“Foi uma festa mesmo, como se ele estivesse aqui”, conta a mãe do atleta, Sueli Alves Pereira, de 50 anos. A conquista foi a realização de um sonho para Alison e para a família, como ele mesmo ressaltou em mensagem após alcançar o bronze nos 400 metros com barreira. “Eu não corro só por mim, corro pelo meu treinador, pela minha família”, afirmou. Há 33 anos, o atletismo brasileiro não alcançava medalha olímpica em uma prova individual de pista.
“No começo achei que ele não fosse durar, que ele não fosse aguentar. Quando ele começou a ir pros campeonatos e vir com as medalhas, de ouro, de prata, eu falei ‘isso é sério'”, lembra a mãe do atleta. Sueli conta que a mãe dela observou que ela era separada e precisava que o filho trabalhasse para ajudá-la, mas Sueli insistiu para que o ele seguisse com seu sonho, na carreira de atleta. “Falei ‘só não deixe de estudar, porque de um não dá certo o outro dá’. Até o estudo o atletismo deu para ele”, conta.
Apesar de separados, tanto a mãe quanto o pai de Alison buscaram incentivá-lo, correndo atrás das necessidades do filho para treinar, até que ele passou a ter reconhecimento e a se manter. “Ele que me sustenta”, afirma Sueli, destacando despesas como aluguel e mercado. “Tive câncer, precisei retirar o estômago e tive que me aposentar. Mesmo assim é difícil, então ele me dá uma ajudinha”, diz. Além do caçula, ela tem outras três filhas. Atualmente, mora com a filha Anieli, de 23 anos, que tem hidrocefalia.
“Tô doida pra dar um abraço nele. Ele é grandão, ele me roda. Quero pular no colo dele e ficar”, diz Sueli, na expectativa pelo retorno do filho. “Ele é humilde, se ele sair na rua ele cumprimenta todo mundo, agradece todo mundo”, comenta.
Pelas ruas de São Joaquim da Barra, as pessoas confirmam isso, dizem que se acostumaram a ver Alison correndo pelas ruas e que ele ainda corre pela cidade, cumprimentando as pessoas, quando está de férias em São Joaquim da Barra.
A mãe lembra que a busca por patrocínios no interior foi difícil e que o filho precisou ir para a cidade de São Paulo desde os 17 anos para seguir a carreira no atletismo. “Ele começou no judô, mas se machucava muito. Começou a treinar atletismo e não parou mais”, ressalta.
Sueli diz que Piu participou de projetos na cidade, mas que eram mantidos mais pelo engajamento dos professores, atletas e familiares do que por investimento do poder público ou patrocínio de empresas. Tinham que vender pizzas para conseguirem verba para viajar para competir.
Alison tem uma cicatriz, com perda de cabelo. A marca é consequência de um acidente com óleo quente, que sofreu dias antes de fazer um ano. Ela conta que estava trabalhando em um bingo quando o filho se acidentou. “Minha mãe estava com ele no colo e foi fritar um peixe. Ela foi pegar a tampa, quando ela olhou, ele já estava batendo a mão na panela”, relata Sueli. Ela conta que, na tentativa de virar o óleo para o outro lado, a mãe dela também queimou a mão no acidente. Alison foi tratado em Ribeirão Preto e ficou quase três meses internado. “Essas dificuldades que fizeram ele ser hoje o que é”, pontua Sueli. Ela conta que o filho não tem mais restrições por causa do acidente e que não quis fazer uma cirurgia por estética.
Para Sueli, Alison ter ido a Tóquio já era uma grande conquista, agora ela está mais do que satisfeita com a medalha de bronze e acredita que o filho pode alcançar o ouro em Paris 2024. “Agora ele é um atleta olímpico. Agora mudou um pouco”, ressalta Sueli.
“Olha lá o Téco, é o Téco”, assim que a irmã Anieli acompanhava Alison competindo. Para a família, ele continua sendo, desde a infância, o Téco. O apelido Piu surgiu no atletismo. Alison enviou um áudio para tentar nos explicar a saga desse apelido: “Tem o Piu, o Piu é da cidade, ficava na rua. Depois começou a treinar um ‘maluco’ que parecia o Piu. Depois eu fui treinar, e eu parecia o ‘maluco’ que parecia o Piu”, explicou.
“Nós sempre acreditamos nele. Ele passava quase o dia todo treinando, sábado e domingo. Chegava e colocava os pés no gelo por causa das dores, mas nunca deixou de treinar”, conta a irmã Drieli dos Santos, de 31 anos, consultora. “Estávamos mais ansiosos do que ele”, conta a irmã sobre o adiamento dos jogos, ressaltando a tranquilidade de Alison. Drieli observa que o irmão é jovem e terá novas oportunidades. “Ele vai conseguir o ouro ainda”, afirma.
“É um menino de Ouro”, considera a vizinha Elizete Alves, 66, pensionista. Orgulhosa da conquista para a cidade, ela destaca a humildade do atleta. “Vem aqui, não faz ‘pouco caso’ de ninguém”, disse.
A conquista foi uma inspiração para jovens da cidade, retratada no sorriso que abriu no rosto de Amarildo Lima Júnior, o Juninho, de 16 anos, ao falar sobre a medalha de Alison. “Empolga, né. Dá pra perceber que se a gente correr atrás, a gente também pode chegar lá”, afirmou Juninho. Ele, que sonha em ser atleta profissional no futebol, tem virado as madrugadas acompanhando os Jogos Olímpicos e assistiu Alison alcançando a medalha olímpica.
A administradora Geislaine Fernanda da Silva, 40, costumava ver Alison correndo pela rua. “A gente sabia que ele tinha potencial. Foi merecedor. Um menino que passou tudo o que passou. Firme e forte.”
O estudante Antônio Covas, 22, que jogava basquete durante a tarde de terça-feira, em uma praça em frente ao Espigão, o ginásio em que Piu treinava, também passou a madrugada ligado nos jogos olímpicos, vendo em especial o atleta da cidade. “Hoje foi muita gente comentando, postando em redes sociais”. Ele e o amigo Renan Alves Pimenta, 24, autônomo, acreditam que poderia haver mais incentivo para os jovens no esporte. “Um cara que saiu de onde nós estamos, um lugar com pouca visibilidade, e conseguiu vencer lá, dá uma esperança pra gente também, de um dia conseguirmos vencer também, seja em que área for”, observa.
“Estamos vivendo um momento ímpar com a medalha do Alison. Com certeza, São Joaquim já está em outro patamar”, afirma o diretor de esportes da cidade, Carlos Tagá. “Mesmo antes da medalha, nós já estávamos elaborando uma proposta para apresentar ao prefeito para inserir o atletismo nas escolas, que deve ser finalizada em breve”, explica. Ele diz que deve ser algo único no país.
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