípios que chegam a esta idade com o reconhecimento pelo seu desenvolvimento criativo, inovador, sustentável e inteligente.
Além disso, não é de hoje que Pato Branco é um polo de saúde, educação e tecnologia. Um gerador de emprego e renda. Lugar em que muitos gostam de morar, pois sabem que aqui encontram qualidade de vida.
Contudo, o que se conquistou até o momento está concretizado. Sendo assim, tão importante quanto valorizar o que se construiu nestes 70 anos, seja pelo poder público ou instituições privadas e pessoas que moram e trabalham em Pato Branco, é analisar e planejar para onde se quer ir.
Uma área crucial e importante para o crescimento e evolução de uma cidade é, sem dúvida, a educação. Um instrumento poderoso para a transformação social. Por isso, em comemoração a estes 70 anos, convidamos você para uma reflexão: como será a educação de Pato Branco daqui 30 anos, quando o município completar 100 anos?
Será que teremos escolas mais inteligentes e autônomas? Salas de aulas aperfeiçoadas com recursos tecnológicos, que ainda nem mesmo foram criados? Quem sabe alunos e professores familiarizados com o metaverso e usufruindo dos mais diferentes ambientes virtuais, capazes de expandir as experiências e a consciência para além do audiovisual? Língua Portuguesa e Matemática, ainda farão parte das disciplinas escolares? E o professor, permanecerá como participante assíduo da construção do conhecimento e formação dos alunos?
As possibilidades são infinitas e inimagináveis. Mas ao que tudo indica, a educação pato-branquense está no caminho. Investimentos, projetos e diversas iniciativas fazem parte da realidade de muitas instituições que estão contribuindo, dia a dia, para que a educação, a tecnologia e a inovação andem lado a lado.
No âmbito municipal, a secretária de Educação e Cultura de Pato Branco, Jusara Santos Ritzmann, conta que não é de hoje que o município tem trilhado um caminho promissor, quando o assunto é a educação. Ela, que atua na área há mais de 30 anos, lembra que as transformações se intensificaram, sobretudo nos últimos anos, devido à expansão do acesso à internet e adaptação de novas tecnologias para as escolas.
Para ela, pensar a educação nos próximos 30 anos é seguir nesta linha. Pois é certo que os avanços tecnológicos continuarão e não ficarão fora do ambiente escolar.
A chefe do Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, Iara Lucia Tecchio Mezomo, compartilha deste mesmo pensamento. Para ela, não há como retroceder. “A educação vai explorar cada vez mais o universo da pesquisa, das didáticas diferenciadas, do uso das tecnologias. Não tem como voltarmos para trás. O aluno do século 21 não aceita um modelo de ensino sem tecnologias, porque o mundo que ele conhece é dinâmico e tecnológico. Por isso, a sala de aula também tem que ser assim”, destaca.
Se o ensino fundamental e médio tem passado por mudanças e evoluído dentro das premissas do mundo moderno e tecnológico, o ensino superior igualmente segue por este caminho.
O diretor geral da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Pato Branco, Gilson Ditzel Santos, observa que a pandemia legitimou muitas transformações no modelo de ensino brasileiro. Um exemplo são as aulas remotas que tornaram-se, nos últimos dois anos, o principal mecanismo de comunicação e construção do conhecimento entre professor e aluno.
Para Gilson, nos próximos anos, o ensino superior público deve explorar ainda mais a modalidade das aulas híbridas. Os encontros presenciais, no entanto, serão menos frequentes, em compensação, muito mais ricos e valorizados.
“Entendo que precisamos dos meios virtuais, da interação remota, mas não podemos prescindir da interação presencial. Porque ela confere uma formação de riqueza inigualável e inatingível pelos meios puramente virtuais”, destacou.
Ele acredita que os cursos superiores a distância irão saturar. Assim como os presenciais. Contudo, os dois extremos terão que conversar, dando espaço ao ensino híbrido.
Algumas iniciativas, realizadas na UTFPR, já se aproximam disso. Uma delas é o projeto de aulas intercampi, que permite aos alunos de campi diferentes matricular-se em uma mesma disciplina e acompanhá-la remotamente.
Escolas mais modernas e tecnológicas
Para quem acompanha, não é novidade que as escolas, tanto as municipais, como as estaduais, já se beneficiam de alguns recursos tecnológicos. Claro, a pandemia deu um empurrãozinho. Afinal, assim como as áreas da saúde, indústria, comércio, turismo, entre outras, a educação sofreu um grande impacto pela necessidade do isolamento social. Professores e alunos, bem como as equipes gestoras, precisaram se adaptar, em um curto espaço de tempo, às aulas remotas. Mas, foi uma boa oportunidade de evoluir e explorar os recursos tecnológicos, tornando-os também didáticos.
Nas escolas municipais, Jusara destaca, por exemplo, o uso da lousa digital e impressora 3D. Os alunos ainda contam com estruturas de laboratórios de ciência, robótica e informática, que facilitam para eles romper a barreira do conhecimento abstrato, participando de experiências concretas.
