Padre Judinei Vanzeto
No 2º Domingo do Advento a liturgia católica faz recordar que a história humana é uma história de salvação. O ser humano é convidado a percebe a ação de Deus nos acontecimentos do cotidiano. O fruto saboroso dessa percepção é a gratidão, porque onde Deus intervém a vida se torna missão, o sofrimento se torna redenção e o fracasso se transforma em glória, uma glória que vem de Deus.
O livro de Baruc, que foi escrito na “Babilônia” (Br 1,1), no tempo em que Israel estava exilado, reflete o momento mais dramático da história do povo de Deus. Os sofrimentos do cotidiano no exílio se tornavam ainda mais intensos quando o povo tomava consciência que a situação em que se encontrava era resultado de um longo processo de recusa da Palavra de Deus anunciada pelos profetas, recusa que o impediu de prever e evitar a tragédia.
No tempo do exílio, a cidade de Jerusalém permaneceu vazia, sofrendo os efeitos de uma casa abandonada. Por isso, frequentemente os poetas bíblicos a comparavam a uma mulher que perdeu o marido e teve os filhos arrancados à força dos braços. Já o livro das Lamentações, por exemplo, se abre retratando a situação dessa “mãe-viúva”: “Passa a noite chorando, pelas faces correm-lhe lágrimas. Não há quem a console entre os seus amantes; todos os seus amigos a traíram, tornaram-se seus inimigos” (Lm 1,2).
É, pois, neste contexto de desolação e angústia que a Palavra de Deus advém através do profeta Baruc: “Despe, Jerusalém, a veste da tua tristeza e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus” (Br 5,1). Todo o texto da nossa leitura é articulado em torno da palavra glória, que se repete seis vezes em apenas nove versículos. Baruc, não quer deixar nenhuma dúvida que a única glória capaz de transformar o luto em festa e o pranto em alegria é a glória que vem de Deus, não que buscamos acreditando receber deste mundo.
Revestida da glória que vem de Deus a cidade desolada pode, agora, se apresentar ao mundo com um novo nome: “Paz da justiça, e Glória da piedade”. É um nome no qual está inscrito um programa de vida, uma missão. Como Jerusalém, toda cidade que abre suas portas para a glória que vem de Deus está destinada a tornar-se um lugar onde se constrói a verdadeira paz, não aquela paz mantida sob ameaça de punições, mas aquela paz que é fruto da justiça que gera vida e salvação.
Já o texto de Lucas 3,1-5 apresenta a proposta decisiva da glória de Deus que vai brilhar no mundo: “a Palavra de Deus advém (egeneto) a João, filho de Zacarias, no deserto” (Lc 3,2). Esta simples frase, mais que o anúncio da missão de João, é o anúncio de um evento crucial. Trata-se, na verdade, da grande reviravolta da história da salvação.
O cuidadoso registro da organização política da Palestina no tempo de Jesus, com a mesão das grandes personalidades que governavam o mundo de então, do imperador romano, com os seus tetrarcas, até as máximas autoridades de Jerusalém, serve apenas de pano de fundo.
O que aparece em primeiro plano é João Batista, personagem sem nenhuma importância política e residente no deserto da Judeia, lugar sem importância e sem vida. João é apresentado como portador de um anúncio que diz respeito a todos, inclusive, ou melhor, principalmente as pessoas que menos contam na sociedade. Um sinal claro da universalidade da salvação de Deus em Lucas é a última frase do evangelho: “E toda a carne verá a salvação de Deus” (3,6).
Mas, o advento da Palavra de Deus no deserto, se concretiza em um apelo urgente à conversão. Essa, por sua vez, implica mudança de mentalidade e retorno a Deus. Sem essa disposição interior, o Natal será o mais do mesmo. Sem esta conversão o Natal será apenas uma festa social e uma data comercial, onde o Papai Noel é o grande protagonista. Aliás, o Papai Noel é o grande usurpador do verdadeiro sentido do Natal.
Jornalista, diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti, gestor da Unilasalle/Fapas Polo Coronel Vivida e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR