Temos assim nos últimos dias, a abundância de fatos, diríamos inéditos e até mesmo à primeira vista incompreensíveis, e mesmo difíceis de acreditarmos, voltemos ao dia 20 de abril, domingo de páscoa, todos esperando a pessoa do querido papa Francisco, sim no final das celebrações ele aparece, saúda o mundo inteiro, seu rosto um tanto quanto debilitado, voz fraca, mas ele fez questão de acenar pela última vez, deixar a todos uma mensagem de que sempre estaria conosco, no outro dia, a surpresa global, a sua morte repentina. Todos, crentes e não crentes de algum modo foram tocados por essa partida precoce, Francisco nos deixou inúmeros exemplos de bondade, coragem, audácia, a quebra de protocolos, foi onde ninguém vai; a sua figura ainda levará muito tempo para ser assimilada e compreendida, de qualquer modo, o fugaz século XXI não apagará sua figura.
Os dias que se seguiram foram dias de luto e também de muita expectativa, quem seria eleito o novo Papa? Progressista? Conservador? Nomes pulularam por todos os cantos, apostas as mais diversas foram feitas e mais uma vez fomos então surpreendidos, veio Leão XIV, alguém que aparentemente estava esquecido em algum canto do Peru, a exemplo de Francisco, pouquíssimas pessoas sabiam quem era ele, mas minutos após sua eleição o mundo virou sua vida de cabeça para baixo, ficamos sabendo e ainda estamos recebendo notícias desse novo embaixador de Cristo na Terra, Robert Francis Prevost, o primeiro Papa estadunidense da Igreja. Ainda há um processamento por parte das nossas mentes, pois passado, presente e futuro se mesclam em sua figura, assim que ele surgiu e se dirigiu ao mundo, mais uma vez fomos surpreendidos pelos desígnios humanos e divino.
O querido e recém falecido Papa Francisco, era jesuíta, ou seja, tinha como mestre Santo Inácio de Loyola (1.491-1.556), agora Leão XIV provém da ordem agostiniana, isto é, tem como guia referencial, nada mais, nada menos do que Santo Agostinho (354 DC-430 DC), um dos maiores filósofos e teólogos da igreja em todos os tempos, com uma vasta obra literária, entre as quais se destacam “A cidade de Deus” e sua monumental “Confissões”. Tanto Inácio de Loyola, quanto Agostinho deixaram ao mundo inteiro um exemplo de entrega sem igual, foram missionários em épocas distintas, mas que tem muitas semelhanças com a nossa atualidade temporal, souberam como poucos aliar fé e razão, serem mestres e aprendizes ao mesmo tempo, tiveram a graça de enxergar muito mais do que podiam ver naqueles momentos em que viveram; hoje voltam à cena para nos auxiliar.
Leão XIV, não é o xérox de Francisco, mas com toda certeza carrega traços de seu predecessor, não por acaso quis homenagear outro grande Papa, qual seja Leão XIII (1.810-1.903), célebre pela sua magistral “Rerum Novarum”, a qual merece ser lida por qualquer um de nós e que com certeza voltará muito em breve com novas reflexões por parte de Leão XIV e até mesmo atualizada. Desde então o mundo passou e vem passando por mudanças jamais vistas, numa velocidade espantosa. Leão XIV sabe muito bem como anda o mundo atual e a sociedade, antes de ser papa já esteve em muitos lugares, inclusive aqui no Brasil. São fenômenos aqui e acolá que atormentam a existência humana e extra-humana em todas as direções, as revoluções silenciosas e as muitas barulhentas que que surgem nos deixam inquietos, pois prometem sempre mais e cumprem cada vez menos.
Bioeticamente, a figura papal é sempre sinal de esperança e com Leão XIV não será diferente, num mundo que fala demais porque não tem mais nada a dizer, porque perdeu a capacidade de ver, fazer e escutar, a voz de alguém vindo também da periferiapoderá ser um farol de grande importância para todos, assim como foi Francisco. Todos os papas enfrentaram situações peculiares em seus papados e com esse não será nada diferente, os temas mais prementes hoje continuam sendo as guerras infames, a desigualdade brutal tanto de um lado, quanto do outro, a inteligência artificial, suas possiblidades e suas falácias, a economia que continua matando de forma aberta, a crise climática, os novos modelos de refugiados e as diferentes pobrezas, são apenas alguns dentre tantos outros temas que Leão XIV abordará, todos nós desejamos a ele um abençoado ministério petrino.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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