A acusação contra Roberval Leão foi feita na sessão de terça-feira passada da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. Segundo o senador petista Braga Netto mandou o coronel da reserva e um oficial da ativa espioná-lo. Carvalho disse que o episódio ocorreu na primeira semana do recesso parlamentar, depois do dia 15 de julho.
Roberval Corrêa Leão tem 65 anos e é primeiro-assessor parlamentar do 28.º Batalhão de Caçadores, em Aracaju. O militar é coronel de Cavalaria, mesma arma de Braga Netto e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Augusto Heleno.
O cargo de assessor parlamentar é, em geral, ocupado por oficiais superiores e generais da reserva escolhidos pelo comandante militar da área. No caso de Roberval Leão, ele é ligado ao Comando Militar do Nordeste, chefiado até pouco tempo atrás pelo general do Exército Freire Gomes, que chegou a ser cotado para assumir o comando da Força.
Conforme dados do Portal da Transparência, Roberval Leão recebe, atualmente, R$ 29 mil referentes à aposentadoria pelo Exército. Ele está na reserva desde 2003. Em seu perfil no Twitter, Leão compartilha conteúdo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Há duas semanas, publicou mensagem da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) a favor do voto impresso, bandeira do governo federal que foi rejeitada pela comissão especial que analisava a proposta na Câmara.
‘Visita’. “Uma pessoa ligada a mim me chamou para me contar que recebeu uma visita de um coronel reformado, com um emissário do Braga Netto, para saber sobre minha vida, querendo saber o que eu tinha de processo, o que era que eu tinha de problemas, querendo vasculhar a minha vida. Se eu era rico, se eu não era rico”, relatou Carvalho ao Estadão.
O parlamentar afirmou ainda que a tentativa de espionagem ocorreu porque ele pediu a transferência de sigilo telemático de Braga Netto com o Ministério da Saúde, durante o período em que o militar comandou a Casa Civil. Braga Netto foi coordenador do comitê de combate à covid-19. O general deixou a Casa Civil em março deste ano e assumiu o Ministério da Defesa.
O Estadão falou com Roberval Leão anteontem. Por telefone, o militar negou ter espionado o senador. “Não, isso não aconteceu, não. Nada aconteceu, não, viu?”, disse o coronel, desligando em seguida. A reportagem tentou conversar com ele novamente, mas não conseguiu mais contato.
Questionado, Braga Netto afirmou que não determinou levantamento de informações sobre Carvalho. “No mesmo dia em que teve seu nome vinculado a essas graves acusações, o ministro da Defesa ligou para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e esclareceu que não possui qualquer participação no episódio.”
Segundo apurou o Estadão, Braga Netto disse ao presidente do Senado que desconhecia o assunto e que este tipo de ato não é prática nem sua nem do Ministério da Defesa. Pacheco não se pronunciou sobre a acusação feita por Carvalho.
O senador petista deve se encontrar com o presidente do Senado para discutir o que pode ser feito pela consultoria jurídica da Casa e do ponto de vista institucional. “A gravidade é grande, porque eu estou no exercício da minha função e sendo espionado por conta do exercício da função. Nós estamos em uma democracia, não estamos vivendo fechamento do regime, como se explica isso?”, afirmou Carvalho.
Na sessão da CPI, Carvalho disse que um amigo relatou que “um coronel do Exército da reserva acompanhado de um oficial da ativa” foram para Sergipe “bisbilhotar” sua vida “para saber o que é que podia ter para usar” contra ele. “Eu quero dizer ao senhor Braga Netto que eu não tenho medo, que eu não abrirei mão das minhas convicções, que eu entrego a minha vida pela causa que eu defendo, que ninguém vai me intimidar”, declarou.
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), enviou um ofício a Pacheco, pedindo que o presidente do Senado interpelasse Braga Netto e tomasse providências. Na ocasião, Aziz prestou solidariedade ao colega e afirmou que esse tipo de coisa “está acontecendo com todos nós”, em referência aos membros da comissão. O presidente da CPI se referiu a um documento que o listou como “subversivo” em relatórios de inteligência do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de espionagem da repressão da ditadura, revelado pelo Estadão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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