Esses e outros recursos, como tablets, notebooks, computadores, projetores de imagens, fazem parte do programa Educa Digital que atualmente beneficia seis escolas: a Guido Vitor Guerra, Udir Cantu, Vila Verde, União, Caic (Escola Bairro Planalto) e Rocha Pombo.
Além disso, há a plataforma Aprende Brasil Digital, um ambiente virtual de aprendizagem que oferece aos alunos opções de conteúdos extraclasse, vídeoaulas, trilhas de aprendizagem e recursos digitais vinculados ao livro didático, como a realidade aumentada.
Já aos professores e gestores, a plataforma possibilita o acompanhamento do desempenho de cada aluno, a ampliação da comunicação com as famílias, fora da sala de aula, e a elaboração de aulas mais atrativas e diferenciadas.
“O recurso da realidade aumentada é algo que entusiasma as crianças a aprender, pois é próprio dessa geração, gostar de experiências digitais”, comentou Jusara.
Assim como o município, o Estado tem investido em tecnologias para as salas de aula. A chefe do NRE de Pato Branco relata que todas as salas de aulas, das escolas da rede estadual, dispõem de um kit Educatron. Neste kit contém: uma smart TV de 43 polegadas, computador, webcam, microfones, teclado com mouse pad e pedestal regulável.
Estes recursos possibilitam o aluno ter contato, em tempo real, com pessoas de outras cidades, estados e até países. Professores, escritores, historiadores, seja o profissional que o professor escolher para enriquecer sua aula, ele pode articular a sua participação através do Educatron.
Menos físico e mais digital
Outra vantagem que a tecnologia tem proporcionado às escolas é a diminuição do uso de papel. Um exemplo, é o que acontece nas escolas municipais, que utilizam o Registro de Classe Online para registrar as presenças e os conteúdos trabalhados em sala.
Esta ferramenta é utilizada nas escolas estaduais, assim como o processo de rematrícula online, que neste ano também foi adotado pela rede municipal, em quatro escolas, como um projeto piloto.
Jusara explicou que a finalidade é aos poucos substituir os arquivos impressos pelos digitais e automatizar as informações dos alunos. Para isso, está em estudo a utilização de um banco de dados digital, onde cada aluno, professor e escola terão pastas virtuais, para armazenar os seus arquivos.
Pensando em um futuro não tão distante, a secretária revela algumas idealizações do município. Entre elas a municipalização do sistema de ensino. Hoje, o sistema de ensino de Pato Branco está atrelado ao Estado. “Nós teríamos mais autonomia, principalmente nas questões administrativas, por exemplo, para construir e analisar os projetos políticos pedagógicos das escolas”, observou.
Outra oportunidade, é a alteração da jornada escolar para um turno único. Para pelo menos sete horas. Atualmente, os alunos ficam nas escolas em média quatro horas/dia. Com exceção dos que frequentam o ensino integral. No entanto, no integral estão inclusas as disciplinas da grade curricular básica mais oficinas, realizadas no contraturno, mas que não estão relacionadas ao currículo base.
Esse é um diferencial do ensino integral, em comparação à escola em turno único, modelo que, de acordo com Jusara, compõe um currículo específico formado pelas disciplinas da base nacional mais as disciplinas diferenciadas, que auxiliarão no desenvolvimento das crianças.
“Na escola de turno único, o aluno pode ter uma aula de robótica intercalada com uma de matemática ou vice-versa; ou uma aula de Língua Portuguesa e depois um outro projeto desenvolvido em um laboratório de Ciências, por exemplo”, comentou.
Entre os empecilhos para iniciar-se o projeto da escola em turno único estão as estruturas físicas e profissionais, as quais teriam que ser ampliadas. O que demandaria um bom investimento financeiro por parte do poder público.
Na rede de ensino estadual, a mudança na carga horária já está acontecendo. Com a adequação para o Novo Ensino Médio, o qual foi instituído pela Lei Federal nº 13.415/2017, as escolas das redes de ensino pública e privada, de todo o Brasil, estão se adaptando à nova carga horária e organização curricular.
Este novo modelo é formado por dois conjuntos de aprendizagens: a Formação Geral Básica (FGB) e os itinerários formativos. Com isso, a carga horária do Ensino Médio, que antes era de 800 horas, passará para 1.000 horas anuais. O total, portanto, será de 3 mil horas ao longo dos três anos, sendo 1.800 destinadas para a FGB e 1.200 para a realização dos itinerários formativos.
A implantação deste modelo será gradativa. Iniciou-se neste ano, pela primeira série do Ensino Médio e seguirá em 2023, paras as segundas séries e, em 2024, completando o ciclo para as terceiras séries.
Um futuro só de tecnologia?
As transformações do Novo Ensino Médio buscam incentivar o protagosnismo dos estudantes, valorizando suas aptidões e interesses. O que vem ao encontro com a outra face da escola do futuro, que segundo estudiosos, muito mais do que focar nos recursos tecnológicos e virtuais, precisará estimular a conexão emocional dos alunos com os desafios da humanidade. Incentivando, para isso, o pensamento crítico, a criatividade e a ousadia. Bem como, o desenvolvimento de características e habilidades inteiramente humanas, que dificilmente serão automatizadas ou substituídas por uma máquina inteligente.
