Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, no texto da semana passada, trouxe à discussão, a questão de estar conectados, porém isolados. Ou seja, sem demonizar nenhum tipo de tecnologia de informação e comunicação, afirmei que é necessário se ter “bom senso” e orientar nossas crianças e adolescentes para o uso das novas tecnologias sem colocar em risco nossas relações interpessoais.
A partir do texto, recebi alguns comentários e questionamentos. Um dos questionamentos pede que aborde a questão das “telas” e possíveis influências na criança e adolescentes.
Inicialmente parece fácil falar sobre isso, mas não é. A questão não pode ser simplesmente a de dizer se é muito ou pouco tempo, se prejudica ou o que prejudica. Há questões pessoais e de necessidades que não podem ser consideradas apenas da perspectiva de dizer sim ou não.
Em termos tecnológicos, sabemos que a partir dos anos 1950, quando os televisores começaram a tornar-se comuns para todos, as pessoas mudaram drasticamente seu modo de viver. Muitas pessoas passaram a consumir horas e horas na frente da televisão. Parece que isso faz muito tempo, mas não é bem assim. As famílias foram criando “culturas” de consumo das tecnologias de acordo com suas necessidades e especialmente, de acordo com suas possibilidades econômicas.
Existem diversos estudos, no mundo inteiro, sobre o tempo de uso de telas na vida das pessoas. Um dos estudos que cito é o realizado no Reino Unido em 2014, no qual os pesquisadores procuraram saber quantas horas por dia as crianças e adolescentes do Reino Unido passam na frente das telas (televisão, video games, música, internet, telefone celulares). O resultado, pode parecer absurdo, pois sendo a pesquisa, o uso diário de tecnologias de comunicação e informação, chegava a 8.3 (oito ponto três) horas diárias.
Evidentemente que há dificuldades em se estabelecer o que seja “bom senso” no uso de tecnologias de informação e comunicação, quando se vive um mundo absolutamente conectado. Porém, especialistas das diversas áreas da saúde têm dito que a exposição excessiva a uma teça pode gerar SVRC, a Síndrome Visual Relacionada a Computadores. Além do ressecamento ocular, ela também tem como sintoma a dor de cabeça, que é gerada justamente por esse “cansaço na vista”, ou seja, fisicamente, já se tem um grande problema.
Nosso cotidiano está imerso no mundo da tecnologia, especialmente na comunicação e informação. Não se consegue mais viver sem celular, por exemplo. Parece que há uma “síndrome de conexão”. As pessoas chegam em qualquer ambiente, seja casa de amigo, escolas, lojas, consultórios e, imediatamente querem saber da disponibilização de internet.
Parece ser impossivel às pessoas ficar sem acesso web. De fato, o que se observa é que é muito difícil pensar em uma vida completamente desconectada, mas é importante lembrar que passar muitas horas na frente da tela do computador, tablet ou celular é péssimo para a nossa saúde, mesmo que você esteja estudando, trabalhando ou fazendo alguma outra tarefa considerada indispensável.
Muitos especialistas consideram que a internet vicia e pode causar dependência dizendo, inclusive que o quadro não é muito diferente do visto em dependentes químicos, porque a pessoa que não consegue ficar offline pode se tornar irritadiça e ansiosa enquanto não estiver conectada, sentindo a necessidade de navegar na web o tempo todo. Nos piores casos, o vício pode gerar depressão, afetando a autoestima e fazendo a pessoa perder o interesse em atividades que antes a alegravam, culminando em uma infelicidade profunda.
Além das desvantagens físicas, passar muito tempo conectado pode fazer com que a pessoa tenha problemas para se relacionar – ou então mascarar uma possível fobia social, ou seja, dificulta o contato pessoal presencial, fazendo com que ela evite ao máximo qualquer tipo de contato social, por mais que ela conheça as pessoas presentes.
A vontade de ficar conectado sem sair de casa se torna muito maior do que a ver qualquer pessoa, o que causa, claro, graves problemas de relacionamento. Por isso, é importante ficar atento aos sinais: prefere ficar em casa conectado do que encontrar as pessoas cara a cara? Evita ao máximo qualquer tipo de evento ou encontro, seja ele entre amigos, família ou em um relacionamento?
Essa chamada “sociedade digital” que vivemos precisa ter em mente que as crianças e adolescentes, têm um processo de desenvolvimento que necessita da interação social para de desenvolver com harmonia. Por isso, os pais e educadores devem levar essa questão em conta para que as crianças e adolescentes possam viver cada fase de seu desenvolvimento aprendendo a lidar com as novas tecnologias de informação e comunicação.
A Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria indicam que os pais imponham limites aos filhos para o uso de computadores, celulares, tablets e televisão diariamente, o que envolve, certamente a questão da educação. Na próxima semana, falaremos sobre a questão educacional e o uso de mídias de comunicação e informação, por ora, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, psicopedagogo Clínico-Institucional, pró-reitor Acadêmico do Unimater