Além de cultivar alimentos saudáveis, sem nenhum agrotóxico, produção de agroecológicos responde pela maior parte da geração de empregos no campo
Até os mais adeptos de fast-food têm optado por uma alimentação saudável. Com a pandemia de covid-19, muitas pessoas passaram a investir em uma alimentação consciente. Isso quem confirma são os agricultores familiares da região sudoeste do Paraná.
Neste sábado (16), é celebrado o Dia Nacional da Alimentação. Falar sobre a data é uma forma para relembrar que neste mês também foi comemorado o Dia Nacional da Agroecologia (3 de outubro).
Cada vez mais em alta no país, o sistema de produção agroecológico vem se tornando uma opção, não só para o consumidor, que sente mais segurança na compra de seu produto, quanto para os agricultores, que têm, cada vez mais, buscado por capacitações e certificações.
De acordo com Elisângela Bellandi Loss, agrônoma da Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural (Assessoar), que atua na Rede Ecovida, tem-se percebido grande procura das famílias agricultoras pela participação na agroecologia.
“Tem aumentado a busca deles por apoio nos processos organizacionais, principalmente nesse período da pandemia. Além disso, os produtores estão procurando a diversificação da produção”, conta, explicando que esta movimentação é bastante saudável para os agricultores, uma vez que “as pequenas propriedades não vão conseguir sobreviver com o alto preço da produção da soja, entre outros.”
No Sudoeste, existem mais de 100 famílias investindo na agroecologia —as quais fazem parte apenas da Rede Ecovida. Esse número é infinitamente maior quando associado às diversas cooperativas e associações da região.
De acordo com uma publicação da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), “o estado é um dos líderes nacionais na produção de alimentos orgânicos, concentrada, sobretudo, em hortaliças […]. O cadastro do Ministério da Agricultura aponta pouco mais de 3,5 mil produtores, que representam 17,54% do total do País. O órgão federal registra que a atividade é desenvolvida em 177 municípios, onde estão 3.363 unidades produtivas.”
A agroecologia tem significativa importância quando o assunto é qualidade de vida, valorização do produtor rural e sustentabilidade e preservação do meio ambiente, uma vez que não utiliza nada de agrotóxicos.
Agricultura familiar e seus desafios
Segundo a agrônoma da Assessoar, hoje, quem mantém a diversidade alimentar da população é uma parte da agricultura familiar, aquela fatia que não trabalha com a produção de grãos, como soja e milho.
Mesmo tendo papel de tamanha importância na sociedade, os agricultores ainda sofrem com questões como sazonalidade, em que os produtos nem sempre estão disponíveis; com questões climáticas; e também com a falta de incentivos federais, normalmente concentrados no agronegócio.
“Para auxiliar o pequeno produtor, que não tem condição de pagar pelo alto valor de manejo da produção de grãos, em se manter no campo, nós trabalhamos o processo de organização deles, seja por associações ou cooperativas. Assim, conseguem ter volume maior de vendas e acesso aos mercados e espaços de comercialização. Sem isso, provavelmente, boa parte deles não estaria mais no campo. Estariam nas periferias da cidade”, reflete.
Trabalho manual: mais trabalho e empregos
A maioria dos horticultores do Sudoeste, assim como do restante do país, está em áreas quase nada mecanizadas, isso porque nem todas as culturas contam com equipamentos adequados para uma escala de produção menor.
“Boa parte do trabalho é manual, o que requer mais mão de obra. Se comparar com o agronegócio, que não exige tantas pessoas no campo, a agricultura familiar emprega entre dez a 15 vezes a mais, isso porque é um serviço mais manual. O que nos mostra que a agricultura familiar também tem função importante na geração de renda.”
Mito ou verdade?
Produto saudável é feio
Mito. Hoje, segundo Elisângela, os alimentos agroecológicos têm mais qualidade que os convencionais. “A qualidade dos produtos orgânicos e a aparência deles é muito superior aos convencionais. Precisamos desmistificar que o orgânico é mais feio. Além de mais nutritivo, é também mais bonito.”
É caro se alimentar de forma saudável
Mito. “As feiras normalmente não alteram o valor do produto durante todo o ano. Isso só é possível porque os agricultores trabalham com produção agroecológica, que tem menos insumos externos e mais uso de materiais da própria propriedade”, conclui.
Coopervereda — cooperativa totalmente agroecológica
A Cooperativa dos Produtores Orgânicos e Agroecológicos do Sudoeste do Paraná (Coopervereda) é a única da região que trabalha, exclusivamente, com produtos agroecológicos. Fazem parte da associação cerca de 50 famílias de todo Sudoeste.
De acordo com Genésio Berns, presidente da cooperativa, a pandemia contribuiu para o consumo de alimentos mais saudáveis. “Hoje, nossa principal dificuldade é não conseguir ter alguns produtos o ano todo, devido à sazonalidade, mas, por outro lado, conseguimos manter nosso preço devido nossos projetos”, comenta.