O modelo educacional, em que o aluno é apenas um ouvinte, não faz mais sentido. Pois, o perfil dos estudantes mudou, e essa diferença é percebida pelos professores já no ensino infantil.
Fernanda Leila Gambetta é professora regente de turma na educação infantil, em Pato Branco. Ela menciona que hoje em dia as crianças têm uma rapidez muito maior para absorver os conteúdos. No entanto, o tempo de atenção delas é menor. “Eu preciso sempre ser um pouco mais dinâmica, trazer algo visual, para que os meus alunos tenham uma atenção maior”, comenta.
Em relação ao uso das tecnologias, na sala de aula, a professora acredita que a maioria dos recursos e ferramentas estão aí para ajudar. Porém, é preciso limite quanto ao uso das tecnologias pelas crianças. Isso para que elas não tenham prejuízo no seu desenvolvimento cognitivo e social.
Por esta questão, o desafio das instituições e dos professores, não só no futuro, mas no agora, vai além da inclusão tecnológica. Há a necessidade do desenvolvimento de competências e habilidades socioemocionais que formem pessoas capazes de lidar melhor com as emoções, de se relacionar com o próximo e tomar decisões conscientes para si e para os outros. É preciso apostar no processo de formação integral dos estudantes.
“Não há como uma criança se desenvolver sem ter o contato com outras crianças da sua faixa etária e com os profissionais, que precisam preparados para fazer as intervenções. Por isso, temos que desenvolver, cada vez mais os nossos professores neste aspecto da evolução emocional e da socialização”, observou Jusara.
A coordenadora do NRE de Pato Branco enfatiza que os professores estão aptos a atuar nas salas de aulas, utilizando-se das mais variadas tecnologias, pois tanto as equipes pedagógicas como as administrativas recebem capacitação. Contudo, o processo de ensino e aprendizagem é uma via de mão dupla, onde o professor disponibiliza o conhecimento, instiga o aluno a refletir, pensar, buscar pelas soluções por meio da pesquisa, da tecnologia e da interação.
“Esse é o fundamento da educação e os nossos professores tem plenas condições de fazer tudo isso. Assim como os alunos. Mas tem que ter a contrapartida, a colaboração. Se não, não se constrói conhecimento”, conclui Iara.
Professores e alunos conectados
A capacitação e atualização dos professores, do mesmo modo, é uma preocupação para o futuro do ensino superior. Principalmente, porque no ambiente acadêmico, o perfil dos alunos também está diferente. Muitas vezes reativo. O que exige do professor o domínio das ferramentas tecnológicas e a utilização de didáticas diferenciadas, que os estimulem a ser proativos.
O diretor geral da UTFPR, campus Pato Branco, reconhece que é um desafio romper com os paradigmas de uma geração de profissionais que tem mais de 20 anos de formação. Contudo, não existe volta. A realidade de hoje e do futuro são as novas tecnologias, as quais o professor precisa estar familiarizado, para se relacionar na mesma linguagem dos seus alunos. Alunos esses que nasceram na era da internet, das redes sociais, da informação ao alcance de um clique, na palma da mão.
Segundo ele, a UTFPR quer melhorar a interação professor/aluno e tem apostado em iniciativas que promovem o compartilhamento de conhecimentos e experiências, entre os professores. A criação de uma assessoria de ensino, é uma delas, a qual fundou uma comunidade prática que reúne os professores para estudar novas metodologias e tecnologias de forma sistemática. “São encontros periódicos, em que os professores trocam experiências, compartilham aplicativos, conteúdos e metodologias… Para esta interação, reúnem-se os professores com mais de 20 anos de formação e aqueles que estão formados a menos tempo”, explicou Gilson.
Além de trabalhar para melhorar a interação entre professor e aluno, a UTFPR quer ampliar a sua grade de cursos de graduação, mestrado e doutorado. Atualmente, a instituição conta com 12 cursos de graduação, nove de mestrado e dois de doutorado. [D2]
Essa ampliação iniciará no próximo ano, com a abertura do curso de graduação em Engenharia Cartográfica. Há também a possibilidade de abertura do curso de doutorado em Letras, mas este ainda não está confirmado.
Visando alinhar as expectativas das formações com os setores produtivos, sem perder a ótica da pesquisa e da extensão, a instituição está reformulando todas as grades curriculares dos seus cursos de graduação. De acordo com Gilson, eles aguardam a análise e aprovação do Conselho de Graduação e Educação Profissional (Cosep) e a expectativa é iniciar 2023 com todas grades curriculares novas.
Ele também mencionou que a Universidade almeja, para os próximos anos, atrair mais alunos para os cursos de pós-graduação. Uma possibilidade para explorar as aulas híbridas, pois uma característica dos alunos da pós-graduação é que, em geral, já possuem atividades profissionais e não conseguem se dedicar integralmente ao curso. Seria então a virtualidade uma ferramenta facilitadora.
Assim como no ensino público, entre as instituições de ensino privadas, também há um movimento promissor para a melhoria e o avanço da educação. O que garante, que os próximos 30 anos de Pato Branco também serão de muito sucesso, crescimento e evolução.
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