Fernando Ringel
A votação do PL 2630, o tal que uns dizem ser das fake news e outros da censura, segue adiado, e já há quem diga que esse ano ele não volta para a Câmara dos Deputados. No horizonte de tudo isso estão as eleições de 2024, o que vale para os parlamentares, que de Brasília olham com atenção para suas bases eleitorais, e também para quem deseja o fim do “vale tudo” na política nacional. Entretanto há outros interessados: Google, Facebook, Telegram, e outras “big techs”, querem que tudo continue como exatamente como está. Afinal, se no ramo deles “tiro, porrada e bomba” na internet dão lucro, por que iriam querer que algo mude? É compreensível, mas na realidade fica como cantava Gal Costa: “tudo certo como dois e dois são cinco”.
Na vida real, a conta não fecha porque a agressividade que tomou conta da política, e acaba influenciando a população, tem muito a ver com a característica das redes sociais, que dão mais visibilidade para o que mais causa burburinho. Sendo assim, se uma postagem raivosa chega a mais pessoas, por que “falar bonitinho”, como fazia o PSDB?
Isso ajuda a entender o motivo de tantos parlamentares estarem dispostos a falar qualquer coisa para “lacrar”, e também esclarece a razão que faz até os absurdos dessa política teatral se tornarem notícia. Simplesmente porque nas redes sociais, até o jornalismo dança conforme a música dos algoritmos, essa coisa sem rosto, mas que significa apenas a vontade dos donos de cada plataforma. É como se vê no Twitter, “o patrão mandou, a regra mudou”.
Ovelha negra?
Pode até não parecer, mas o mundo é muito maior do que a tela de um computador ou celular. Aliás, o mundo já existia antes de inventarem as redes sociais e é “aqui fora”, onde fake news sempre se chamou fofoca, que cada um toca a vida. Todos de carne e osso, mas nem sempre honestos ou mesmo inteligentes, como comprova o recente roubo a uma loja de calçados em Huancayo, no Peru, onde os ladrões cometeram a proeza de levar… apenas o pé direito de 200 calçados! É nesse “mundo cão” que uns lutam pelo luxo enquanto outros dão graças a Deus por existirem programas como o Brasil Sorridente, relançado pelo governo Federal no último dia 8. E isso infelizmente não é fake news.
Enfim, cada um luta como dá e como tem muito poder, as “big techs” têm pressionado parlamentares e influenciadores a se posicionarem contra o PL 2630. A intenção é claramente influenciar a opinião pública. Nisso tudo, o Ministério Público de São Paulo está investigando indícios de que o Google estaria privilegiando conteúdos contra o projeto de lei nas pesquisas sobre o tema. É aí que surge a pergunta óbvia: liberdade de expressão para quem mesmo? No popular, eles têm poder e tentam criar condições para conseguir o que querem. Fazem lobby em causa própria, simples assim.
Pode não parecer bonito, mas isso funciona e não é necessariamente uma prática fora da lei. É só pensar: por que só eles podem fazer pressão? Os índices eleitorais femininos, por exemplo, ajudam a enxergar melhor a situação: sendo 52,6% do eleitorado, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por que apenas 11,8% das prefeituras são comandadas por mulheres? Simplesmente porque há pouca união e falta racionalidade na hora de escolher o voto. Para o cidadão, esse incansável pagador de impostos, a política ainda é vista como algo distante, difícil, quando na realidade é o que pode acelerar a transformação de ruas de terra em vias asfaltadas. Embora cada empresa tenha seus objetivos, a questão das “big techs” é ilustrativa sobre a necessidade de união na defesa de um objetivo comum. Se Facebook e Google fazem pressão para resolver os problemas deles, e quanto aos dos moradores de cada rua, bairro, cidade e estado desse país? Com as eleições de 2024 no horizonte, é como diria Rita Lee, falecida no último dia 8, “agora só falta você”.
Professor e comunicador
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