Fazer sucesso no time que defende desde a categoria sub-11 foi uma parte da recompensa para os anos de dificuldade. E a maior delas veio no domingo, quando Luan abriu o caminho para a vitória sobre o Palmeiras por 2 a 0 e fim do jejum de 16 anos sem conquistas. Ele foi um dos mais festejados. O marcador fez um dos gols do título. Em entrevista ao Estadão, o volante reconhece que ainda não caiu a ficha de seu feito histórico, fala dos desafios de evoluir como um volante e dos projetos sociais que desenvolve onde nasceu.
O que esse título significa para você e sua família?
Vou levar isso para minha vida. Vestir a camisa do São Paulo é uma honra, um sonho realizado, mas também é um peso e uma responsabilidade muito grande. Meu sonho era poder retribuir todo o carinho desde os 11 anos. A ficha está caindo aos poucos. Minha mãe não acredita. Era meu sonho conquistar o título e colocar meu nome na história do São Paulo. Não acho que o título é apenas para tirar o São Paulo da fila. A gente quer resgatar as glórias do time.
Como foi comemorar o título com a torcida do lado de fora do estádio?
Depois da volta olímpica, com o estádio vazio, eu e o Luciano pensamos em ir lá fora e acenar para a torcida. Lá de dentro dava para ouvir os fogos e os gritos. Aquilo ajudou, contagiou e empurrou para a gente dar um pique a mais. A gente queria retribuir. Tivemos de entrar no estádio porque a multidão estava aumentando. Era uma empolgação muito grande. A torcida precisava desse título. Estamos muito felizes com tudo o que eles fizeram.
Qual foi a contribuição da comissão técnica e do técnico Hernán Crespo para o título?
Eles nos deram muita confiança. A técnica e a tática são muito importantes, mas a confiança também é fundamental. Depois do que aconteceu no passado, quando perdemos o título brasileiro, o grupo sentiu bastante.
Esse gol significou uma volta por cima para você exatamente contra o Palmeiras?
Foram lances quase iguais. No Brasileiro, nossa equipe tinha um mínimo de chances de ser campeão. Diante do Palmeiras, em chute do Rony, a bola bateu em mim e entrou. A gente tinha perdido jogos antes, mas, na minha cabeça, aquele empate prejudicou um pouco. O Hernanes, Volpi disseram que não foi minha culpa. Quando chutei na final, praticamente do mesmo jeito, fiz o gol. Só tenho de agradecer a Deus e a todos que me ajudaram.
No ano passado, você ficou alguns jogos no banco com o Fernando Diniz. O que houve? Pensou em uma transferência?
Foi um dos momentos difíceis. Fiquei no banco, mas sempre respeitando os companheiros. Tinha de fazer meu trabalho. Jamais pensei em sair do São Paulo. Pensava em voltar a jogar e recuperar meu espaço.
Você viveu alguma dificuldade na base? O início é difícil, né?
Pensei em desistir em alguns momentos. O motivo era a distância de onde morava, Morro Doce, e o CT de Cotia. Acordava 6 horas e tinha de pegar ônibus, metrô e trem para treinar. Como dormia pouco, ele estava sempre cansado e rendimento caía. Tinha de comer marmita dentro do ônibus. Aquela fase dos 14 aos 16 anos foi muito difícil. Mas minha mãe não deixava que eu fosse treinar sem marmita. O arroz e o feijão eram bons.
Você não se distanciou do lugar onde você mora, não é?
Não, nunca. Em meio à pandemia, eu fico imaginando como sobreviver sem ter o que comer. Meu projeto começou com a venda de camisa personalizadas. Os torcedores compraram a ideia. O lucro das vendas é destinado para a compra de cestas básicas no lugar onde nasci. Não tenho condições de ter um instituto, mas é um dos meus sonhos.
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