A companhia se prepara para abrir, nos próximos dias, um novo capítulo da sua história, com uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para levantar cerca de R$ 2 bilhões. Nesse processo, o grupo se apresentou com mais profundidade ao mercado e exibiu dados operacionais que foram bem avaliados, mas também riscos que chamam a atenção.
A empresa pretende destinar pouco mais de 40% dos recursos para reforço de caixa, ou R$ 792 milhões, considerando o preço médio da faixa indicativa, de R$ 11,90 por ação. Outros 15% serão reservados para potenciais aquisições. Já o restante será usado para o pagamento de dívidas (R$ 870 milhões).
Os créditos que poderão ser liquidados ou amortizados com os novos recursos foram levantados para capital de giro. Quase metade do volume envolve cifras tomadas com os bancos coordenadores da oferta – a maioria contratada nos últimos nove meses, segundo o prospecto da operação.
Para Miguel Felipe Costa Vieira, gerente associado líder de M&A da Peers Consulting, o uso dos recursos do IPO para liquidar créditos recentes é um ponto de atenção. Mas ele destaca como positivo o fato de o endividamento no período ter sido acompanhado de um aumento consistente na receita.
Tributos
O resultado da companhia traz outro ponto de alerta. Segundo a empresa, os benefícios fiscais representaram pouco mais da metade do lucro líquido em 2020. Ao citar o tema como fator de risco, a empresa diz que a parcela dos incentivos no lucro, que chegou a R$ 253 milhões em 2020, não pode ser distribuída como dividendo.
A questão tributária é recorrente nos documentos, com mais de 40 citações ao longo das quase 700 páginas do prospecto. Entre elas, os processos judiciais referentes ao tema, a maioria do total dos R$ 143 milhões em ações consideradas como perda provável, provisionadas, e dos R$ 428 milhões avaliados como perdas possíveis, sem reservas. As contingências tributárias foram consideradas como “significativas”, numa nota de auditores no balanço de 2020.
Um profissional de uma grande gestora afirma que a viabilidade do IPO não está ameaçada. Segundo ele, porém, alguns demandam ajustes de preço, como o de benefícios fiscais e processos tributários. “São fatores de risco. O crescimento da Multilaser é muito expressivo. Se não fosse isso (os riscos), o IPO estaria vindo a múltiplos super altos”, afirma o gestor, que pediu para não ser identificado.
Procurada, a Multilaser afirmou que não vai comentar porque está em período de silêncio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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