Pe. Lino Baggio, SAC
É uma celebração muito recente da Igreja. Foi o Papa Pio XI que a criou, em 1925. Naquele contexto, a Igreja via como necessário reafirmar a soberania real de Jesus e a importância de seus ensinamentos, em um mundo que ia se afastando cada vez mais do Senhor. Hoje, quase 100 anos depois, caberia a pergunta: será que o mundo está caminhando mais que antes rumo ao Senhor? Não parece ser o caso, pelo menos não se olharmos rápida e superficialmente.
Mas falar de realeza pode trazer muitos mal-entendidos. Se olharmos para os reis de antigamente, que tinham um poder absoluto sobre seus povos, veremos que quase sempre esse poder acabava corrompendo, de certa forma o coração do homem, ferido pelo pecado. Certamente houve reis santos, mas sabemos que nem os santos estão livres da ferida do pecado. De toda forma, a realeza de Jesus é de outra índole. Em sua realeza, lembramos sua divindade, que se manifestou colocando-se a serviço da humanidade. Mas, inclusive, a atuação de Jesus é diferente de qualquer outra forma de atuar de pessoas poderosas. Por mais poderoso que fosse alguém, não poderia servir-nos dando-nos a salvação, o perdão dos pecados, a possibilidade de voltar à amizade com Deus sempre que nos voltemos para ele arrependidos das nossas faltas. O verdadeiro serviço de Jesus foi mostrar que nós somos criaturas de Deus, feridas pelo pecado, mas que Nele podemos encontrar de novo o sentido de nossas vidas e que sem Ele caminhamos para a morte.
Não é uma festa Bíblica, há que dizer. Jesus não aparece na Bíblia como um Senhor Glorioso dos povos. Pelo contrário, uma das vezes que a realeza de Jesus se manifesta é quando estão zombando dele. Quando o vestem de púrpura e o coroam com a coroa de espinhos, de maneira velada, podemos reconhecer aí um sinal de sua realeza, mas a verdade é que os soldados não estavam tão reverentes assim. A outra vez que Jesus é reconhecido como rei é quando entra montado em um jumento em Jerusalém. Ali ele é até aclamado como o filho de Davi! Mas parece que esse reconhecimento não durou muito, já que pouco depois a multidão gritava: Crucifica-o!
Nesta ocasião, vale a pena que nos perguntemos sobre quem é o Senhor Jesus em nossas vidas. Será que permitimos realmente que ele seja o centro dela? Todas as vezes que rezamos o Pai-Nosso estamos pedindo que seu reino, ou seja, sua realeza, seu domínio venha sobre nós. Porque isso é fundamental para o cristão: reconhecer-se criatura.
E, claro, vale lembrar que com essa festa terminamos o ano litúrgico. Já começa, de maneira especial, nossa caminhada de Advento, rumo ao Natal. Que essa festa de Cristo Rei, que será no próximo domingo, dia 20, já nos coloque nesse clima e que não esqueçamos que Aquele menino, frágil e dependente da mãe, que vai nascer é, na realidade, o Rei do Universo. Por ele todas as coisas foram feitas e em nele todas foram renovadas, com sua encarnação, morte e ressurreição.
Vigário Paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida