A Campanha da Fraternidade já faz parte da proposta quaresmal no Brasil há mais de 60 anos, sempre trazendo para a reflexão e estímulo de conversão algum tema relacionado com a fraternidade e a caridade. Não há amor autêntico a Deus sem amor verdadeiro ao próximo. “É mentiroso quem diz que ama a Deus, mas odeia seu irmão” (1Jo 4,20). Os temas da Campanha da Fraternidade são, geralmente, voltados para questões de caridade social e, portanto, também são uma proposta de evangelização da cultura e dos ambientes sociais não eclesiásticos. A missão que Jesus deu à Igreja não está dirigida apenas para os católicos e os cristãos, mas para todas as pessoas “de boa vontade”.
Neste ano, o tema da Campanha da Fraternidade aborda a questão da “amizade social”. Esse conceito parecerá novo a muitos, mas não é. Ele também foi amplamente empregado pelo Papa Francisco na bela encíclica Fratelli Tutti (Vós todos sois Irmãos) e indica, basicamente, a amizade como base da vida social. Amizade sem limites nem exclusões ou discriminações. Amizade que signifique reconhecimento do outro como um semelhante a nós, com dignidade igual à nossa, merecedor de todo respeito e consideração. Significa também a superação do medo do outro, do preconceito de todo tipo que impede a aproximação e o respeito; superação de toda forma de agressividade e violência, da lógica da condenação de quem pensa diferente de nós, dos antagonismos extremistas, das polarizações ideológicas irreconciliáveis. Amizade social indica acolhida, abertura ao outro, disposição para colaborar, atenção aos que mais precisam, onde os fortes protegem e ajudam os fracos; em que reina a solidariedade social e a disposição para unir forças e socorrer quem precisa. Amizade social é também a capacidade de ouvir, de celebrar e fazer festa juntos e de valorizar o que há de bom e de belo no outro. Amizade social é expressão de paz.
A Campanha da Fraternidade deste ano toca numa questão crucial para o nosso tempo, em que se anda com os nervos à flor da pele e as armas sempre empunhadas para se defender e atacar. Tempo de polarização ideológica, política e até religiosa, que penetra e envenena todos os ambientes da convivência, não poupando as famílias, escolas e igrejas. Isso pode ser tudo, menos o que Jesus ensinou no Evangelho. A manutenção das injustiças sociais e internacionais e as guerras são expressões dessa tensão e explosão de ódio e violência e da falta de fraternidade.
O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é a própria fraternidade. E não podia ser mais oportuno, para nos voltarmos, novamente, ao cerne dessa proposta evangelizadora da Igreja no Brasil durante o tempo quaresmal. Quem busca a Deus de coração sincero também deve buscar seu próximo, de sincero coração. O lema da Campanha – “Vós sois todos irmãos e irmãs” retrata palavras de Jesus segundo o Evangelho de São Mateus (Mt 23,8). Jesus adverte seus discípulos a não imitarem o modo de proceder dos escribas e fariseus, que gostam de serem chamados de mestres, pais e guias pelos discípulos deles.
Para nós, cristãos, a fraternidade é um imperativo moral profundo, que vem do reconhecimento do próximo como alguém que possui dignidade igual à nossa. Não cabem pretensões de superioridade ou desprezo. E a função que cada um exerce no corpo social deve ser vista como encargo para o serviço e a responsabilidade pelos outros: “O maior entre vós deve ser aquele que vos serve” (Mt 23,11). E temos um motivo de fé, muito importante, para viver a fraternidade para com todos: somos filhos e filhas de Deus, que ama a todos e não fica feliz e honrado quando os filhos, entre si, vivem brigando ou se desprezam e fazem violência.
Faço votos que, ao longo desta Quaresma, possamos todos baixar o calor das tensões e agressividades e crescer em gestos de verdadeira fraternidade, como convém a pessoas humanas dignas e a filhos amados de Deus.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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