Diante desse resultado, o executivo prometeu dobrar o faturamento da empresa nos próximos anos, algo que considerava improvável em 2020. “(Agora) a visão é um pouco mais otimista do que no ano passado, quando estávamos no meio da crise, sem muita perspectiva. Revisamos o plano e enxergamos esse potencial. É um plano bem robusto e pé no chão.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
A Embraer anunciou que pretende dobrar a receita. Em entrevista ao ‘Estadão’ no ano passado, o sr. disse que dobrar o faturamento até 2025 ‘seria muito’. O que mudou?
A vacinação avançou. A visão é um pouco mais otimista do que no ano passado, quando estávamos no meio da crise, sem muita perspectiva. Revisamos o plano e enxergamos esse potencial. É um plano bem robusto e pé no chão. Neste ano, a receita vai ficar entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões. Estamos falando em entregar entre 45 e 50 aviões comerciais e entre 90 e 95 aviões executivos. Quando se projeta isso para cinco anos, com o crescimento do mercado, imaginamos a aviação comercial voltando a 100 aviões e a executiva passando dos 120 aviões. Também assinamos, em novembro, um contrato de 20 anos de serviços da OGMA (empresa portuguesa de manutenção de aviões em que a Embraer tem 65% de participação) com a Pratt & Whitney (fabricante de motores de aeronaves). Isso permite quase triplicar o faturamento da OGMA, de 200 milhões para 600 milhões por ano. Ainda estamos capturando market share na área de serviço da nossa própria frota. Isso do lado da receita. Neste ano, com crescimento de receita modesto, saímos de um caixa negativo de US$ 900 milhões para algo entre US$ 150 milhões e zero. O que está acontecendo é puro ganho de eficiência. Reduzimos os estoques, gerenciamos os investimentos, reduzimos os custos do que compramos. A companhia agora é mais ágil, leve e enxuta. Estamos indo para um cenário de maior receita, e a rentabilidade vai melhorar mais que proporcionalmente.
O sr. implementou um programa de corte de custos que reduziu também investimentos em marketing. A Embraer não participou, por exemplo, da feira de Oshkosh (uma das maiores de aviação). Entrando nessa nova fase do setor, com empresas retomando voos, há perspectiva para voltar os investimentos em marketing e no comercial para alavancar vendas?
Esse controle de gastos é inteligente. Estamos tentando usar mais marketing digital. Mas muitas feiras foram canceladas. Em algumas estaremos presentes. Estamos tentando racionalizar, mas não estamos contendo despesa em marketing. Ao contrário, uma das iniciativas é uma série de atividades para fortalecer vendas de produtos existentes.
No ano passado, a empresa demitiu 2,5 mil funcionários. Mais demissões podem ocorrer ou a crise ficou para trás?
Não estamos falando mais em demissão. Estamos agora discutindo o futuro. A produção vai crescer, isso vai demandar mais gente, a menos que ocorra uma catástrofe. Ainda ficamos preocupados quando escutamos sobre a variante Delta. Mas os números do segundo trimestre mostram que a gente conseguiu fazer a virada e preparar a companhia para um crescimento sustentável.
A reunificação da empresa, após a desistência da Boeing na compra da divisão comercial, foi concluída? Como está o processo de arbitragem e quando isso deve terminar?
A reintegração está concluída, com exceção de processos de TI, que esperamos concluir no começo de 2022. O processo de arbitragem é confidencial, mas esperamos que se encerre até janeiro de 2023.
A Embraer anunciou projetos sustentáveis ambientalmente, apresentou inclusive um avião demonstrador elétrico. Mas a empresa também já afirmou que novos projetos só saem do papel quando houver parcerias para diluir o investimento. Avançar nessas pesquisas de novas soluções tecnológicas vão, então, depender de se conseguir sócios?
A gente está no meio termo. No projeto do turboprop (um novo avião turboélice que competiria com o ATR, da Airbus e da italiana Leonardo), recentemente conversamos com aéreas americanas, que mostraram interesse. Continuamos trabalhando no desenvolvimento do produto. O que queremos é acelerar esse processo e, para isso, estamos buscando parceiros. O eVTOL (nome oficial do ‘carro voador’) segue no mesmo caminho. Estamos negociando com uma Spac (empresa que primeiro abre capital na Bolsa para, depois buscar um projeto para investir) para fechar a estrutura. Continuamos trabalhando no desenvolvimento, mas precisamos de parceiros para acelerá-lo.
Então a possibilidade de não realizar novos projetos sem parceiros continua valendo?
Estamos com boas expectativas boa de fechar parcerias. O eVTOL está mais avançado, mas o turboprop também. Não dá para dizer que não vai acontecer. As coisas são dinâmicas.
A Airbus está trabalhando para desenvolver um avião a hidrogênio. A Boeing aposta em combustíveis sustentáveis. A Embraer apresentou, ontem, várias soluções para ter aeronaves mais sustentáveis. Mas qual seria a grande aposta da empresa?
Nossos aviões já estão preparados para operar com 50% de SAF (combustível de aviação sustentável). Isso só depende de certificação e de ter disponibilidade do combustível. Com relação a outras tecnologias, elas dependem dos fabricantes de motores, até mais do que da Embraer. O SAF é uma opção de curto prazo. O hidrogênio é de mais longo prazo e a eletrificação, neste momento, vemos como uma solução mais difícil para aviões grandes. Nossa abordagem será ampla.
Outras empresas que estão criando eVTOLs prometem entregá-los em 2024. A Embraer poderia antecipar seu prazo, hoje de 2026?
Temos uma engenharia que consideramos muito competente. Esse é um produto disruptivo, não se trata de um avião comum. Nossa engenharia indicou o prazo de certificação para 2025. É difícil julgar o que as outras estão fazendo. No caso da Embraer, que tem experiência de certificação, esse é o melhor que a gente acha que pode fazer.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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