Em setembro de 2022, nas ações do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um estudo inédito sobre deficiência e desigualdades sociais no Brasil.
O levantamento que teve como base de dados a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 revelou que naquele ano, haviam 17,2 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no país, o levantamento levou em conta a população com dois anos ou mais, também foi apontado que a maior parcela de pessoas com alguma deficiência, se concentra na faixa etária acima de 60 anos, o equivalente a 24,8%. Já com relação ao tipo de deficiência, a maior parte dos casos envolve os membros inferiores.
Em dezembro de 2021, a presidente da Associação Iguais nas Diferenças, Angélica de Souza Oliveira, que presidia o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Pato Branco afirmou que naquela oportunidade, quase 28 mil pessoas tinham algum tipo de deficiência no município, tendo por base os dados do IBGE de 2020.
A expectativa, é de que o Censo Demográfico, do mesmo instituto permita um levantamento ainda mais aprofundado, principalmente com relação as necessidades desta parcela da população que para muitos parece não existir.
Enquanto isso, a Associação, com a presença da presidente e do vice-presidente do Legislativo, Thania Caminski e vice-presidente, Eduardo Dala Costa, respectivamente, voltou a realizar nessa quinta-feira (25) a Caminhada da Acessibilidade. Com ponto inicial, na praça Presidente Vargas, Angélica e o tesoureiro da Iguais na Diferença, Eloir Goedert, voltaram a percorrer ruas do anel central de Pato Branco, com o objetivo de mostrar as dificuldades de locomoção principalmente de cadeirantes.
Entre os obstáculos: buracos, pontos sem calçadas, desnível de pavimento, degraus entre calçadas e faixas elevadas e rampas inapropriadas, ou, a inexistência delas.
“Faz um ano que fizemos o mesmo trajeto, cobrando melhorias, e hoje constatamos que [a acessibilidade]está pior”, comenta Eloir, ao apontar que o objetivo da caminhada é de cobrar, mas também mostrar melhorias.
Cadeirante, Eloir se diz decepcionado mostrando a piora da situação das calçadas, das guias de rebaixamento, em comparação com um ano. “Pedimos ao Poder Público, à Câmara de Vereadores, que cobre intensamente, incansavelmente, melhorias. Não estou falando só por mim, falo por idosos, cegos, mães que estão com o carrinho de bebê, que usam a mesma guia de rebaixamento, as mesmas calçadas que eu uso [como cadeirante], teria que ter um pouco mais de dignidade, compaixão pelo próximo”, declarou Eloir resumindo seu sentimento em “indignação”.
Enxugando gelo
Angélica fez questão de lembrar que existem legislações nas mais variadas esferas (municipal, estadual e federal) para atender a população portadora de deficiência, contudo, ela desabafou, “estamos enxugando gelo, não temos respostas de ninguém. Lei nós temos, Federais, estaduais e Municipais, mas são leis de gaveta, que não são aplicadas na realidade e precisamos que nossos governos, façam políticas públicas reais para as pessoas com deficiências.”
Em se tratando de políticas públicas locais, Angélica enalteceu as ações para o encaminhamento para o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que estimula a população a reflexão. “Mas, como está essa pessoa [deficiente] dentro da empresa? Que evolução ela está tendo dentro da empresa? Está sendo acolhida dentro da empresa? A empresa está sendo capacitada para receber esta pessoa com deficiência?.”
Os questionamentos por ela feitos são reflexos de sua própria vivência. “Não [isso não vem ocorrendo]. Eu trabalhei com uma pessoa com deficiência e sei a rejeição quando chega uma pessoa com deficiência dentro da empresa. Existe o pensamento ‘a pessoa com deficiência vai me atrapalhar mais’”, relatou Angélica, reconhecendo que ela mesma já teve essa visão no passado, “hoje mudei, porque entendi que eles são capazes em tudo. Eles possuem uma deficiência, mas o restante, são capazes em tudo.”
A presidente da Iguais na Diferença também deu luz a situação vivida por familiares de autistas principalmente pelo pré-conceito de que autistas, não
possuem autonomia. “Eles vão ter autonomia, a partir do momento que houver um diagnóstico precoce e esta criança for acompanhada desde pequena, com terapias ocupacionais, fonoaudiólogas, médicos especializados, mas nós não temos também”, afirma Angélica enfatizando que “mães que pagam as terapias, têm atendimento rápido”, ao mesmo tempo ela questiona, “e as mães que não tem [condições] que estão na fila de espera?”
Angélica reconhece a dificuldade de profissionais para atendimento, contudo, revela “temos mães que estão há 3 anos na fila de espera, isso é um descaso total. Precisamos que tanto o poder municipal, nos ajude com essas mães, porque essas mães choram constantemente por essa luta diária pela inclusão dos seus filhos, tanto na educação, como na saúde, esporte então nem falamos, porque não existe esporte para a pessoa com deficiência aqui dentro de Pato Branco, isso é fato.”
Angélica fala da necessidade de “que o Governo tenha um olhar empático com as pessoas com deficiência. Gostaríamos que passassem um dia, sentados na cadeira de rodas, fazendo suas atividades, para ver quão difícil seria.”
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