Em Sal, que está em temporada online desde domingo, 11, uma mulher revive as histórias de um grande amor pertencente ao passado. São memórias reais ou inventadas, momentos felizes ou idealizados de seu relacionamento com um homem desaparecido, apagado por ela mesma e que, agora, deseja reencontrar. “É um trabalho muito íntimo, delicado, feminino mesmo, e precisei descobrir a imagem e a palavra em um espaço de clausura, por isso enxergo esse contraste entre o finito, representado pelo meu banheiro, e o infinito, que é o próprio mar”, explica a artista suas inspirações lúdicas. As apresentações, gratuitas, serão de segunda a sábado, às 21h, e domingo, às 17h30 e 21h, com ingressos que devem ser reservados na plataforma Sympla.
Para colocar em prática tantas ideias, Christiane encontrou a parceria ideal de sua filha, Isadora Tricerri, de 23 anos, responsável pela direção de arte e fotografia do registro audiovisual e por estabelecer um diálogo com o restante da equipe. Ela, que pode parecer centralizadora, sempre pronta para abraçar múltiplas atividades a fim de fazer o espetáculo acontecer, confessa que adorou dividir as tarefas com Isadora. “Uma das poucas coisas boas que tiro desse período imenso de confinamento é o fato de ter tido a oportunidade de ver minha filha como uma grande profissional, com uma veia autoral e plena no seu exercício”, afirma, orgulhosa, a atriz e diretora, que também é mãe do estudante de administração Rafael, de 20 anos. “Dificilmente, seria possível conciliar as nossas agendas naquele velho mundo normal, sempre iríamos esbarrar em compromissos firmados anteriormente por mim ou por ela.”
Sal começou a ser idealizado na metade do ano passado com a ambição, claro, de ser apresentado de forma presencial. “Nem em meus dias mais pessimistas acreditaria que, um ano depois, ainda estaríamos trancados em casa à espera da vacina”, diz Christiane, que, os 59 anos, recebeu até agora apenas a primeira dose do imunizante. A atriz, porém, nunca fugiu das experimentações e entendeu desde cedo que a saída durante a pandemia seria a linguagem digital. No fim de março do ano passado, a intérprete estreou apresentações virtuais do monólogo Frida Kahlo – Viva la Vida, dirigido por Cacá Rosset, que estava em cartaz no momento do fechamento dos teatros, e não parou mais. “Fiz mais de 50 sessões da minha sala e vendi uma média de cem ingressos para cada uma delas”, conta ela, que, ainda em 2020, montou Mulheres da Areia, peça sobre o feminicídio, com os atores Rubens Caribé, Erica Montanheiro, Débora Santos e Lena Roque. “Seria enlouquecedor se nós ficássemos sem produzir, sem enxergar uma solução para as nossas cabeças e, assim, me preparei para Sal.”
A euforia com a estreia virtual de Sal não faz Christiane deixar de pisar no acelerador, e a mente continua a mil em torno de outros projetos. “Não vou descansar enquanto não trouxer o Cacá de volta para os palcos”, avisa. O Cacá em questão é o ator e diretor Cacá Rosset, o fundador do Teatro do Ornitorrinco, grupo que, em 2022, completará 45 anos de atividades e foi o responsável pela consolidação de Christiane em montagens como A Comédia dos Erros e Sonhos de uma Noite de Verão. “O problema é que o Cacá nasceu um hipocondríaco e vive em isolamento social há muitos, muitos anos. Cada vez que puxo o assunto, a resposta que tenho é: ‘Chris, calma, isso vai demorar pelo menos mais uns dois anos ainda’. Vai ser bem difícil, mas eu vou convencê-lo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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