Por Dirceu Antonio Ruaro*
No texto da semana passada, tentei trazer à discussão uma possível distinção entre “amor incondicional” e “proteção incondicional” aos filhos.
Pois bem, é provável que eu não tenha deixado isso tão claro quanto o necessário, até porque, leitores me solicitaram que esclarecesse melhor.
Então, como pai e educador, penso que o amor de pai e mãe é incondicional, ou seja, não pode haver qualquer tipo de condição: ama-se o filho por ele mesmo, por ser o que é, do jeito que é, por ser seu filho e pronto, sem mais considerações. Se é seu filho, é seu amor incondicional.
Ah, mas não nasceu do jeito que “sonhei”.
Mas, nasceu? É seu? É fruto de seu amor, de sua vida? Então precisa de seu amor incondicional.
Idealizar um filho não é errado e nem pecado. Errado, e pecado, é não amar o filho que não nasceu de acordo com a sua idealização.
Estou querendo dizer que ninguém é perfeito seja física ou psicologicamente falando. Todos nós temos um “defeitinho” ou outro, que pode ser de “fabricação” ou mesmo adquirido no trajeto da vida.
Isso não tem a menor importância. Tem importância o “ser”. A pessoa humana que cada um é e arrisco mesmo dizer, a pessoa humana que você pai/mãe ajuda seu filho (a) a se tornar.
Ninguém nasce perfeito. Ninguém nasce bom ou mau. As pessoas aprendem a ser boas ou más. A convivência, a família, os contextos de vivência tornam as pessoas o que são. E aí reside a grande responsabilidade dos pais.
Fisicamente falando é até mais fácil dizer que ama incondicionalmente o filho. Mas, quando as questões não são físicas, são de outra ordem, como fica a incondicionalidade?
É aí que os pais precisam entender que não se pode dizer “eu te amo” ou “eu te aceito”, “apesar de…”
Sei que a vida familiar e social mudou, que para muitos pais, a sociedade está de cabeça para baixo, mas será que não foi sempre assim? Será que às escondidas, a sociedade não agia dessa maneira mesmo? Será que nestes tempos a comunicação e a informação não se encarregaram de “desvelar” e “revelar” muita coisa que sempre existiu e que é a prática social, assim mesmo?
Então, amar o (a) filho (a) de forma incondicional exige a compreensão de que ele (a) é o ser humano imperfeito, fruto de outro ser humano imperfeito que busca a perfeição.
Por outro lado, essa busca da perfeição é que faz com que os pais procurem corrigir as questões de caráter, de moral, de princípios que julgam ser necessários e adotam para sua vida familiar e social.
E é nesse sentindo que não podem admitir tudo em nome da “incondicionalidade do amor”. Em nome da “proteção” que precisam dar aos filhos.
É preciso que os pais, desde cedo ensinem aos filhos a tomar decisões, a se responsabilizar por pequenos atos de escolhas, a assumir pequenas consequências dessas escolhas, a entender que escolhas trazem consequências e sem “proteção demasiada” deixar que eles aprendam pelas consequências (queria dizer sofram as pequenas consequências, mas fico com medo que, principalmente as mães fiquem bravas comigo), mas sim, eles precisam aprender que escolhas trazem consequências e nem sempre prazerosas.
E isso é bom para eles aprenderem que na vida, terão sempre que fazer escolhas e que essas escolhas, trarão consequências.
Ensinar isso demonstrando que os ama não é fácil porque a cabeça do filho funciona assim: “se meu pai/mãe me ama, me protege”, entendem?
E, fazê-los passar ou viver uma consequência é sempre doloroso para eles (muitas vezes para os pais também) mas extremamente importante se quisermos ensinar a andar com as próprias pernas e terem responsabilidades no futuro.
E, falando em escolhas, como é difícil para nós, pais, aceitar algumas escolhas dos filhos. Aí que se prova se o amor é incondicional mesmo. Ou seja, preciso respeitar as escolhas deles, agora sim, apesar de, muitas vezes, não concordar com elas, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
*Dirceu Antonio Ruaro
Doutor em Educação pela UNICAMP
Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER
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