A guerra em pleno século XXI, juntamente com a fome, é um dos piores, talvez o pior flagelo que a humanidade enfrenta hoje e isso, pois coma guerra muitos outros males acabam aparecendo e não só para com as partes envolvidas, noutras palavras, o mundo inteiro sofre as consequências, as imagens (as que são rigorosamente avaliadas pelos senhores da guerra e posteriormente liberadas) que nos chegam de Gaza são terríveis, a imprensa internacional conivente com a situação mostra o que quer, nada além disso, não dá um passo a mais em sua função.
Gaza e a Ucrânia são a prova viva do maior fracasso humano da história, duas situações que bem sabemos estão alimentando uma indústria armamentista poderosa; além da destruição humana e territorial, a guerra mata a alma de um lado e do outro, ela aniquila as esperanças, o outro sempre será visto com desconfiança.
Os senhores da guerra de hoje, nunca foram tão fracos, nunca foram tão isolados, nunca foram tão criminosos como aqueles que os antecederam, os novos Hitlers, os novos Napoleões, os novos Stalins, os novos governantes, tanto da direita, quanto da esquerda os novos ditadores travestidos de ideais nobres e humanitários, na verdade apenas almejam os seus interesses, a sua sede de poder e conquista; aqueles foram, esses são e os que os sucederem e permanecerem nessa toada, serão sempre seres minúsculos, seres desprezíveis, insanos, seus delírios consomem suas forças, sua credibilidade, essa aliás em baixa já faz muito tempo. Esses que estão ao lado da guerra, refletem a hora do horror em que jogaram a humanidade num beco quase sem saída, uma hora escura e tenebrosa, onde um deslize por qualquer dos lados poderá ser fatal, até quem sabe o último de todos.
Gaza, Israel e Ucrânia, dois conflitos injustificáveis, duas situações insustentáveis de serem levadas adiante como querem seus protagonistas, esses altamente qualificados em termos de sandice e prepotência, embora seus discursos tentem passar uma imagem de defesa de interesse de seus respectivos cidadãos, o que não se confirma na prática, Gaza e Ucrânia é o retrato de um mundo de cabeça para baixo, a irresponsabilidade de seus governantes e suas camarilhas respectivas é grotesca, não fazem outras coisas a não ser viajar de um lado para outro, belos salões de festas e coquetéis luxuosos, conversas frívolas e vazias, entretanto deixam a morte nua e crua para os subalternos, muitos deles que não tem absolutamente nada a ver com a situação; criminosos de ambos os lados, violam a vida, destroem o meio ambiente, matam porque se julgam acima do bem e do mal.
A modernidade atual abraçou de corpo e alma a indiferença, tomou como modelo a mediocridade revestida de raios luminosos, a mesma modernidade outrora defensora de nobres ideias, negou-se a si mesma, jogou na lama conquistas que levaram séculos para serem consolidadas, a mesma modernidade transformou-se em antimodernidade, um rosto totalmente desfigurado, empobrecido e enrugado, esse rosto fantasmagórico aplaude tudo o que é bárbaro, a não vida, o não ser, em muitas situações são capazes até de invocar o Criador para legitimar os seus propósitos genocidas, nada mais bestial e assustador. Ser cúmplice desse triste capítulo histórico, é ajoelhar-se perante a subserviência que nada mais quer do que nossa resignação, a nossa não ação; ser “amigo” da carnificina é ter para sempre as mãos sujas de sangue, como disse Oppenheimer ao então presidente Truman.
Bioeticamente, o mundo da guerra é um mundo desprezível, um mundo de descrédito total, irracional e brutal, jamais a civilização ganhou alguma coisa com a guerra, hoje mais do que nunca somos convidados a não apoiar nenhum tipo de intervenção militar em qualquer parte do planeta, a guerra esvazia a vida, ela insulta a existência, as paisagens afetadas pela guerra tornam-se meras sombras, o mundo como sociedade deveria antes de mais nada deixar os pretensos senhores do mundo falando sozinhos quando o assunto em pauta é a guerra, virar-lhes as costas; a guerra sonegou os direitos mais elementares de uma multidão incontável de inocentes, não sejamos nós mais uma vez a cometermos essa infâmia; os conglomerados bélicos são hoje um câncer em nosso meio, neles o poder técnico é muito grande e altamente perigoso, sejamos pois mais sensatos para com a paz.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com