Álcool e remédios: uma combinação que pode ser muito perigosa

Sabia quais cuidados devem ser tomados para não exagerar e correr riscos nas comemorações de final de ano

Com a chegada das férias e festas de fim de ano, as pessoas tendem a consumir um volume maior de bebidas alcoólicas, porém muitos fazem uso de medicações de uso contínuo, ou ainda, abusam da automedicação para aliviar sintomas decorrentes dos excessos tanto na alimentação, quanto na prática de atividades menos usuais. A combinação entre esses dois fatores, medicação e álcool, pode ter grandes e significativos impactos na saúde.

Primeiro, é importante entender que ambos podem causar malefícios ao organismo se consumidos sem orientação médica, no caso dos medicamentos, ou em excesso, se tratando de bebidas alcóolicas.

Quanto a toxidade dos remédios, dados da Secretaria de Saúde do Paraná trazem um alerta aos perigos causados. “Medicamento é o principal agente tóxico que causa intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas estatísticas do SINITOX desde 1994; os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos, anti-inflamatórios são as classes de medicamentos que mais causam intoxicações em nosso País (44% foram classificadas como tentativas de suicídio e 40% como acidentes, sendo que as crianças menores de cinco anos – 33% e adultos de 20 a 29 anos – 19% constituíram as faixas etárias mais acometidas pelas intoxicações por medicamentos)”. 

O álcool é a droga mais consumida em todo mundo e no Brasil o consumo é ainda mais elevado. Um relatório Global sobre Álcool e Saúde – 2018, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que o consumo em nosso país, considerando pessoas acima dos 15 anos, supera a média mundial com um consumo médio é de 8,7 litros por pessoa/ano. Em comparativo, os dados da média mundial apontam um consumo de 6,2 litros por pessoa/ano.

No Brasil, a cerveja é o tipo de bebida mais consumido totalizando 62%, seguido dos destilados com 34% e do vinho 3%.

Álcool e remédios

A farmacêutica, Gabriela Machado, conta que o álcool pelo simples fato de estar sendo ingerido já tem um efeito prejudicial. “O etanol é um depressor do Sistema Nervoso Central que, por si só, pode causar alguns problemas de saúde”, explicou.

A mesma salientou que os efeitos podem ser mais nocivos se houver o consumo paralelo de medicamentos. “A ingestão de bebida alcoólica enquanto se há uso de medicamentos, pode ser mais perigosa do que se imagina. Dentre os vários riscos envolvidos nessa mistura, ressalta-se o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, hepatite alcoólica, cirrose, sonolência, diminuição dos reflexos e da memória, e, em casos crônicos e mais graves, pode levar ao coma e ser fatal”.

Limite seguro

São muitas as pessoas que fazem tratamento contínuo com medicamentos e ignoram as recomendações médicas e acabam não abrindo mão de tomar alguns drinks, principalmente, nas festas e comemorações de final de ano. Então fica a dúvida, será que existe um limite seguro para o consumo de bebidas alcóolicas neste caso?

“Com as confraternizações do final de ano, sabemos que é difícil evitar de se fazer um brinde com amigos e/ou familiares, e há riscos mesmo em quantidades moderadas. Uma dica mais segura é tomar no máximo 1 dose, sempre junto com as refeições e lembrar de beber o seu drink com muita água, para aumentar a eliminação do álcool do organismo e diminuir seus efeitos. Além disso, é importante que o paciente não deixe de tomar o seu medicamento de uso contínuo, mesmo com a intenção de se fazer esse brinde de final do ano”.

Outra dúvida frequente, com relação ao assunto está relacionada a eficácia dos medicamentos, se reduz ou potencializa, com a interação com o álcool. Neste caso, a farmacêutica nos explica que a interação medicamentosa com o álcool pode causar diminuição ou potencialização do efeito de um medicamento, dependendo da sua classe medicamentosa. “Um exemplo disso é que se você está usando certo antibiótico, pode cortar o efeito do medicamento, e isto é muito grave pois não irá tratar a infecção bacteriana, agravando os sintomas de febre, dor, entre outros, e necessitará de uso mais prolongado para o tratamento”.

Outra combinação perigosa está relacionada ao uso de psicotrópicos, que são drogas usadas para tratamento de doenças mentais como depressão, ansiedade, entre outras. “No caso de um medicamento antidepressivo, por exemplo, seu uso simultâneo com álcool é potencializado, aumentando em até três vezes o seu efeito sedativo, podendo causar cansaço físico, esgotamento mental, preocupação excessiva e sinais de angústia e mais ansiedade”, alertou.

Os Medicamentos para tratar depressão, ansiedade, diabetes e pressão alta, são os medicamentos mais utilizados pela população Brasileira.

Automedicação

No Brasil, o consumo de medicamentos sem orientação médica é grande e, inclusive, é motivo de preocupação por parte dos órgãos de saúde.

Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia, o nosso país está entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo. “O acesso a farmácias e drogarias e a facilidade na aquisição de medicamentos no popularmente conhecido “balcão da farmácia” promovem um aumento no consumo de medicamentos pela maioria da população brasileira”.

A prática da automedicação, atrelada ao consumo de álcool pode ser nociva, principalmente, porque as pessoas desconhecem as composições químicas e sua ação no organismo.

Questionada sobre quais medicamentos são estritamente proibidos de ser consumidos com bebidas alcoólicas, a farmacêutica Gabriela afirmou que são aqueles que acumulam substâncias tóxicas do álcool no organismo. “É o caso dos antimicóticos (como secnidazol, cetoconazol), antibióticos (como o metronidazol, isoniazida e sulfametoxazol com trimetoprima), antiparasitários (como o mebendazol e albendazol), medicamentos para tratamento de alcoolismo (como dissulfiram e naltrexona), (como), anticonvulsivantes (como fenitoína). Sua interação pode causar palpitações, taquicardia, náuseas, vômitos, hepatotoxidade, dificuldade respiratória, hipotensão, coma e pode até ser fatal.  Inclusive, mais do que se evitar o uso de álcool durante o tratamento, precisa-se esperar no mínimo 3 dias após o término do tratamento, pois ainda tem possibilidade de reações adversas” alertou.

Gabriela Machado é farmacêutica, CRF 25640/PR

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