Linhas certas
Não posso deixar de lhe dizer, ao ouvir o som insistente dessa chuva de todo final de verão, que em tudo há grande lição.
Você se queixa desse ou daquele acontecimento desagradável. Você gostaria que não fosse assim.
As coisas parecem que estão sempre fora do lugar, fora de onde deveriam estar.
Hoje é chuvarada em demasia, mês que vem a seca que ameaça a qualidade do ar. Tudo fora da ordem, fora do que deveria ser.
Em determinada região, a abundância de recursos ou condições. Em outra, a escassez de quase tudo. Tão estranho e ameaçador.
Aí é que começa a lição. Nada está fora do lugar, ou melhor, talvez apenas um único elemento: a nossa leitura.
O dito popular afirma que Deus escreve certo por linhas tortas. Pois bem, podemos fazer uma releitura e dizer que Deus escreve certo por linhas certas: tortas estão as nossas lentes. Lentes do leitor.
Na natureza tudo está em perfeito equilíbrio. O que acontece é que, quase sempre, estamos enxergando apenas a parte e não o todo.
A natureza tem seus ciclos, suas estações, as épocas, necessárias para cada uma das suas manifestações. Tempo de semeadura, tempo de colheita.
Tempo de frio. Tempo de calor. Necessárias para um equilíbrio global.
Assim como ocorre nos acontecimentos de nossa vida. Todas as estações nos trazem grandes lições.
Aquilo que chamamos de desagradável, de mal, que nos chateia os dias, pode ser essa chuva que não para.
Percebamos, porém, que ela está nos dando muitas oportunidades. Está preenchendo os nossos mananciais de paciência, de indulgência, de confiança.
Essa chuva está nos tornando mais fortes, mostrando quanto somos capazes de resolver problemas sem desanimar, o quanto podemos seguir adiante, entendendo que depois de tudo isso ela passa. Sim, ela passa.
E quantas vezes ela já passou…
Ah, essa nossa memória…
Quantas estações difíceis, quantas lutas… Quantas vezes já tivemos que reconstruir tudo.
Lembremos do quanto já fizemos, do quanto fomos capazes de realizar quando acreditamos que não conseguiríamos.
Corrijamos a lente. Troquemos por outra, se for o caso. Há quanto tempo estamos com os mesmos óculos?
Leiamos, interpretemos, traduzamos os acontecimentos de forma mais inventiva, mais inteligente. E até com bom humor. Por que não?
Permitamo-nos rir de nós mesmos, levemos tudo com mais leveza. Percebermo-nos por esse viés é, muitas vezes, uma terapia muito agradável.
Só temos a ganhar.
E, da próxima vez que ficarmos tentados a reclamar da chuva que não para, dos dias de estiagem que não têm fim, da temperatura muito alta, muito baixa, pensemos melhor.
Reclamar é sofrer duas vezes. Entender é aprender com a experiência e crescer com ela.
Deus continua escrevendo muito bem. Suas linhas continuam muito perfeitas. Que tal darmos uma revisada em nossas lentes trincadas, riscadas, distorcidas?
E que tal aprendermos a escrever com ele também?
Desde algum tempo, andamos com a caligrafia um pouco sem prática.
Observemos as lições da natureza. Espelhemo-nos no Criador e escrevamos nossa história com mais dedicação à beleza.
Federação Espírita do Paraná
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