Uma sociedade cansada de ver, uma multidão exausta de ter diante de si inúmeras promessas de um mundo melhor, um futuro promissor, isso e muito mais num ou outro momento atrapalha a todos, cada um em particular, dentro da sua realidade enfraquece suas esperanças, sempre aparecendo a morte dos sonhos, a ilusão cedo ou tarde sendo desmascarada pela dura e fria realidade, no eterno mundo do comprar e vender, qualquer mercadoria que nos faça felizes ficamos de algum modo alegres para refrescarmos nosso cambaleante andar. Dá-se lugar a passos largos ao que é efêmero, aquilo que sabemos bem não nos levará a lugar algum, mas por mil motivos continuamos a fazê-lo; o antigo que já ficou demonstrado não ser servir para o atual momento presente, ainda fazemos grandes apostas, um pecado cada vez mais comum, que caso não seja refreado poderá nos matar.
Nosso querido e amado Brasil não é o melhor lugar do mundo e nem o pior, pelo contrário, quando olhamos ao nosso redor percebemos de cara que somos uma nação abençoada, com tantas belezas naturais à nossa disposição, um tesouro que milhões de outras pessoas gostariam de ter para si para viverem nele, mas o nosso querido país precisa mudar o seu jeito de ser, a maneira de pensar e agir sobre a natureza, se queremos deixar algo de bom para as gerações futuras. Houveram sim já avanços significativos nessa questão, mas precisamos avançar muito mais, devemos acima de tudo nos libertarmos da mentalidade colonial e escravocrata que ainda grassa entre nós em certos setores, em especial no meio ambiente, nele vemos todos os dias muitos ataques, ataques esses perpetrados por todo tipo de gente, seja ela rica, pobre, instruída ou até mesmo analfabeta.
Comecemos pelos numerosos incêndios que vem marcando cada vez mais com alto teor de destruição muitas paisagens do Brasil, muito especialmente os estados do norte brasileiro, queimadas gigantescas, milhares de focos de incêndio eclodindo aqui e acolá, uma situação cada vez mais insustentável para humanos e extra-humanos, eis um exemplo de como uma mentalidade colonialista ainda persiste no meio das pessoas, achar que colocando fogo nas propriedades para aumentar as áreas de cultivo será a solução, ledo engano, já é sabido que queimadas controladas ou devidamente manejadas são uma ilusão enorme para quem quer que seja; o resultado dessa insanidade todos nós já sabemos qual é, morte do meio ambiente e de tantos seres que ali habitam, intoxicação por fumaça, problemas de saúde, a enorme ganância humana colhe hoje seus frutos, diga-se podres.
Outro problema de gravidade extrema, também localizada na região norte do Brasil, mas que não é exclusividade sua, é a seca, ocasionada sim por diversos fatores, ela não chegou hoje ou ontem ou até mesmo anteontem, é um fenômeno que já vem de longa data mas que agora preocupa muito mais pelo alto teor de intensidade e também gravidade, onde a seca se instala, tudo ela invade, tudo ela desestrutura, nada fica como antes quando da sua passagem que pode durar longos períodos, na raiz dos acontecimentos está sim a irresponsabilidade e a hybris humana, por séculos pensou-se que essa região continha recursos naturais inesgotáveis, daí a grande avidez humana em querer domá-la a qualquer custo, a vida ali já faz tempo deixou de ser como era num passado relativamente recente; hoje mais do que nunca vive-se uma corrida contra o tempo para salvar esse belo cenário.
Bioeticamente, podemos afirmar que a vida de um modo geral, seja ela humana ou extra-humana tomaram contornos de uma enorme vulgarização, inflaram-se tanto os egos com conquistas jamais vistas, que agora paga-se um alto preço pelas diversas turbulências que aí estão, vivemos uma perigosa relação com a vida em geral, ainda pensamos o mundo, o meio ambiente, a terra em termos puramente mercantis, isto é, quanto que podemos lucrar, explorando a terra e seus recursos. Parece que a vida perdeu sua razão, vivemos uma era tão intensa de desvalorizar a vida que isso já virou moda em tantos ambientes, um mundo despojado de um meio ambiente, sem água, sem outros seres ao nosso redor, não é mundo, não é vida, é apenas um cemitério a céu aberto; no ser humano está a salvação, mas o contrário também é verdadeiro, tenhamos pois coragem de admitir.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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