Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), um dia estava Jesus em oração, em certo lugar. Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João Batista também ensinou os seus discípulos’ (Lc 11,1). Foi em resposta a este pedido que o Senhor confiou aos seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental. São Lucas apresenta-nos um texto breve dessa oração (cinco petições); São Mateus, uma versão mais desenvolvida (sete petições). A tradição litúrgica da Igreja reteve o texto de São Mateus (cf. Mt 6, 9-13), nas suas liturgias cotidianas (cf. 2759).
A oração dominical é verdadeiramente o resumo de todo o Evangelho. Depois de o Senhor nos ter legado esta fórmula de oração, acrescentou ‘Pedi e recebereis’ (Jo 16, 24). Cada um pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações segundo as suas necessidades, mas começando sempre pela oração do Senhor, que continua a ser a oração fundamental (cf. n. 2761). Depois de ter mostrado como os Salmos são o alimento principal da oração cristã e convergem para as petições do Pai-Nosso, Santo Agostinho conclui: “Percorrei todas as orações que existem na Sagrada Escritura; não creio que possais encontrar uma só que não esteja incluída e compendiada nesta oração dominical” (n. 2762).
Oração dominical
A expressão tradicional “oração dominical”, isto é, “oração do Senhor” significa que a prece dirigida ao nosso Pai nos foi ensinada e legada pelo Senhor Jesus. Tal oração, que nos vem de Jesus, é verdadeiramente única: é “do Senhor”. Efetivamente, por um lado, nas palavras desta oração o Filho Único dá-nos as palavras que o Pai Lhe deu: Ele é o mestre da nossa oração. Por outro lado, sendo o Verbo encarnado, Ele conhece no seu coração de homem as necessidades dos seus irmãos e irmãs humanos e revela-no-las: Ele é o modelo da nossa oração (cf. n. 2765-2766). Mas Jesus não nos deixa uma fórmula para ser repetida maquinalmente. Como em toda a oração vocal, é pela Palavra de Deus que o Espírito Santo ensina os filhos de Deus a orar ao seu Pai. Jesus dá-nos, não somente as palavras da nossa oração filial, mas também, ao mesmo tempo, o Espírito pelo qual elas se tornam em nós “espírito e vida” (Jo 6, 63).
Mais ainda: a prova e a possibilidade da nossa oração filial é que o Pai “enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: ‘Abbá’ ó Pai!” (Gl 4,6). Uma vez que a nossa oração traduz os nossos desejos diante do Pai, é ainda “Aquele que sonda os corações”, o Pai, que “conhece o desejo do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos” (Rm 8,27).
Pai Nosso, que estais nos Céus!
O Catecismo (cf. nn. 2797-2802) diz que a confiança simples e fiel, a segurança humilde e alegre são as disposições que convêm a quem reza o Pai-Nosso. Podemos invocar Deus como “Pai”, porque no-Lo revelou o Filho de Deus feito homem, em quem, pelo Batismo, somos incorporados e adotados como filhos de Deus. A oração do Senhor põe-nos em comunhão com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. E, ao mesmo tempo, revela-nos a nós mesmos. Rezar ao nosso Pai deve fazer crescer em nós a vontade de nos parecermos com Ele e criar em nós um coração humilde e confiante.
Ao dizermos Pai “nosso”, invocamos a Nova Aliança em Jesus Cristo, a comunhão com a Santíssima Trindade e a caridade divina que, através da Igreja, se estende às dimensões do mundo. A expressão “que estais nos céus” não designa um lugar, mas sim a majestade de Deus e a sua presença no coração dos justos. O céu, a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria, para onde caminhamos e à qual desde já pertencemos. Pai equivale ao novo nome de Deus que implica a consciência da filiação, testemunhada pelo Espírito; é a primeira palavra do cristão (cf. Rm 8,15; Gl 4,6-7).
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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