Faria de Sá citou o ex-prefeito em uma fala em que pretendia defender Pitta, que chegou a enfrentar um processo de impeachment. A fala foi dita quando o vereador queria elogiá-lo.
“Fui secretário de Governo dessa cidade, e secretário de Governo num momento em que eu me preocupei com o negro, que era o Pitta, prefeito da capital que estava sendo escorraçado, estava sendo atacado…eu vim ser secretário de Governo e acabei superando as dificuldades daquele momento. Derrotei o impeachment e ele
levou seu mandato até o final. Eu estava preocupado com um negro de verdade, um negro de alma branca, como as pessoas costumam dizer”, disse o vereador.
Uma representação contra Faria de Sá foi protocolada nesta terça-feira, 13, na Corregedoria da Casa. O documento é assinado pela vereadora Luana Alves (PSOL). Segundo parlamentares de diferentes partidos ouvidos pela reportagem, há clima para que alguma punição seja aplicada ao vereador. O vereador pode ser advertido, suspenso por um prazo determinado ou mesmo cassado.
“É muito triste que isso aconteça nesta casa. Já aviso que vamos tomar todas as medidas. Uma fala racista como esta é inadmissível nesta casa”, disse Luana Alves, que classificou o ato cometido por Faria de Sá como crime.
O documento será analisado pelo corregedor da Câmara, vereador Gilberto Nascimento (PSC), que deve nomear um relator entre os sete membros da Corregedoria. O relatório do relator terá de passar pelo órgão e ir a plenário, para aprovação dos demais vereadores (exceto a autora do pedido). A punição pode se de advertência, suspensão e até cassação de mandato – esta última é a punição que Luana solicita em seu requerimento.
A primeira vereadora a se queixar da fala foi Elaine do Quilombo Periférico (PSOL). “Mais uma vez venho pedir respeito para os vereadores para que não utilizem falas racistas neste plenário. Dizer que um negro para ser um bom negro precisa ser um negro de alma branca é uma frase absolutamente racista e inaceitável”, disse. Ela teve apoio da colega de bancada Luana Alves e, logo na sequência, da vereadora Cris Monteiro (Novo), que chamou a fala de “lamentável”.
Inicialmente, vereadores como Adilson Amadeu (DEM) e Carlos Bezerra Júnior (PSDB) chegaram falar em defesa de Faria de Sá, dizendo que a expressão poderia estar descontextualizada e que era preciso ouvir a fala do parlamentar mais uma vez. “Pelo histórico, pela caminhada, pela longa biografia e pelos serviços prestados ao longo de quatro décadas pelo vereador Faria de Sá, não quero eu acreditar que haja alguma afirmação feita de caso pensado, feita de maneira premeditada”, disse Bezerra – que ao mesmo tempo disse que se solidarizava com as vereadores que haviam reclamado. Foi quando a vereadora Luana Alves passou a mostrar um áudio com a frase aos colegas.
“Esta presidência ouviu o áudio e se sente ofendida. É uma fala absolutamente racista”, disse o presidente Milton Leite. A partir daí, uma série de vereadores pediu a palavra para manifestar repúdio, a começar pelo próprio Bezerra. “Quero manifestar meu repúdio”, disse ele.
“Foi uma fala repugnante, racista e absolutamente criminosa. Infelizmente me vejo obrigado nessa posição de fazer essa crítica a essa figura política”, disse Fernando Holiday (Novo).
O líder do PSDB na Câmara, Xexéu Trípoli, afirmou que era “com tristeza” que comentava a manifestação de Faria de Sá, “mas não podemos deixar passar” falas como aquela e que “a gente está aqui tentando reverter tudo o que nosso passado já fez”. “Precisamos tomar muito cuidado com nossas ações e nossas palavras”, disse Isaac Feliz (PL).
Após a reação maciça dos vereadores de todas as bancadas, Faria de Sá pediu a palavra para se retratar. “Realmente me equivoquei e peço desculpas. Não quero discutir com ninguém, só quero pedir desculpas humildemente”, afirmou. Mesmo assim, continuou a ser alvo de repúdio. Os vereadores Eduardo Suplicy (PT), Erika Hilton (PSOL), Fábio Riva (PSDB), Delegado Palumbo (MDB), André Santos (Republicanos), Rubinho Nunes (PSL) e Felipe Becari (PSD) também fizeram críticas, entre outros parlamentares.
O vereador Marlon do Uber (Patriota) disse, já após o pedido de desculpas, que quem comete crimes pode se arrepender, “mas tem que pagar”.
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