Não é sem preocupação que acompanhamos notícias de guerras e de ações terroristas, em várias partes do mundo. Enquanto pessoas discutem, nas redes sociais, se o nazismo era de direita ou de esquerda, milhares de pessoas são mortas, vítimas de crimes de ódio. O terror tem muitas faces e todas são cruéis: desnudam o ódio que desumaniza, que embrutece e que diminui. De homens-bomba a ataques agressivos na internet, caminhamos a passos largos rumo à descaracterização de nossa humanidade.
Se perdemos a capacidade de um mínimo de empatia pelo outro, não temos nem a nós mesmos, pois só somos humanos pelas relações que estabelecemos. É no encontro com o rosto do outro que temos a possibilidade de descobrir o melhor de nós. Esse é um caminho de saída de nós mesmos, para que nos encontremos verdadeiramente. Para isso, é fundamental que sejamos interpelados pelo rosto do outro, reconhecendo que a diferença nos engrandece.
O caminho do respeito às diferenças é tarefa urgente. Esse caminho só é alcançado num processo de educação permanente: a humanização só se alcança por meio da educação, possível na convivência entre a multiplicidade de discursos, de olhares, de crenças. Não absolutizar a própria compreensão da verdade é não ceder espaço e oportunidade às manifestações do terror. A absolutização de nossas verdades é a trilha mais rápida e fácil para o ódio e o terror. É preciso, pois, nutrir a capacidade do diálogo, que pressupõe respeito e reconhecimento da legitimidade do outro, em suas próprias compreensões, elaborações e crenças, ainda que sejam discordes das nossas. Esse caminho de respeito e reconhecimento é aprendido, faz parte da educação para o ser pessoa, humanizada pelas relações. Educar para a paz é tarefa que necessita do engajamento de todos e todas, de simples gestos a grandes mobilizações. Essa paz gera solidariedade, fraternidade e bem-viver para todos, não apenas para os iguais de uma mesma raça, de um mesmo credo, de uma mesma orientação sexual e de gênero.
As religiões são instituições privilegiadas para a promoção de uma cultura de paz e de respeito. Se elas falham nessa missão, falhamos todos e todas, pois são formadas por pessoas concretas, vivendo numa história marcada pela pluralidade de narrativas, de compreensões e de sentidos. Em meio a essa pluralidade, verdadeira riqueza que humaniza e que dignifica a vida, é preciso a unidade em prol dos valores fundamentais que tornam possível a vida. É para o serviço da vida que as religiões existem.
Infelizmente, agentes religiosos das mais variadas tradições são incentivadores do ódio e da intolerância. O terror nascido da fé é um dos mais devastadores, porque encobre a beleza e a bondade do mistério transcendente que dá sentido às religiosidades todas, embaçando a razão pela qual homens e mulheres de todos os tempos acorrem a esse mistério, no desejo de serem mais, isto é, de se realizarem como pessoas.
Para cada gesto de ódio, intolerância e desrespeito, é preciso um sinal de paz. Não a paz que silencia os justos, fazendo-os coniventes com o mal que devasta a vida. Mas a paz que faz com que rompamos com toda e qualquer expressão do ódio. Não podemos reconhecer como exercício de liberdade, práticas que destruam a dignidade da vida.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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