Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, na semana passado falei sobre a necessidade de enfrentar as dificuldades criadas pelo retorno às aulas presenciais e nós mesmos e nossos alunos e filhos, aprendermos a “dar a volta por cima”.
Pois bem, após um período conturbado causado pela disseminação mundial do vírus SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19, alunos, pais e profissionais da educação de todo Brasil estão de volta para aquele “aconchego” tão característico do mundo educacional: a presencialidade e a interação entre eles.
Pesquisas publicadas nas diferentes mídias sobre a retomada das aulas presenciais, mostra o otimismo dos estudantes com relação ao retorno às salas de aula. Em algumas delas, o percentual de alunos animados com a volta às aulas é de 86%, os otimistas com o futuro somam 80%. Já os estudantes independentes para realizar as tarefas de casa somam 84%, enquanto os mais interessados nos estudos chegam a 77%.
Dados interessantes para gestores, professores e a famílias, pois neste período pandêmico e, por causa do longo período de uso dos aparatos tecnológicos, as crianças receberam informações demais e não conseguiram processar por estarem longe das salas de aula. A memorização e o processo de aprendizagem foram extremamente prejudicados.
Com a retomada das aulas presenciais, pais e professores tem papeis fundamentais. Os pais devem incluir na rotina jogos e atividades que auxiliem na estimulação cognitiva. Os professores, especialmente da educação infantil e anos inicias, precisam tomar o cuidado de realizar avaliações apresentando sempre o lúdico para chamar a atenção para o novo, o diferente que não fique apenas na base maçante dos conteúdos.
O tempo, as tecnologias, o afastamento ou isolamento social, a distância dos colegas, dos professores, da vida escolar, tudo isso refletiu e, reflete, no desenvolvimento cognitivo e educacional de crianças e adolescentes.
Sabemos, todos nós, pais, professores e gestores, que os anos iniciais na vida escolar de nossas crianças são absolutamente fundamentais para despertar e desenvolver habilidades sociais. E entre elas, duas muito importantes: ler e escrever.
E, sabemos, também, que, por conta dessa “dobra” no tempo causada pela pandemia, uma imensa lacuna na aprendizagem foi criada e precisa ser preenchida com o trabalho coletivo de todos: famílias, professores e gestores escolares.
Por conta da retomada, tentei ouvir e ler algumas “vozes” do cotidiano escolar que reproduzo, e que me trazem imensa confiança e esperança no trabalho pedagógico dos professores e na contribuição firme e decidida dos pais. Vozes que se manifestam com alegria, com esperança, com os olhos pousados no futuro, sem perder de vista o presente ainda temeroso e o passado que trouxe tanta dor e sofrimento. Para isso, garimpei textos publicados, conversas trocadas, opiniões trazidas a público e apresento aqui entre “ aspas”, sem identificar nenhuma das vozes para que sirvam de ponto de reflexão a todos nós.
Primeira voz: “Foram dois anos desafiadores. A pandemia nos mostrou que somos capazes de nos reinventar e superar desafios. Conseguimos, com união e muito esforço, sobrepor as dificuldades e manter nossa rotina de ensino, por meio das aulas remotas e híbridas. Mas agora estamos de volta às aulas 100% presenciais e, com elas, vêm o retorno do contato direto aluno/professor, os encontros mais participativos, o calor humano, a interação com os colegas e demais professores, as trocas diárias, ou seja, todo o maravilhoso ambiente que a escola nos proporciona. Eu não poderia estar mais feliz.”
Segunda voz: “Finalmente, o momento tão aguardado chegou e, após dois anos de ansiedade, retornamos ao sistema 100% presencial! Para mim, esse momento é muito importante, por permitir rever os corredores e as salas de aula preenchidos de vida, vida essa trazida pelos alunos. O contato e a interação com os nossos discentes, dentro e fora da sala de aula, possibilitará que retornemos a estreitar os laços e, assim, participemos de forma mais próxima do crescimento e da formação profissional deles”.
Terceira voz: Se eu pudesse expressar como me senti durante esses dois anos por meio de uma comparação, seria como se alguém dissesse a uma criança, em um parque de diversões, que ela poderia pular, correr e se divertir, mas sem gritar, ou a uma pessoa que perdeu algum ente querido que ela poderia chorar, mas sem derramar uma lágrima. Tivemos que dominar tudo isso por todo esse tempo, mas no dia do retorno às aulas os abraços apertados, os sorrisos largos e os olhos lacrimejando recompensaram a espera”.
Quarta voz: “Estou muito animada com o retorno às atividades presenciais. Depois de dois anos de regime remoto e híbrido, é muito bom reencontrar os alunos e (re)conhecer outros que, antes disso, só conhecia por meio das plataformas virtuais. Tem sido muito prazeroso encontrar todos presencialmente e voltar a ter uma das coisas que mais me fez falta nesse período: as conversas nos corredores, nos períodos entre as aulas. Trocar olhares e sorrisos (mesmo que atrás das máscaras), escutar as vozes dos alunos e dos colegas professores têm trazido de volta a espontaneidade e o calor afetivo que são tão caros ao processo de aprendizagem”.
Milhares de vozes poderiam ser apresentadas e, com certeza, trariam reflexões profundas sobre a vida e a escola. Sobre a vida e a família. Sobre a vida e a saúde. Sobre dor, sofrimento, ausências… mas também, sobre fé, esperança e vitória, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER