A oração como escola da esperança! 

No dia 30 de novembro de 2007, o Papa Bento XVI publicou a Carta Encíclica “Spe salvifacti sumus – é na esperança que fomos salvos (cf. Rm 8,24). Quando Bento XVI escreveu sobre os “lugares de aprendizagem e de exercício da esperança” afirmou que a oração como “escola da esperança” (cf. números 32-33), ou seja, é na oração assídua e continuada que nasce e amadurece a virtude da esperança. Neste artigo, seguiremos os principais pensamentos do pontífice para solidificar ainda mais a esperança cristã no Ano Jubilar de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo tema e lema “Peregrinos de Esperança”, a partir da expressão paulina de que a esperança não engana, não desencanta, tão pouco decepciona, porque o amor de Deus se infunde em nosso coração pelo dom do Espírito Santo (cf. Rm 5,5).  A esperança brota e se sustenta do amor que Deus nos tem e o Espírito Santo nos faz experimentar em nossa consciência. Ao reconhecermos internamente, pelo toque do Espírito, que Deus nos ama, nossa esperança se sente segura: aquele que nos ama não pode frustrar-nos.  

Eis a certeza cristã: Deus ainda me ouve 

Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me encontro confinado numa extrema solidão…o orante jamais está totalmente só.  

O Papa Bento traz à memória dos leitores um homem de Deus que dos seus 13 anos de prisão, 09 dos quais em isolamento, o inesquecível Cardeal Nguyen Van Thuan deixou-nos um livrinho precioso: Orações de esperança. Durante 13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão. 

Oração como exercício de desejo 

O Pontífice alemão recorda-nos a orma muito bela que santo Agostinho ilustrou a relação íntima entre oração e esperança, numa homilia sobre a Primeira Carta de João. Ele define a oração como um exercício do desejo. O homem foi criado para uma realidade grande, ou seja, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dilatado. “Assim procede Deus: diferindo a sua promessa, faz aumentar o desejo; e com o desejo, dilata a alma, tornando-a mais apta a receber os seus dons  

Depois usa uma imagem muito bela para descrever este processo de dilatação e preparação do coração humano. “Supõe que Deus queira encher-te de mel. Se tu, porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel?” O vaso, ou seja, o coração, deve primeiro ser dilatado e depois limpo: livre do vinagre e do seu sabor. Isto requer trabalho, faz sofrer, mas só assim se realiza o ajustamento àquilo para que somos destinados. Apesar de Agostinho falar diretamente só da receptividade para Deus, resulta claro, no entanto, que o homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. De fato, só tornando-nos filhos de Deus é que podemos estar com o nosso Pai comum. Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade.  

Enfim, pedimos nestes tempos jubilares, ao Senhor, na força da oração, que sejamos fiéis, homens e mulheres, eternos aprendizes da esperança, cujo Mestre que ensina, é Jesus Cristo, a “Esperança do Pai”.  

Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão 

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