Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, esse título pode ter duas perspectivas de compreensão e/ou interpretação, que podem ser resumidas 1) no entendimento da criança/pré-adolescente e 2) no entendimento dos pais e educadores.
Didaticamente falando, A pré-adolescência é definida pelos estudiosos, em geral, como a fase entre 10 e 14 anos de idade. Neste período ocorre a transição da infância para a adolescência propriamente dita.
Para os pais e educadores é importante entender essa fase, tanto se os pais tiverem filho único como se tiverem dois filhos em idades diferentes, um na pré-adolescencia e outro na infância. Essa questão necessidade de uma reflexão à parte.
Normalmente, em termos de experiências comportamentais, as mudanças são muito grandes. Isso se dá porque a passagem do estágio infantil para o estágio da pré-adolescência muda em quase todos os aspectos.
Os filhos começam a perceber que os pais vão, pouco a pouco, experimentando suas autonomias. Pode vir sozinho do colégio, pode ir em algum lugar sem a presença dos pais, ou seja, parece que os pais, começam o “desligamento do cordão umbilical”. É uma experiência maravilhosa e apavorante.
Maravilhosa porque os pais vão “soltar a corda” acreditando que o (a) filho (filha) aprendeu as lições básicas de cuidar de si mesmo (a). Em outras palavras o (a) filho (a) começa a demonstrar que aprendeu as regras essenciais de vida em comunidade e de socialização.
Apavorante porque você, como pai/mãe morre de medo que o (a) filho (a) sofra, de alguma forma, tenha algum tipo de frustração profunda. É um tempo em que se colocam à prova os conceitos e regras de cuidar de si e cuidar do outro.
Muitas vezes, quando lembro desse tempo ainda sinto alguns calafrios. E isso tanto faz se for filho ou filha. Pai e mãe tendem a “proteger” o mais que puderem, o que de todo não é ruim. Porém, é preciso agir com bom senso e responsabilidade.
Não se pode soltar a corda toda de uma vez. Temos assistido entre “perplexos” e “indignados” casos de meninas e meninos de 12 a 14 anos de idade soltos na rua até altas horas da madrugada, sei lá com quem. Os pais, em grande parte, perdem absolutamente o “controle” da vida do (a) filho (a).
Precisamos entender que há mudanças imensas ocorrendo com as crianças que se tornam “pré-adolescentes”. Há confrontos declarados consigo mesmo: quem sou eu? Por que sou assim? Por que não consigo entender e aceitar meus pais e professores? O que quero da vida?
É uma fase transitória (graças a Deus) mas muito profunda. Uma fase que marca para sempre a vida da pessoa. Mudanças físicas (às vezes inaceitáveis, o desenvolvimento neurológico, psicológico, social, da própria identidade.
É, de fato um período que traz processos difíceis e inventáveis, que além da questão do desenvolvimento (físico, psicológico, social) traz também o desenvolvimento dos sentimentos. Sentimentos que se alternam demasiadamente, com altos e baixos incompreensíveis pelo pré-adolescente que precisará, mais do que nunca, do olhar amoroso do pai e da mãe.
É comum momentos de euforia e melancolia muito próximos, alegrias imensas e tristezas profundas, segurança excessiva e insegurança incompreensível sobre si mesmo e os outros.
Momentos de amor intenso e ódio profundo com relação aos pais, irmãos, familiares e amigos.
É importante, prezados pais, que saibam disso para ajudar seu/sua filho(a) para pode ajudá-lo (la) na conquista de sua emancipação dos próprios pais, a autonomia nas escolhas e uma maior liberdade de ação.
Essa fase ainda pode ser apavorante para os pais e para o pré-adolescente porque traz a sensação de “perda” de alguma coisa. Muitas vezes, do jeito de ser, de pensar e de agir como criança que agora não é mais. A criança olha para trás e sente que deixou no passado a maneira de ser infantil e agora precisa “construir” com resultados incertos e inesperados, uma nova maneira de ser e estar no mundo (família, escola, amigos).
É muito comum se pensar que essa é uma fase em que os filhos não são nem crianças nem adolescentes ou como diz o senso comum “nem uma coisa e nem outra”. E, de fato, não são nem uma coisa, nem outra. Por isso, essa fase intermediária colocará à prova seu relacionamento de pai e de mãe de forma absolutamente profunda. Se você não construiu os laços necessários para um relacionamento amoroso, sincero, confiante na infância, agora, na pré adolescência, a cobrança será redobrada.
Com certeza é uma das belas fases da vida. No entanto é preciso dizer-lhes, senhores pais, que é preciso auxiliar o (a) filho (a) passar da fase da infância para a pré-adolescência definindo parâmetros razoáveis para a conjuntura familiar, sem deixar de ouvir e aceitar opiniões dos filhos. Realço: não é tempo de “largar”, de deixar fazer o que entenderem, de “cortar de vez o corão umbilical”, esse momento chegará, mas não agora, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER