Tradicionalmente o mês de setembro é dedicado à Palavra de Deus – o “Mês da Bíblia”. Para o ano de 2025, a Igreja no Brasil escolheu a Carta aos Romanos como livro bíblico para ser aprofundado, dedicado a maior proximidade com a Palavra de Deus. O texto-base para o Mês da Bíblia de 2025 está focado no lema “A esperança não decepciona” (Rm 5,5), relacionando-se com o Jubileu da Encarnação de 2025, convocado pelo Papa Francisco, morto em 21 de abril de 2025.
No dia 30 de novembro de 2007, o Papa Bento XVI publicou a Carta Encíclica “Spe salvi” facti sumus – é na esperança que fomos salvos (cf. Rm 8,24). Quando Bento XVI escreveu sobre os “lugares de aprendizagem e de exercício da esperança”, afirmou que a oração como “escola da esperança” (cf. números 32-34), ou seja, é na oração assídua e continuada que nasce e amadurece a virtude da esperança. Neste artigo seguiremos os principais pensamentos do pontífice para solidificar ainda mais a esperança cristã no Ano Jubilar de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo tema e lema “Peregrinos de Esperança”, a partir da expressão paulina de que a esperança não engana, não desencanta, tão pouco decepciona, porque o amor de Deus se infunde em nosso coração pelo dom do Espírito Santo (cf. Rm 5,5). A esperança brota e se sustenta do amor que Deus nos tem e o Espírito Santo nos faz experimentar em nossa consciência. Ao reconhecermos internamente, pelo toque do Espírito, que Deus nos ama, nossa esperança se sente segura: aquele que nos ama não pode frustrar-nos.
Eis a certeza cristã: Deus ainda me ouve
Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me encontro confinado numa extrema solidão… o orante jamais está totalmente só. O Papa Bento traz à memória dos leitores um homem de Deus que dos seus 13 anos de prisão, 9 dos quais em isolamento, o inesquecível Cardeal Nguyen Van Thuan deixou-nos um livrinho precioso: Orações de esperança. Durante os anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão.
Oração como exercício de desejo
O Pontífice alemão recorda-nos que santo Agostinho ilustrou a relação íntima entre oração e esperança, numa homilia sobre a 1ª Carta de João. Ele define a oração como um exercício do desejo. O homem foi criado para uma realidade grande, ou seja, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dilatado. “Assim procede Deus: diferindo a sua promessa, faz aumentar o desejo; e com o desejo, dilata a alma, tornando-a mais apta a receber os seus dons”. Aqui, Agostinho pensa em São Paulo quando escreveu aos filipenses que, de si mesmo, afirma viver inclinado para as coisas que estão à frente (cf. Fl 3,13).
Deste modo, realizam-se em nós as purificações, mediante as quais nos tornamos capazes de Deus e idôneos ao serviço da humanidade. Assim, tornamo-nos capazes da grande esperança e ministros da esperança para os outros: a esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. Pedimos nestes tempos jubilares, ao Senhor, na força da oração, que sejamos fiéis, homens e mulheres, eternos aprendizes da esperança, cujo Mestre que ensina, é Jesus Cristo, a “Esperança do Pai”. A oração como escola de esperança.
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