A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) estabeleceu novas diretrizes, normatizando a entrada de máquinas, implementos agrícolas e seus veículos transportadores no estado. O documento prevê que as máquinas e implementos agrícolas vindos de outras localidades só poderão adentrar o estado se todas as partes internas e externas estiverem livres de solo e resíduos vegetais, buscando assim impedir a ocorrência de pragas ainda inexistentes no Paraná.
Essas diretrizes estão detalhadas na Portaria nº 129/24, recentemente publicada pelo órgão.
A planta daninha Amaranthus palmeri, presente no Brasil desde 2015, ainda não tem ocorrência registrada no Paraná. Essa é uma das principais ameaças mencionadas no documento.
Causando grandes prejuízos para a agricultura paranaense, o controle ineficiente dessa planta pode inviabilizar a colheita, aumentar o uso de herbicidas e elevar os custos de produção. A preocupação se explicaria considerando que, conforme relatos, uma única planta poderia produzir de 100 mil a 1 milhão de sementes.
“Trata-se de uma espécie com grande capacidade competitiva, que pode levar a perdas significativas: nas áreas com ocorrência, pode reduzir a produtividade de soja, milho e algodão em aproximadamente 80% a 90%”, disse o chefe do Departamento de Sanidade Vegetal da Adapar, Renato Rezende Young Blood. Ela é considerada a praga de maior risco fitossanitário no documento Hierarquização de Pragas de Maior Risco Fitossanitário do Brasil , do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Uma das principais formas de disseminação de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil é o trânsito de máquinas e implementos agrícolas com solo aderido ou com presença de resíduos de vegetais. A principal hipótese sobre a introdução da Amaranthus palmeri é que os campos foram infestados pelo transporte de sementes em colheitadeiras provenientes da Argentina, por essa razão.
“O produtor rural que vai receber uma máquina em sua propriedade, vinda de outro estado, tem papel fundamental exigindo do prestador de serviços que ela chegue limpa, sem solo aderido ou resíduos de vegetais, pois isso pode trazer pragas capazes de ocasionar graves prejuízos para ele e até mesmo depreciar o valor da sua terra”, alertou Blood.
Segundo o chefe da Divisão de Certificação, Rastreabilidade e Epidemiologia Vegetal da Adapar, Juliano Farinazzo Galhardo, a quantidade de prestadores de serviços de colheita aumentou consideravelmente nos últimos anos, havendo, inclusive, casos de pessoas que venderam propriedades rurais para investir na aquisição de colhedoras mais modernas e eficientes, e se especializaram na prestação de serviços de colheita de grãos.
Conforme Galhardo, a variação nos períodos de colheita entre os diferentes estados produtores de grãos na safra brasileira permite que, após finalizar a colheita em um Estado, o prestador de serviço atue em outros de forma sequencial, até que a safra seja concluída em todo o Brasil, e então o equipamento retorne ao estado de origem, onde será novamente utilizado quando a próxima safra tiver início.
Da mesma forma, isso se aplica aos produtores que possuem propriedades em estados distintos e utilizam os mesmos equipamentos para realizar a colheita. “Esses fenômenos contribuíram diretamente para um aumento substancial no trânsito interestadual de máquinas e implementos agrícolas para o Paraná, aumentando o risco de introdução de pragas, inclusive a Amaranthus palmeri”, acentuou Galhardo.
O coordenador do Curso de Agronomia da Unimater e produtor rural, Vicente Michaliszyn, entende ser uma medida positiva e que poderá minimizar efeitos prejudiciais de máquinas que prestam serviços fora do estado. “É louvável essa portaria, uma vez que trata-se de uma questão de segurança sanitária. Máquinas voltam sujas e com restos culturais que podem estar contaminados com doenças e pragas diversas. A portaria exige que se faça a limpeza adequada desses equipamentos, para que retornem ao território paranaense livres de inóculos de pragas e doenças diversas, assim como de sementes de plantas daninhas”, destacou.
Desde fevereiro do ano passado, o Departamento de Sanidade Vegetal da Adapar tem implementado um plano de ação, após a detecção da planta invasora em algumas propriedades do Mato Grosso do Sul. Este plano é essencial para fortalecer a proteção da agricultura paranaense e para prevenir não apenas a disseminação do Amaranthus palmeri, mas também de outras espécies de plantas daninhas resistentes, bem como de fungos, vírus, bactérias e nematoides.
A Adapar possui mais de 30 Postos de Fiscalização do Trânsito Agropecuário instalados na divisa do Paraná com Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina, onde as inspeções de máquinas e implementos agrícolas serão intensificadas, objetivando verificar sua adequação ao previsto na Portaria 129/24.
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