São dois os motivos que levam o treinador a ter de refletir sobre o seu futuro: o calendário “insano” do futebol brasileiro, como ele mesmo definiu, que não permite descanso aos atletas e treinadores e deixa a saúde física e mental desgastada, e a saudade da família. A mulher e as duas filhas de Abel moram em Portugal, sua terra natal. Seu contrato termina no fim de 2022.
“Tenho que fazer uma reflexão muito grande. O clube já demonstrou sua vontade. Sou muito grato ao clube, ao Maurício (Galiotte), a Leila (Pereira). Tenho que refletir com a minha família. Não consigo estar na minha máxima capacidade, energia, é desumano o que fazem aqui. Se quiserem crescer, teremos que ter espaço para descansar”, discursou o treinador bicampeão da Libertadores.
“Vim para o Brasil pelo amor que tenho ao futebol. E agora tenho que pensar. Há um ano disse que era melhor treinador e pior filho, pai e marido. O tempo não tem preço. Vou ter que ter uma reflexão grande como fazem os padres quando se retiram”, acrescentou o português. “Vou parar, refletir e decidir o que for melhor, sobretudo, para o Palmeiras”. Suas declarações foram dadas em uma coletiva emotiva, curiosa e profunda. Deyverson, o autor do gol que deu o terceiro título continental ao Palmeiras, estava ao lado do treinador e chorou, fez agradecimentos, desabafos e mandou recados. No fim, foi tietado por alguns jornalistas.
O estudioso treinador, que se debruça sobre os esquemas táticos e estratégias que pode montar para derrotar times como o Flamengo na decisão da Libertadores, revelou que irá lançar em breve um livro. A obra, diz, começou a ser escrita após o título da Libertadores de 2020 e já está pronta. A ideia é narrar em detalhes o seu trabalho no Palmeiras. As conquistas e derrotas que forjaram sua trajetória no alviverde.
“Em janeiro, o livro vai sair. Ele está feito, falta ser publicado. Nele, vou responder minuciosamente cada uma das questões que vocês (jornalistas) têm. É minha forma de agradecer ao futebol brasileiro”, explicou o português. Ele está há mais de um ano no Brasil e disse ter aprendido mais do que ensinado por aqui, embora entenda que há brecha para muitas melhorias no futebol brasileiro.
“Aprendi que só sendo todos um é que podemos realmente ganhar títulos. Aprendi mais do que ensinei. Tenho muito tempo para me dedicar ao futebol”, observou o comandante palmeirense, cansado em virtude da exaustiva maratona de treinos e jogos. “Se me perguntarem, vou dizer que estou no meu limite mental. Fomos a equipe que mais jogos fez. Tenho que tratar da minha saúde física e mental”.
Abel deu parabéns ao Flamengo depois de derrotar na prorrogação o rival carioca e pediu para que não falem mal de Renato Gaúcho, cuja trabalho no Flamengo tem recebido críticas intensas.
“Eu não sou herói. Sou o mesmo que criticaram. O nosso adversário valorizou ainda mais a vitória, a montanha que tivemos que escalar”, pediu. Segundo ele, só foi possível mais uma vez ser campeão continental graças à compreensão dos atletas de que era preciso “fazer tudo” para alcançar a glória. E isso inclui trocar atletas de posição e mudar esquemas táticos, entre outras ideias. O lateral-esquerdo Piquerez, por exemplo, atuou em boa parte do jogo deste sábado como zagueiro. “Foi preciso os jogadores acreditarem na estratégia. Não sou um gênio, só uma pessoa humilde, que trabalha, para dar o melhor de mim”.
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