Space Adventure cumprimenta os visitantes com um vídeo ao som de Rocket Man, de Elton John, na entrada, e entre os itens mais interessantes estão objetos cedidos pela Nasa que ajudam a saciar a curiosidade sobre o cotidiano no espaço em relação a comida e higiene. Alimentos selados a vácuo, intactos desde a década de 1970, fraldas usadas nos trajes para coletar fezes e urina são detalhes inusitados da mostra. Trajes originais, incluindo uma bota ainda suja de poeira lunar, uma roupa usada por Buzz Aldrin e outros artigos preservados estão expostos.
Painéis relatam a história da exploração espacial desde os primeiros projéteis do engenheiro alemão Wernher von Braun feitos com propósitos bélicos durante a 2ª Guerra Mundial – uma dura lembrança de que a ciência pode ser usada tanto para o avanço quanto para o retrocesso civilizatório. Réplicas em tamanho real dos módulos de pouso lunar e de reentrada (que mostra o quão claustrofóbica era a viagem de volta, com três astronautas enfurnados num cubículo trepidante) e dos carros utilizados para atividades na superfície lunar dão a real dimensão dos itens. O espaço criado numa tenda climatizada, porém, oferece pouca ventilação aos visitantes.
Para promover a Space Adventure, um personagem ilustre veio a São Paulo: Charles Duke, 10º astronauta a pisar na Lua, sendo o mais jovem de todos até hoje. “De todas as exposições que já vi mundo afora, esta é a mais completa”, afirmou ele durante entrevista coletiva nesta quinta-feira, 26. “Nem todos os artigos voaram ao espaço, porque a Nasa infelizmente cancelou as três missões finais do projeto Apollo, mas todos foram feitos para voar.”
Duke fez parte da equipe de solo durante a missão Apollo 11, em 1969, em que Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros seres humanos a caminhar por outro corpo celeste. Em 1972, foi a vez dele viajar com a Apollo 16, aos 36 anos, sendo piloto do módulo lunar. “A experiência de caminhar sobre a Lua não mudou a minha vida. Diferente de outros astronautas, não tive experiências espirituais, psicológicas ou filosóficas. Eu estava muito concentrado na missão e não tive tempo de pensar muito profundamente a respeito na época”, admite ele.
Para realizar uma missão de tamanho grau de complexidade como foram as viagens à Lua é preciso que os astronautas tenham preparo físico, conhecimento técnico e resiliência psicológica. Perguntado sobre o que é mais decisivo, ele reflete: “Para o sucesso de uma missão, o treinamento é o mais importante. Claro, se tudo funcionar. Se você tiver uma explosão durante a decolagem, seu treinamento não adiantará de nada.”
Duke tirou essa lição de uma brincadeira que fez em solo lunar, tentando bater o recorde de salto em altura – que ele afirma ter conseguido. A traquinagem o fez cair de costas e quase quebrar o aparato de suporte à vida de seu traje, sem o qual ele morreria. “Jamais faça nada no espaço que você não treinou exaustivamente na Terra.”
Ele lembra que, segundo o plano, teria de dormir entre o pouso e as atividades externas. “Imagine o quão difícil foi dormir duas horas após pousar na Lua.”
Duke diz que vê com bons olhos as novas empreitadas espaciais lideradas por empresas e já até recomendou que amigos voem para o espaço. “Quando estiverem lá, não pensem na falta de gravidade. Olhem pela janela. Será uma vista que vocês jamais viram”, indica.
Para ele, iniciativas como a Space Adventure são relevantes para combater o crescente negacionismo científico – como o perigoso movimento antivacina – e as teorias conspiratórias – como a que sugere que o pouso na Lua não ocorreu ou que a Terra seja plana. “Nós pousamos na Lua seis vezes. É inquestionável. Você pode ver as rochas que trouxemos, os locais de pouso com nossos carros. E a Terra que eu vi do espaço é redonda.”
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