Piquerez, de 23 anos, ainda trabalha para escrever sua história no Palmeiras, uma vez que está no clube há apenas quatro meses, enquanto Arrascaeta já se consolidou como um dos protagonistas do futebol brasileiro e pode se orgulhar de ter conquistado várias taças pelo Flamengo, incluindo a da Libertadores, além de ter tido passagem vitoriosa pelo Cruzeiro. O meia rubro-negro se recuperou de lesão muscular que o tirou de ação por 14 jogos e deve ser titular.
Piquerez foi contratado para substituir o compatriota Matías Viña e tem agradado. É titular de Abel Ferreira e tem sido convocado com frequência para a seleção Celeste. Isso depois de passar por alguns problemas de adaptação em seus primeiros dias no Brasil. “Não foi muito fácil. Os primeiros meses, principalmente, foram complicados. São Paulo é uma cidade muito grande e há muita diferença em relação ao Uruguai. O futebol daqui é muito rápido e técnico”, detalha o lateral, em entrevista ao Estadão.
Além da intensidade do jogo, o mais difícil, ele diz, foi se acostumar com a qualidade técnica dos jogadores brasileiros. “Todos aqui são craques. Isso foi muito complicado para mim. Mas agora estou adaptado”, diz o 21º uruguaio a vestir a camisa do Palmeiras em 107 anos.
ELE JÁ FOI MEIA – Piquerez hoje é lateral-esquerdo. Mas nem sempre foi assim. Na base e também entre os profissionais do Defensor, pequeno clube uruguaio conhecido pela capacidade de revelar atletas de renome, ele atuou como meia ofensivo pela esquerda e volante. Só no River Plate-URU é que migrou para a posição que ocupa atualmente. “Como jogava de meia, pode ser um lateral ofensivo muito bom. Sabe cruzar bem. É bom marcador e se adaptou bem à posição de lateral. É um lateral completo”, detalha Fernando Fadeuille, gerente de futebol do Defensor.
O executivo foi técnico de Piquerez no sub-15 da equipe e coordenador da base da qual fazia parte o atleta. Trabalhou com o jogador até 2017, quando Piquerez ascendeu ao time principal. O Defensor, junto com o Nacional, são os times que mais revelam jogadores no Uruguai. Na última Copa do Mundo, na Rússia, dos 23 representantes da seleção, oito foram formados pelo clube do bairro de Punta Carretas, entre eles Arrascaeta. O sucesso na prolífica fábrica de talentos é resultado de uma combinação de fatores.
“Nós temos um sistema de captação em Montevidéu e no interior do país, temos bons profissionais para trabalhar com a formação dos jovens. A metodologia aplicada no treinamento e a estrutura do CT também ajudam para que os jovens se desenvolvam de uma forma plena e possam chegar ao time profissional”, explica Fadeuille.
EX-GANDULA – Entre os juvenis, quando ainda era uma “promessa violeta”, Piquerez foi gandula em alguns jogos do Defensor na Libertadores e chegou a entregar bolas para Arrascaeta, que na época já atuava entre os profissionais. Levar jovens jogadores para serem “pasapelotas” é uma prática comum no futebol uruguaio.
Para Fadeuille, “a pegada, a capacidade de bater faltas, os cruzamentos e a versatilidade” são virtudes do lateral, que chamou a atenção do Palmeiras com suas atuações pelo Peñarol neste ano, incluindo as vitórias sobre o Corinthians na fase de grupos da Sul-Americana.
Será difícil para Piquerez se esquecer desta temporada. Em 2021, o lateral se destacou no Peñarol, foi comprado pelo Palmeiras, estreou pela seleção do Uruguai e jogará no sábado uma final de Libertadores pela primeira vez. “É algo único. Sentimento de muita felicidade”, resume “Joaco”, sobre a possibilidade de poder ser campeão em seu país, no histórico Estádio Centenário. A sua origem é tão importante a ponto de tatuar na pele a data em que fez sua estreia pela seleção uruguaia: 2 de setembro de 2021.
Na decisão em Montevidéu, a tradicional raça uruguaia estará presente. Esse atributo é importante, bem como a disciplina tática e a técnica. Mas o que fará a diferença para o tricampeonato continental de Flamengo ou Palmeiras, segundo Piquerez, é a força mental. “Se o jogador está bem da cabeça, forte mentalmente, o restante é secundário”.
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