Dom Edgar Xavier Ertl
O Reino que está por vir tem característica fundamental: firma-se na paz. A Igreja, que do Reino é a semente, irradia para o mundo uma mensagem de paz, para a conversão dos povos. O cristão é por vocação testemunha da paz: condenamos toda violência, pondo de lado as ideologias que a sustentam e os sistemas políticos que a fomentam e as elimina de cada comportamento seu. Violência é impor as próprias ideias, não temperar com a caridade o direito próprio, não rejeitar a própria obra, para aplainar caminhos.
O tempo do Advento se abre com a alegria da proclamação de que a salvação é dada a todos. Mas, para obter alegria faz-se necessário a conversão. Não são apenas os outros que devem converter-se! A perspectiva cristã exige conversão de todos os fiéis: desistir de nossa autossuficiência, para participar da salvação que vem de Deus. Repito. Uma atitude fundamental para o tempo do Advento e para a vida inteira, é a conversão: para nos encontrar com Cristo, devemos corresponder ao que ele espera de nós.
A conversão comporta dois momentos
O 1º – momento da consciência: reconhecer o que está errado, conceber o propósito de mudar e pedir perdão. Assim faziam os que recebiam o batismo de João Batista “para a conversão” (Mt 3,11). Hoje podemos fazer isso, com a garantia da Igreja, no sacramento da reconciliação, ou da confissão numa outra linguagem. O 2º – momento da prática. A verdadeira conversão se comprova na prática: viver a vida que Jesus nos ensina por sua palavra e exemplo, assumir-nos mutuamente no amor fraterno, como o Messias assume a causa dos fracos. Essa prática será o fruto que comprova nossa conversão e um ato de louvor a Deus, que nos enviou seu Filho como Messias.
Celebrar a proximidade do Messias, como fazemos no Advento, implica reaquecer nossa caridade. Converter-se a Jesus continua sendo necessário também para o “bom católico”. Sempre, de novo, devemos abandonar nossa vida egoísta, para viver a justiça e a caridade que Jesus Messias veio ensinar e mostrar. Advento é converter-se ao Cristo, que vem como nosso único Salvador e Natal, não significa nada além disso e tudo isso: Nascimento de Jesus Cristo, o Redentor da humanidade.
João Batista: A voz do deserto
A mensagem de João Batista é objetiva: “Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo” (Mt 3,2). O profeta Isaías já havia anunciado um homem para preparar o caminho do Messias: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”. As preocupações de João eram concretas e simples, sem especulações sobre o momento do fim, sem visões, segredos ou viagens celestiais, algo que era comum na literatura apocalíptica. Apesar dos contornos apocalípticos de algumas de suas expressões, a preocupação de João centrava-se na necessidade de conversão perante o fim iminente. João Batista estabelecia uma relação estreita entre o compromisso ético no presente, uma mudança de vida e o julgamento futuro.
Disse o profeta: “Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11). O batismo de João era ritual que significava a conversão e, portanto, abria a pessoa que o recebia à salvação de Deus. Atualizando a mensagem evangélica, deste 2º Domingo do Advento, hoje, João Batista, o precursor, é todo aquele que se dispõe a levar as pessoas até Jesus, e não retê-las para si. No cristianismo autêntico, não transformamos as pessoas em fãs, mas sim em fiéis discípulas missionárias de Jesus Cristo, suas seguidoras, como o fez João Batista, declarando: Não sou eu. É “alguém mais forte do que eu” (Mc 1,7). Preparemo-nos com alegria ao Santo Natal, convertendo-nos!
Bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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