Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla
Desde o dia 24 de fevereiro de 2022 o mundo assiste mais um dos tantos fracassos recentes da política internacional, isto é, a guerra violenta e suja que está devastando a Ucrânia no seu todo, um acontecimento que deixa já as suas marcas em cada um, uma guerra travada nos bastidores por aqueles que não pensam no destino da humanidade e muito menos pensam nas inúmeras consequências que esse conflito é capaz ainda de desencadear. O silêncio bem orquestrado pela grande maioria dos envolvidos que está financiando essa carnificina chega a doer em nossos ouvidos de maneira absurda; como disse uma senhora recentemente, “todos nós, os povos, perdemos a memória do nosso caminho, mas o mundo olha para todos nós, temos que mudar ou todos morreremos”; o caminho escolhido por esses seres minúsculos que fazem as guerras é insano e sem volta.
Há um propósito macabro e aterrador nesse período de incerteza pelo qual todos passamos e que a cada dia fica mais visível, é o de isolar o mais que se puder para melhor dominar, os senhores da guerra negam veementemente que não querem isso, mas os fatos os desmentem de forma categórica, a presença desses seres insensíveis tem se tornado um perigo constante seja para a espécie humana, seja para a extra-humana, tais pessoas, fracas em seu ser todo nos leva a crer que nunca aprenderam nada com o passado trágico da grande maioria das nações, a sorte de seus antepassados não lhes toca em absoluto, jamais dialogaram com o sofrimento que uma guerra traz consigo em todas as dimensões. Os senhores da guerra gostam de beber o sangue de suas vítimas em taças douradas; sustentam a todo custo sessenta guerras menores em todo Planeta e tudo fica em silêncio.
O mundo está girando de modo anormal, o grupinho de sujeitos ávidos pelo poder, dominação e controle planetário apenas têm respostas curtas, seus monossílabos são desprovidos de qualquer sentido ou valor, suas palavras ressoam de modo incompleto, não convencem mais ninguém, suas propostas para um Planeta saudável são sempre dúbias que logo se evaporam nas ondas do esquecimento contínuo. Esses mesmos senhores da guerra criaram algumas décadas atrás um mantra que deveria ser agora posto em prática, “o seu deus mercado” seria o grande regulador, moderador, bom condutor e pacificador de toda e qualquer crise principalmente na área econômica (haja vista que a guerra na Ucrânia é também por motivos econômicos), mas eis a grande cartada irônica, isto é, o atual modelo econômico é sim um silêncio completo, diz muito pouco e faz de menos em tempo integral.
Toda e qualquer guerra não é um problema qualquer, é uma ação antropocêntrica, é a total incapacidade de o ser humano perceber seus limites, o que os senhores da guerra chamam de ações preventivas, nada mais são do que uma carga de ignorância e desrespeito, é a hybris levada ao extremo às custas do sofrimento dos outros e da natureza em geral. O vírus da guerra tem o poder de surgir e de se misturar com outras realidades que à primeira vista consideramos normais e cheias de boas intenções, o senhores da guerra são dominados pelos seus caprichos, pensam apenas em si mesmos, por isso pouco lhes importa que haja fome, miséria, destruição, refugiados aos borbotões; essa mudança de rumos imposta a força para milhões de outros seres, mais cedo ou mais tarde trará novas e inesperadas consequências para todos nós, estejamos conscientes disso ou não.
A atual guerra da Ucrânia e os demais conflitos esquecidos convenientemente giram a economia, mas que fique bem entendido: é a economia daqueles que estão lucrando com a venda de todo tipo de armas para esses conflitos declarados e aqueles que acontecem no cotidiano todos os dias, os senhores da guerra precisam a todo instante inventar, projetar e pôr em prática um conflito para que seus arsenais não fiquem velhos, defasados e inúteis, apenas como exemplo, isso se deu nas duas guerras do golfo, Afeganistão e agora com a destroçada Ucrânia (cada um pode enumerar outros tantos exemplos). A realidade preocupante da guerra sistêmica que ora se impõe mostra claramente que o ser humano está despossuído de valores, ele perdeu muito a capacidade de conviver em harmonia com o outro e com a natureza, eis aí o seu grande erro que pode levá-lo a um beco sem saída.
Bioeticamente, a vergonhosa guerra travada em solo ucraniano lembra mais uma vez que o ser humano apesar de tantos avanços nas mais diferentes áreas e que tal avanço teria a possibilidade de melhorá-lo, falhou grotescamente, aquilo que ele criou para lhe dar mais autonomia, mais liberdade e criatividade, tornaram-se agora um grande perigo para ele mesmo e para seus semelhantes; suas criações nunca foram devidamente analisadas a fundo, o futuro sempre pintado de brilhante, agora nada mais é do que um futuro incerto e cheio de armadilhas. Rússia e OTAN promovem nesse momento um derramamento de sangue único, ambos são xenófobos, racistas, escravocratas modernos legitimados pelo seu mercado, política e economicamente desequilibrados que apenas e tão somente querem manter seus privilégios custe o que custar; seus Fuhrer (guias) não são exemplos para ninguém, as verdades que pregam nada mais são do que fake news fabricadas por eles mesmos, ontem como hoje precisamos sim pensar sobre o que realmente queremos.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR